justiça | elielbatista |
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
A liturgia
dominical, conduzida pelos textos bíblicos – 1 Samuel 26, 2-23, salmo 103, 1
Coríntios 15,45-49 e Lucas 6,27-38 – são um longo e ininterrupto canto de
justiça, amor e de perdão que se orienta em direção da fronteira mais difícil
de superar, aquela de amar os inimigos. O salmista canta que Deus “não nos
trata como exigem nossas faltas, nem nos pune em proporção às nossas culpas”.
O evangelho
propõe dois centros sobre os quais gira o ensinamento de Jesus. O primeiro
ensina: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a
eles”. É um princípio ético comum e racional. É o princípio da Lei Natural de
fazer o bem e de evitar o mal. Os direitos sobre os outros são transformados em
deveres sobre os outros. Todos são sensíveis aos próprios direitos, mas a
sensibilidade aos deveres nem sempre é proporcional. É uma mudança grande. É a
passagem do egoísmo ao amor.
Jesus estende
este princípio ao limite humano, até aos inimigos. “Amai os vossos inimigos e
fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por
aqueles que vos caluniam”. Por que Jesus propõe um amor que excede as
capacidades humanas? Jesus sabe que o ser humano é capaz de grandes ideais e
por isso propõe algo grande. A proposta de Jesus também é realista, pois
considera que no mundo existe demasiada violência, demasiado cultivo do ódio,
de desejo de vingança, de calúnias. É uma proposta clara de não-violência, de
não se entregar ao mal; mas de responder ao mal com o bem, quebrando dessa
forma a corrente da violência, das agressões e das maledicências.
O segundo
centro apresenta outra medida que somente é compreensível para os discípulos de
Jesus. “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso”. O
modelo agora é infinito, é o amor de Deus. “Eu vos dou um novo mandamento: que
vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos
uns aos outros” (João 13,34). Não é mais o homem que é a medida das ações.
Mesmo o ser humano mais correto e ético vacila diante dos inimigos e de quem
lhe faz o mal. O parâmetro agora passa a ser o amor misericordioso que supera a
justiça.
Agora, o
fundamento da ética cristã é “ser como Deus”. São as palavras e atitudes de
Jesus que se tornaram a medida, a referência e o princípio máximo. Nesta proposta
de amar, fazer o bem, abençoar e rezar está inclusa a parte humana, isto é, “o
que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles”. Mas, nem
todas as situações humanas são possíveis de resolver com este critério, por
isso Jesus propôs: “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é
misericordioso”.
Jesus cita dois
exemplos onde a medida humana e divina é bem distinta: “Não julgueis e não
sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai, e sereis
perdoados”. É possível um julgamento realmente justo? O justo é o suficiente
num julgamento? São questionamentos passíveis de serem feitos. A título de
exemplo, podemos citar o Sistema Judiciário com milhões de processos em
andamento; inúmeras sentenças com recursos pois se considerou que o julgamento
não foi correto. O alerta de Jesus é valido, pois os humanos com frequência
julgam pelas aparências. Outra atitude divina é o perdão. É uma expressão de
amor. A perdão supera a justiça, não porque aceita a injustiça, mas porque é preciso
ligar novamente os que foram divididos pela injustiça.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário