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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O que Santo Agostinho pensava sobre as guerras

Santo Agostinho | Public domain
Por Ricardo Sanches

Santo Agostinho foi o percursor do conceito de "guerra justa". Mas, do ponto de vista racional e espiritual, o que faz um conflito ser "justificável"?

Santo Agostinho de Hipona foi um dos primeiros e grandes teólogos do Cristianismo. Em sua Suma Teológica, ele se dedicou a discutir filosoficamente os assuntos que davam um nó na cabeça dos cristãos. A guerra estava entre esses temas.

A ideia deste Doutor da Igreja era tentar entender por que “esse vício oposto à caridade” acontecia com tanta frequência.

No artigo “A guerra a partir dos olhos de Santo Tomás de Aquino”, Fernando Vasconcellos Sperle Musso Santos explica:

“O que move Agostinho para tentar definir a guerra é um impasse que ele tem com a própria fé, que proíbe assassinatos e prega a paz entre os povos, mas que está sofrendo ataques de inimigos externos”.

Santo Agostinho e o conceito da “guerra justa”

Dos pensamentos de Santo Agostinho surgiram o conceito de “guerra justa”, que também encontra bases em outros filósofos.

De forma resumida, Agostinho considerava duas questões acerca da guerra:

  1. Quando é permitido travar uma guerra? (o direito da guerra)
  2. Quais são os limites na maneira de travar uma guerra? (os direitos na guerra)

Agostinho, à sua época, via a guerra como um trágica necessidade entre os povos, mas nem todas eram justificadas moralmente.

Para ele, existiam três regras para que, esgotadas todas as possibilidades de paz, uma guerra fosse iniciada:

– a autoridade. Diz Agostinho: “A ordem natural, que é dirigida para a paz das coisas morais, requer que a autoridade e a deliberação para realizar uma guerra estejam sob o controle de um líder”;

– a causa justa. Este Doutor da Igreja abominava como motivos da guerra “o desejo de causar dano, a crueldade da vingança, uma mente implacável e insaciável, a selvageria da revolta e o orgulho da dominação”;

– a intenção correta. Agostinho escreveu: “uma intenção encaminha a promover o bem ou a evitar o mal. […]. Pode, entretanto, acontecer que, sendo legitima a autoridade de quem declara a guerra e também justa a causa, resulte, sem problemas, ilícita por causa da má intencionalidade.”

O legado de Santo Agostinho

Por seus embasamentos racionais e espirituais, os argumentos agostinianos acerca dos conflitos embasaram pensamentos de futuros teólogos e até de papas. O próprio Catecismo da Igreja Católica aborda o tema. O texto diz que as guerras só serão justas se:

-o prejuízo causado pelo agressor à nação ou comunidade de nações seja duradouro, grave e certo;

– que todos os outros meios de lhe pôr fim se tenham revelado impraticáveis ou ineficazes;

– que estejam reunidas condições sérias de êxito;

– que o emprego das armas não traga consigo males e desordens mais graves do que o mal a eliminar.

Assim, as guerras modernas, como a da Ucrânia, por exemplo, não podem, pelas óticas de Santo Agostinho e do Catecismo, ser consideradas “justas”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF