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VI Domingo do Tempo Comum
Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília
A vida
bem-aventurada
Neste domingo, a Palavra de Deus nos traz as bem-aventuranças na versão do
Evangelho de São Lucas (Lc 6, 17. 20-26). No Evangelho de São Mateus, que
apresenta Jesus como o novo Moisés, Jesus sobe a montanha e proclama a nova
Lei. Em São Lucas, é o discurso da planície: “Jesus desceu da montanha com seus
discípulos e parou num lugar plano” (Lc 6, 17). O fato de Jesus descer da
montanha circundado pelos discípulos mostra que, de agora em diante, eles
estarão envolvidos no ensinamento de Jesus. Lá estão os outros discípulos e a
multidão. Aqui já há uma antecipação da futura comunidade cristã. Jesus,
erguendo os olhos para os discípulos, proclama as bem-aventuranças, que são
proclamações de forma positiva de bem-aventurados, felizes para categorias bem
concretas de pessoas: pobres, famintos, quem chora etc. Esta concretude mostra
que a felicidade do Reino não é uma realidade meramente espiritual, refugiada
no interior dos corações, mas ela é construída, neste mundo, mediante a
fidelidade a Jesus Cristo e a Seu Evangelho. Elas são descritas de forma
que o ouvinte de Jesus e os ouvintes de hoje se sintam interpelados:
“bem-aventurados vós…”
Jesus proclama que são bem-aventurados quando vos odiarem, vos expulsarem,
vos insultarem e vos amaldiçoarem por causa do Filho do Homem. Os primeiros
cristãos viveram essa realidade pela perseguição que sofreram por causa do nome
de Jesus Cristo. Ainda hoje, em várias partes do mundo, por falta do grande bem
da liberdade religiosa, há tanta gente que sofre e até perde a vida por causa
da fé em Jesus Cristo. O cristão que sofre por causa de Jesus Cristo, o mártir,
tem esta certeza: a de que Deus mesmo será a sua recompensa: “Alegrai-vos,
nesse dia, e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu”. Essa mesma
atitude, que os discípulos de Jesus experimentam e as gerações futuras até a
nossa vive, já se encontrava na tradição de Israel, na história dos profetas
que sofreram e até morreram na sua fidelidade a Deus.
Na segunda parte do Evangelho, estão os “ai”. Se makarios,
bem-aventurados, exprime a benção daqueles que esperam no Senhor, plen
ouai, traduzido por “ai”, exprime uma palavra de condenação, de reprovação.
A condenação, se percebermos bem, encontra-se exatamente no oposto às
bem-aventuranças: ricos, vós que tendes fartura, que agora rides, quando todos
vos elogiam. Não é a atitude em si que é condenada, mas quando esta atitude
expressa oposição ao Reino de Deus, aos valores do Evangelho. O próprio
Evangelho de Lucas descreve o encontro de Jesus com um rico: Zaqueu (Lc 19,
1-10). Neste encontro, o evangelista quer mostrar que um rico pode ser salvo.
O problema é quando se vive em oposição ao Reino, quando se ignora, na
vida cotidiana, Jesus Cristo e seu Evangelho. Essa atitude de falsidade diante
de Jesus Cristo e seu Evangelho já se encontrava, na tradição de Israel,
expressa pela vivência dos falsos profetas com relação a Deus: viveram da
falsidade. Só que com Deus não se brinca. Deus aceita nossas limitações, nossas
incapacidades de responder ao Seu projeto de amor, mas não nosso deboche ou
nossa indiferença.
Que escutar as bem-aventuranças e refletir sobre elas nos ajudem a crescer
no caminho de discipulado e do comprometimento com Jesus Cristo e seu
Evangelho.
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