L'ossrvatore Romano |
«Com o coração dilacerado pelo que está a acontecer na Ucrânia... repito: que as armas se calem». Foi este o apelo urgente lançado pelo Papa Francisco no final do Angelus de 27 de fevereiro na praça de São Pedro. Sem esquecer «as guerras noutras partes do mundo, como no Iémen, na Síria e na Etiópia», o Pontífice renovou o convite a unir-se a ele no dia 2 de março, quarta-feira de Cinzas, para um dia de jejum e oração pela paz. Precedentemente, comentando como é habitual o Evangelho de domingo, ofereceu uma reflexão «sobre o nosso olhar e falar».
Prezados irmãos e irmãs
bom dia!
No Evangelho da Liturgia de hoje Jesus convida-nos a refletir sobre o nosso olhar e o nosso falar. O olhar e o falar.
Em primeiro lugar, sobre o nosso olhar. O risco que corremos, diz o Senhor, é concentrar-nos a olhar o argueiro no olho do irmão, sem nos darmos conta da trave no nosso (cf. Lc 6, 41). Em síntese, estar muito atentos aos defeitos dos outros, até aos pequenos como um argueiro, ignorando tranquilamente os nossos, dando-lhes pouca importância. É verdade o que Jesus diz: encontramos sempre motivos para dar a culpa aos outros e para nos justificarmos a nós próprios. E muitas vezes queixamo-nos de coisas que não funcionam na sociedade, na Igreja, no mundo, sem antes nos questionarmos e sem nos comprometermos a mudar primeiro a nós mesmos. Cada mudança fecunda, positiva, deve começar por nós próprios. Caso contrário, não haverá mudança. Mas — explica Jesus — agindo assim, o nosso olhar é cego. E se formos cegos, não podemos pretender ser guias e mestres para os outros: com efeito, um cego não pode guiar outro cego (cf. v. 39).
Estimados irmãos e irmãs, o Senhor convida-nos a limpar o nosso olhar. Em primeiro lugar, pede-nos que olhemos para dentro de nós mesmos, para reconhecer as nossas misérias. Pois se não conseguirmos ver os nossos próprios defeitos, estaremos sempre prontos a aumentar os dos outros. Ao contrário, se reconhecermos os nossos erros e as nossas misérias, abrir-se-á para nós a porta da misericórdia. E depois de ter olhado para dentro de nós, Jesus convida-nos a olhar para os outros como Ele faz — eis o segredo: olhar para os outros como Ele faz — Ele que não vê primeiro o mal, mas o bem. Deus olha para nós assim: não vê em nós erros irremediáveis, mas sim filhos que cometem erros. Muda a ótica: não se concentra nos erros, mas nos filhos que cometem erros. Deus distingue sempre a pessoa dos seus erros. Salva sempre a pessoa! Acredita sempre na pessoa e está sempre pronto a perdoar os erros. Sabemos que Deus perdoa sempre. E convida-nos a fazer o mesmo: a não procurar o mal nos outros, mas o bem.
Depois do olhar, hoje Jesus convida-nos a refletir sobre o nosso falar. O Senhor explica que a boca «fala daquilo de que o coração está cheio» (v. 45). É verdade, do nosso modo de falar, vê-se imediatamente o que há no coração. As palavras que usamos falam da pessoa que somos. Mas às vezes prestamos pouca atenção às nossas palavras, usando-as de maneira superficial. Mas as palavras têm um peso: permitem-nos manifestar pensamentos e sentimentos, dar voz aos temores que temos e aos projetos que tencionamos realizar, abençoar Deus e os outros. Mas infelizmente, com a língua podemos também alimentar preconceitos, levantar barreiras, agredir e até destruir; com a língua podemos destruir os irmãos: a bisbilhotice fere e a calúnia pode ser mais afiada do que uma faca! Hoje, especialmente no mundo digital, as palavras voam; mas demasiadas delas veiculam raiva e agressividade, alimentam notícias falsas e aproveitam-se dos receios coletivos para propagar ideias distorcidas. Um diplomata, que foi Secretário-Geral das Nações Unidas e ganhou o prémio Nobel da Paz, disse que «abusar da palavra equivale a desprezar o ser humano» ( D. HAMMARSKJÖLD , Tracce di cammino, Magnano BI 1992, 131).
Então, perguntemo-nos que tipo de palavras usamos: palavras que manifestam atenção, respeito, compreensão, proximidade, compaixão, ou palavras que visam principalmente fazer-nos mostrar-nos melhores diante dos outros? E depois, falamos com mansidão ou poluímos o mundo propagando veneno: criticando, queixando-nos, alimentando a agressividade generalizada?
Que Nossa Senhora, Maria, cuja humildade Deus contemplou, a Virgem do silêncio a quem agora rezamos, nos ajude a purificar o nosso olhar e o nosso falar.
Após a recitação da prece mariana, o Papa reiterou o apelo a favor do povo ucraniano, depois recordou a beatificação em Granada do sacerdote Gaetano Giménez Martín e de quinze companheiros mártires durante a perseguição religiosa na Espanha, em 1936, e saudou os grupos presentes. Por fim, recordou o Dia das doenças raras, que será celebrado a 28 de fevereiro.
Queridos irmãos e irmãs!
Nestes dias, fomos abalados por algo trágico: a guerra. Muitas vezes rezamos para que não fosse empreendido este caminho. E não deixamos de rezar, aliás, suplicamos a Deus com mais intensidade. Por isso, renovo a todos o convite a fazer de 2 de março, Quarta-Feira de Cinzas, um dia de oração e jejum pela paz na Ucrânia. Um dia para estar perto dos sofrimentos do povo ucraniano, para nos sentirmos todos irmãos e implorar a Deus o fim a guerra.
Quem faz a guerra, quem provoca a guerra, esquece a humanidade. Não parte do povo, não olha para a vida concreta das pessoas, mas coloca acima de tudo os interesses de parte e de poder. Confia na lógica diabólica e perversa das armas, que é a mais distante da vontade de Deus. E distancia-se das pessoas comuns, que desejam a paz; e que em cada conflito são as verdadeiras vítimas, que pagam com a própria pele as loucuras da guerra. Penso nos idosos, em quantos nestas horas procuram refúgio, nas mães em fuga com os seus filhos... São irmãos e irmãs para quem é urgente abrir corredores humanitários e que devem ser acolhidos.
Com o coração dilacerado por quanto acontece na Ucrânia — e não esqueçamos as guerras noutras partes do mundo, como no Iémen, na Síria, na Etiópia... — repito: que as armas se calem! Deus está com os pacificadores, não com quem usa a violência. Pois quem ama a paz, como afirma a Constituição italiana, «repudia a guerra como instrumento de ofensa contra a liberdade de outros povos e como meio de resolução das disputas internacionais» (Art. 11).
Ontem em Granada, na Espanha, foram proclamados beatos o sacerdote Gaetano Giménez Martín e quinze companheiros mártires, mortos em odium fidei, no âmbito da perseguição religiosa dos anos trinta na Espanha. Que o testemunho destes heroicos discípulos de Cristo possa despertar em todos o desejo de servir o Evangelho com fidelidade e coragem. Um aplauso aos novos Beatos!
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos!
Saúdo em particular as niñas quinceñeras do Panamá; os jovens universitários da diocese do Porto; os fiéis de Mérida-Badajoz e Madrid, na Espanha; os de Paris e da Polónia; os grupos de Reggio Calabria, da Sicília e da Unidade Pastoral de Alta Langa; os crismandos de Urgnano e os jovens de Petosino, diocese de Bergamo.
Dirijo uma saudação especial a quantos vieram por ocasião do Dia das Doenças Raras, que se celebrará amanhã: encorajo as várias Associações de doentes e familiares, assim como os investigadores que trabalham neste campo. Estou próximo de vós! Saúdo os povos aqui presentes... vejo também numerosas bandeiras da Ucrânia! (em ucraniano): Louvado seja Jesus Cristo!
Bom domingo a todos! Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Bom almoço e até à vista!
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