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Palavra do Pastor
Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo Metropolitano de Brasília
III Domingo do Tempo Comum
Jesus e a
Escritura de Israel
A palavra de Deus, deste terceiro Domingo do Tempo Comum, coloca diante de
nós, a centralidade da Palavra de Deus. Na primeira leitura, a Lei é lida
diante do povo e este renova a sua aliança com Deus (Ne 8, 2-4. 5-6. 8-10). No
Evangelho, tem- se a introdução do Evangelho de São Lucas (Lc 1, 1-4), onde o
evangelista mostra que o Evangelho nasce da pesquisa, da averiguação dos fatos.
A idéia de iniciar a sua obra com um prólogo é sugestiva. O autor quer colocar
o seu escrito no mesmo nível dos outros escritos literários da época e mostrar
que o seu conteúdo não é reservado a um pequeno grupo de iniciados, mas possui
um valor universal: a história de Jesus pertence à história do mundo e tem algo
a dizer aos homens do mundo greco–romano (G. Rossé, Il vangelo di Luca,
33). O Evangelho nasce de fatos históricos, da verdade sobre Jesus
Cristo.
Na segunda parte, tem-se Jesus na sinagoga de Nazaré (Lc 4, 14-21). Nazaré
é sua terra natal, lugar onde todos o conhecem, o viram crescer, tem relação
com a sua família. A sinagoga é o lugar da leitura da Palavra de Deus. Os
Judeus se reuniam na sinagoga todos os sábados para ouvirem a leitura da
Palavra. A sinagoga era casa da Palavra. Em tantos outros momentos encontramos
Jesus na sinagoga. O texto salienta: “segundo o seu costume”. Em Nazaré, Jesus
desde a sua Juventude tinha freqüentado regularmente o serviço litúrgico
sinagogal todos os sábados e dias festivos. Jesus tinha uma grande
familiaridade com as Escrituras do seu Povo. Jesus conhece as Escrituras, as
cita, as manda colocar em prática. “Segundo o seu costume” coloca em luz a
fidelidade de Jesus a religião do seu povo, nos mostra que a fé cristã não
nasceu de um aventureiro, mas de um representante do autêntico Israel, no qual
o fruto chegou à maturidade.
Esta familiaridade de Jesus com as Escrituras de Israel, deve inspirar o
nosso caminho de discípulos missionários hoje. É fundamental este contato
diário com a Palavra de Deus. A Constituição sobre a Revelação do Vat.
II, Dei Verbum, n. 25 nos alerta: “… é necessário que nos
consagremos ao ministério da Palavra, nos apegarmos às Escrituras por meio de
assídua leitura sacra e diligente estudo, para que não venha a ser “vão
pregador da Palavra de Deus externamente quem não a escuta interiormente”. A
Escritura é Deus presente que me interpela. Escutando a sua Palavra “é como se
víssemos a sua própria boca” (São Gregório Magno). “A Escritura é a mesa de
Cristo… a qual nos alimentamos, compreendemos aquilo que devemos amar, desejar
e em que ter os olhos fixos” (Alcuino). Não existe verdadeiro discipulado de
Jesus sem um verdadeiro e autêntico contato com a Palavra de Deus.
Na sinagoga de Nazaré, Jesus proclama o profeta Isaias: “O Espírito do
Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com uma unção para anunciar a
Boa Nova aos pobres; para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a
recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da
graça do Senhor”. Jesus é o grande Evangelizador, O Pai o Ungiu com o Espírito
Santo e o enviou para Evangelizar, para proclamar a Boa Nova. Todos os membros
da Igreja participam, a seu modo, na missão evangelizadora de Cristo. Daqui
nasce a co-responsabilidade de cada batizado em assumir a ação Evangelizadora,
o anúncio e o testemunho de Jesus Cristo.
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