A
Verdade e as “verdades”
Prof. Carlos
Ramalhete
Uma das mais básicas noções de Lógica é o chamado
Princípio da Não-Contradição. Ele pode ser expresso de maneira bastante
simples: se duas afirmações se contradizem (por exemplo, “A capital do Brasil é
Brasília” e “A capital do Brasil é Buenos Aires”), ou uma delas está certa e a
outra errada ou ambas estão erradas.
Deus, que é infinitamente perfeito, evidentemente
não pode entrar em contradição consigo mesmo. Assim sendo, a Verdade só pode
ser uma só, e tudo o que a contradiz é errado. Nosso Senhor Jesus Cristo disse
que Ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Do mesmo modo, a Sagrada
Escritura nos adverte que há apenas “Um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo”
(Ef 4,5). Nosso Senhor, antes de ser preso e crucificado, afirma que deu aos
Seus discípulos (os Apóstolos, a Igreja) a glória que o Pai Lhe deu para que
sejam um, como Cristo e o Pai são Um (Jo 17,22). Isto mostra que,
evidentemente, o princípio da não-contradição é válido ao tratarmos da Verdade.
O Senhor é único, a Verdade é única, o Caminho é único (Ele não disse que era
“uma verdade”, ou que era “as verdades”; não disse que era “um caminho”, ou que
era “os caminhos”); a Fé é única, o Batismo é único. A Igreja verdadeira é
também uma só.
Encontramos porém hoje em dia muitas pessoas que
negam este princípio básico da Lógica, ao menos no que se aplica ao
Cristianismo. Eles afirmam que a Igreja é composta invisivelmente da soma de
todos os que crêem em Jesus e O aceitam como Salvador. Há porém um problema
seriíssimo neste raciocínio:
Em que Jesus eles crêem? Cada grupo, cada
protestante que se afirma salvo crê em um “jesus” diferente. O “jesus” dos
batistas nega a eficácia do Batismo, que para ele é simbólico. O “jesus” dos
metodistas afirma que o Batismo é eficaz e faz da pessoa um filho de Deus. O
“jesus” dos adventistas preocupa-se quase que exclusivamente com a manutenção
do sábado dos judeus – sendo que guardar o domingo seria para este “jesus” a
marca da Besta – gastando ainda uma certa dose de energia para proibir fumar
cigarros, comer carne ou beber cafeína – ao passo que outros “jesuses” mandam
descansar no domingo, ou até em dia nenhum.
O “jesus” de uma conhecida modelo “disse a ela em
seu coração” que não haveria problema algum em apresentar um programa de venda
por telefone de produtos de sex-shop e posar nua para uma revista; dificilmente
seria esta o mesmo “jesus” da “Assembléia de Deus”, que exige saias abaixo do
joelho para as mulheres!
Esta multidão de “jesuses” faz com que seja
bastante fácil, na verdade, “aceitar Jesus”. Basta procurar uma seita que tenha
um “jesus” suficientemente parecido com o que a própria pessoa deseja e o
problema está resolvido. Uma conhecida figura política carioca queria viver com
uma pessoa que já era casada. O “jesus” de sua seita, entretanto, não permitia
segundas núpcias. Nada mais fácil: bastou passar a “congregar” em outra seita
cujo “jesus” permitia a legitimação do adultério e o “casamento” pôde ser
feito.
Para os protestantes da primeira seita, porém, esta
pessoa continua sendo uma “evangélica” em boa situação, pertencente à “Igreja
invisível” que reúne todos os que aceitam um “jesus” fabricado por encomenda em
seus corações! O fato dela ter escolhido reunir-se (“congregar-se”) com outras
pessoas cuja crença está em contradição com a crença da seita em que saiu não é
em absoluto motivo suficiente para ela deixar de ser “contada entre os eleitos”
por aqueles que ela deixou. O fato dela ter escolhido uma “verdade” que esta em
contradição com a “verdade” pregada pela seita de que saiu, na opinião deles, não
significa que ela não siga a (um) “jesus” e assim seja parte desta “Igreja
invisível” e autocontraditória.
Como isso pode ocorrer? Como o princípio de
não-contradição pode ser tão soberbamente ignorado? É simples: o orgulho humano
prefere criar um “jesus” a sua imagem e semelhança que aceitar Nosso Senhor
Jesus Cristo, cujas palavras são freqüentemente duras de ouvir (Jo 6,61). Esta
idolatria (não há outro nome para a adoração de uma criação humana) é
infelizmente a marca do protestantismo. Não há, para eles, uma só Fé, um só
Batismo, um só Caminho, uma só Verdade. Há apenas a união no ódio à Igreja
verdadeira e na negação de aceitar o Verdadeiro Cristo, substituído por uma
criação humana que por ter sido apelidada por seus criadores de “jesus” poderia,
acham eles, salvar.
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