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domingo, 27 de março de 2022

Nazaré: Basílica da Anunciação

Crédito: Mundo Vasto Mundo

Há dois mil anos, Nazaré era uma aldeia desconhecida para a maioria dos habitantes do mundo. Naquela aldeia, estava a criatura mais extraordinária que existiu.

https://youtu.be/m7sN1OPXJnY

Há dois mil anos, enquanto Roma brilhava no seu esplendor, havia muitas outras cidades nas margens do Mediterrâneo que, embora longe de possuírem a importância da capital do Império, gozavam de prosperidade e em alguns casos tinham sido protagonistas de gloriosas páginas da história: Atenas, Corinto, Éfeso, Siracusa, Alexandria, Cartago... e na antiga Palestina, a venerável cidade santa de Jerusalém e as florescentes Cesareia e Jericó.

Ao contrário destas cidades, Nazaré era uma aldeia desconhecida para a maioria dos habitantes do mundo: um punhado de casas pobres, parcialmente escavadas na rocha, aglomeradas nas encostas de alguns promontórios da Baixa Galileia. Mesmo na área reduzida da região, Nazaré não era muito importante. Em duas horas a pé se chegava a Séforis, onde se concentrava quase toda a atividade comercial da zona; este local edifícios bem construídos, e seus habitantes falavam grego e estavam em contato com o mundo intelectual greco-latino. Em Nazaré, por outro lado, viviam poucas famílias, que só falavam aramaico. Os seus habitantes eram cerca de uma centena. A maioria deles se dedicava à agricultura e à criação de gado, mas não faltaram alguns artesãos como José, que com a sua engenhosidade e esforço prestava bons serviços fazendo trabalhos de carpintaria ou ferraria.

Naquela aldeia, num canto perdido da terra, onde ninguém que estivesse planejando um grande empreendimento humano teria ido procurar alguém para o levar a cabo, estava a criatura mais extraordinária que existiu, levando uma vida absolutamente normal e simples, cheia de naturalidade[1].

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Ave Maria

Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi. A virgem se chamava Maria[2]. São Lucas apresenta com simplicidade o grande momento em que começou a nossa redenção. Sabemos muito bem como a história continua: o anúncio do Anjo, a perturbação de Maria, aquele diálogo impregnado de humildade e a resposta final de Nossa Senhora: Ecce ancilla Domini; fiat mihi secundum verbum tuum[3].

Segundo uma antiga tradição, recolhida por vários Padres da Igreja, no século II ainda moravam em Nazaré alguns parentes de Jesus, que conservavam o quarto onde a Santíssima Virgem recebeu o anúncio do Anjo e a outra casa onde a Sagrada Família morou mais tarde. Também se conservava a memória da fonte onde a nossa Mãe, como as outras mulheres daquela aldeia, ia buscar água. Há testemunhos escritos de peregrinos que visitaram Nazaré no século IV para ver aquela casa, e testemunharam que já naquela época era um lugar de culto cristão, onde havia um altar.

No século V, foi construída uma igreja de estilo bizantino, que estava em ruínas quando os Cruzados chegaram no final do século XI. O cavaleiro normando Tancredo, Príncipe da Galileia, mandou construir uma basílica sobre a gruta, mas o novo edifício foi demolido outra vez durante a invasão do Sultão Bibars, em 1263.

Em 1620, um emir autorizou os franciscanos a adquirir as ruínas da basílica e da gruta. Em 1730, os franciscanos obtiveram a autorização do Sultão otomano para construir uma nova igreja naquele local. A estrutura foi ampliada em 1877 e completamente demolida em 1955, para permitir a construção da atual basílica, que é o maior santuário cristão do Oriente Médio.

Antes de começar a construção da nova basílica, o Studium Biblicum Franciscanum realizou uma pesquisa arqueológica no local: encontraram um edifício dedicado ao culto, com numerosos grafites cristãos. Entre eles, destaca-se uma inscrição em grego: XE MAPIA (Ave Maria); e outra na qual se menciona “o lugar santo do M”. Tanto o edifício primitivo como o grafite são anteriores ao século III, e muito provavelmente corresponderiam ao final do século I ou início do II.

Estas descobertas foram completadas posteriormente com estudos realizados na Casa Santa de Loreto, entre 1962 e 1965, que mostraram que as proporções da casa encaixavam com as que eventualmente teriam um edifício anexo à gruta de Nazaré, e que os grafites encontrados nas paredes da Casa que se conservam em Loreto são do mesmo estilo e correspondem ao mesmo período que os encontrados em Nazaré. Estes dados, somados aos fornecidos por fontes escritas e outros restos arqueológicos, explicam porque é perfeitamente compatível que, tanto na basílica de Nazaré como no santuário do Loreto, os peregrinos possam contemplar o lugar físico onde ocorreu a Encarnação do Verbo, considerando com emoção e agradecimento: Hic Verbum caro factum est.

As pesquisas arqueológicas realizadas em Nazaré no século XX confirmaram que havia culto cristão
ao redor da Gruta da Anunciação desde os primeiros séculos. Além disso, descobriram os restos de
três igrejas (visíveis na cripta da atual basílica) que foram construídas antes da deslocação
da Casa Santa de Loreto para a Itália.

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As pesquisas arqueológicas realizadas em Nazaré no século XX confirmaram que havia culto cristão ao redor da Gruta da Anunciação desde os primeiros séculos. Além disso, descobriram os restos de três igrejas (visíveis na cripta da atual basílica) que foram construídas antes da deslocação da Casa Santa de Loreto para a Itália.

"Deus Pai me receberá"

Era natural que esta emoção interior, contida, mas ao mesmo tempo impossível de esconder completamente, se apoderasse do Bem-Aventurado Álvaro del Portillo em 15 de março de 1994, quando foi rezar e celebrar a Santa Missa na Basílica da Anunciação em Nazaré. Mons. Javier Echevarría recordava, alguns dias depois, que Dom Álvaro estava muito contente por ter esta oportunidade de “contemplar muito de perto os lugares onde Cristo esteve, onde viveu Cristo, o seu grande amor”[4] .

Em Nazaré, o Bem-Aventurado Álvaro foi primeiro rezar numa igreja onde se conserva um poço cuja antiguidade parece remontar aos tempos da vida terrena de Maria. Aí voltou a considerar uma ideia que muitas vezes levava à sua oração: como Nossa Senhora, “sendo a criatura mais excelente, com todas as perfeições sobrenaturais que se podem imaginar, tinha de cumprir todos os detalhes que lhe correspondiam como esposa e mãe de família. Obrigações comuns, que dizem respeito a pessoas comuns como nós – que ela faria com verdadeira delicadeza, com verdadeiro carinho, pensando que, com o que parecia muito vulgar, ela estava honrando a Deus e ajudando as pessoas que dependiam do seu trabalho e do seu serviço”[5].

Depois, foram à igreja de São José, onde é venerada a casa onde a Sagrada Família viveu durante a vida oculta de Jesus. Ali, o Bem-Aventurado Álvaro “recordou os ensinamentos do nosso Fundador sobre São José. O nosso Padre chamava-o de “um grande senhor”, porque soube cumprir a sua missão com verdadeira distinção, com verdadeiro entusiasmo, embora não faltassem dificuldades ou dores; não teve dúvidas, mas deve ter tido inquietações, ao ver tão de perto mistérios que ele não compreendia”[6].

De lá, foram para a Basílica da Anunciação, e o Bem-Aventurado Álvaro ficou emocionado ao ler a inscrição debaixo do altar: Verbum caro hic factum est. Dom Javier Echevarría recordava que, diante daquelas palavras, “renovaram-se os desejos e os amores que o nosso Padre tinha em 15 de Agosto de 1951, quando foi consagrar a Obra ao Coração Dulcíssimo de Maria, na Santa Casa de Loreto, que a tradição chama de casa de Nossa Senhora”. Ali, em cima do altar, está escrito: Hic Verbum caro factum est”.

Dom Álvaro celebrou a Missa na gruta da Anunciação
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Naquele momento, a basílica estava fechada ao público e, como sempre, o Bem-aventurado Álvaro pôde celebrar o Santo Sacrifício de uma maneira muito recolhida. Em sua homilia, ele falou do sentido cristão do sofrimento. Estava presente um fiel supernumerário da Obra que tinha sido diagnosticado pelos médicos com um câncer com um prognóstico muito ruim, e que faleceu pouco tempo depois:

Sempre e em todos os momentos é um grande privilégio celebrar ou assistir à Santa Missa. Mas Nosso Senhor é tão bom que quis deixar estas recordações da sua passagem pela terra, da sua vinda ao mundo. Aqui parece mais fácil falar com Deus, considerar com alegria o Amor que o Senhor tem por nós, e é um privilégio especial celebrar a Santa Missa.

Nesta gruta, lá em baixo, onde está o sinal, o Verbo se fez carne. O Deus Todo-Poderoso, infinitamente grande, assume a carne humana. Onde? Numa casa cheia de pobreza. E onde ele nasceu também? Em outra gruta, que agora, com o passar dos anos, está muitos metros abaixo do solo. O Senhor esteve ali. Foi aí que o Senhor nasceu. Para quê? Para nos dar vida. Ele se tornou mortal, vivendo dessa maneira – e depois, morrendo como morreu – para que pudéssemos viver.

O Senhor permite que passemos por dores, sofrimentos e tristezas. Mas são carícias que nos aproximam mais d'Ele. Hoje, ao contemplar aquela cena maravilhosa narrada pelos Evangelistas, penso mais facilmente que quando o Senhor nos permite sofrer, depois nos transmite mais o seu Amor, para nos parecermos mais com Ele.

Nós, sacerdotes e leigos do Opus Dei, estamos aqui reunidos para assistir ao Santo Sacrifício da Missa e dizemos-lhe: Senhor, obrigado por ser tão bom! Obrigado por dignar-se vir ao mundo, assumindo a carne daquela donzela maravilhosa que era a Virgem Maria! Para que nós fôssemos santos, para aprendermos a lutar e para sabermos dizer: Quero o que quereis, quero porque o quereis, quero como o quereis, quero enquanto o queirais.

Meus filhos: vamos pedir por toda a Obra. Eu também me uno às intenções particulares de cada um de vocês.

O Senhor é muito bom. O Senhor nos conduz por caminhos que não podemos compreender; mas tudo o que Ele nos envia ou permite que nos aconteça é sempre para o nosso bem e para o bem das pessoas que nos amam e que nós amamos.

Eu peço, como é natural, em primeiro lugar, pela Obra, por todos os membros do Opus Dei espalhados pelo mundo. Pelo muitos que sofrem; pelos muitos que têm lutas interiores e precisam da ajuda de nosso Senhor. Podemos ajudá-los, recorrendo a Nosso Senhor através da Santíssima Virgem Maria. Jesus não pode negar nada à sua mãe. Como Ele, que é o melhor filho, pode dizer não a Maria, a melhor das mães? Nosso Senhor ouve a Maria que também é nossa Mãe porque Jesus Cristo a deixou para nós como herança antes de morrer. Maria é nossa Mãe e nos ouve o tempo todo.

Estejam sempre cheios de alegria, cheios de paz, porque temos um Deus no Céu que é capaz de fazer maravilhas e uma Mãe no Céu que recebeu todo o amor que uma Mãe pode ter.

Vamos rezar em primeiro lugar pelo Santo Padre e pela Igreja universal, pela Igreja Católica. Especialmente pelo Papa, que necessita muito de orações. Ele tem muitos inimigos, mas o Senhor lhe dá paz e alegria abundantes. Ele não pensa nisso: pensa na falta do amor de Deus. Meus filhos: falta amor de Deus no mundo!

É a hora de nos examinarmos também, para ver se estamos amando a Deus como devemos. Vamos ver se podemos dar algo mais ao Senhor, que tem o direito de pedi-lo e que nos pede agora, enquanto nos oferece a graça para corresponder. É fácil assim! E quando o momento chegar, poderemos dizer ao nosso Senhor: Senhor, eu fiz tudo o que estava ao meu alcance, tudo o que pude. E quando chegar o momento, Você me receberá, como recebeu o filho pródigo daquele bom pai.

Que não sejamos filhos pródigos; que sejamos fiéis, sempre, até a morte, que virá quando Deus quiser. Que Deus abençoe a vocês.

Vamos rezar uma Ave-Maria a Nossa Senhora”[7].

Sempre fiéis

Oito dias depois, nosso Senhor quis levar consigo o Bem-Aventurado Álvaro, que até o último suspiro manteve aquela paz inefável que quem vive completamente nas mãos de Deus possui. A Missa pela sua alma foi celebrada na basílica romana de Santo Eugênio, no dia 25 de Março, solenidade da Encarnação do Senhor: “Como recordávamos – escrevia-se em Crónica – a renovação do Sacrifício do Altar que o Padre fez na Basílica da Anunciação, em Nazaré, apenas dez dias antes”. Também estavam vivas em todos as palavras que o Bem-Aventurado Álvaro proferiu no final da sua homilia: “Sejamos fiéis, sempre, até à morte, que virá quando Deus quiser”. Como eco desse conselho, na frente do Sacrário que os fiéis da Obra deram ao Prelado em 2007, por ocasião do seu 75º aniversário, e que se destinava à casa de retiros Saxum, foi colocada a inscrição: Semper fidelis, que resume a vida do Bem-Aventurado Álvaro e dá o tom que devemos ter em nossa vida em todos os momentos.


[1] Inspirado na pregação do padre Francisco Varo Pineda, em parte recolhida no seu blog: Un día en la vida de la Virgen María (Primeros Cristianos); Retiro, pro manuscrito.

[2] Lc 1, 26-27.

[3] Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38).

[4] Javier Echevarría, Palavras publicadas en Crónica, 1994, p. 279 (AGP, biblioteca, P01).

[5] Ibid.

[6] Ibid., p. 282.

[7] Álvaro del Portillo, Homilia, 15/03/1994, publicada en Crónica, 1994, pp. 283-285 (AGP, biblioteca, P01).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF