Svyatoslav e outros sacerdotes rezam juntos à vala comum (Foto: Ronaldo Schemidt/AFP) |
"Pessoalmente, ontem tive a oportunidade de ir à
muito triste e fatídica cidade de Bucha. Bucha é uma ferida aberta no corpo da
Ucrânia. E lá, vendo os corpos mutilados e sem alma no fundo de uma vala comum
ainda aberta, rezamos por seu descanso eterno. E durante aquela oração, eu me
perguntei, perguntei a Deus: Oh Deus, o que significa amar a si mesmo e amar o
próximo...? ".
Louvado seja Nosso Senhor
Jesus Cristo!
Queridos irmãos e irmãs
em Cristo, hoje é 8 de abril de 2022 e nossa pátria, nossa Ucrânia está vivendo
o 44º dia desta terrível guerra... do ataque da Rússia à nossa pátria, à nossa
Ucrânia, ao nosso povo ucraniano.
E embora a Ucrânia esteja
sangrando, a Ucrânia ainda está de pé. A Ucrânia continua a lutar...
Esta guerra traz novas feridas
a cada dia, colhe novas ceifas mortais. Batalhas muito pesadas e sangrentas
estão sendo travadas no leste da Ucrânia: na região de Luhansk, no leste da
região de Kharkiv, na região de Donetsk. Também estão sendo travadas duras
batalhas próximo à heroica cidade mártir de Mariupol, assim como também no sul
do nossa pátria.
Cada vez mais, vemos que esta
guerra é realmente uma guerra de extermínio total. Vemos como nossos ocupantes,
tomando cidades e povoados, zombam e escarnecem cruelmente da população civil.
Além disso, de antemão tentam destruir as ferrovias, as estradas que poderiam
ter sido usadas para evacuar as pessoas de áreas perigosas.
Ontem soubemos que os
ocupantes apreenderam e confiscaram para suas necessidades a carga humanitária
que nossos voluntários estavam tentando entregar a essas pessoas, especialmente
na região de Kherson, pessoas que estão realmente à beira da fome.
Em meio a todos os horrores da
guerra, todo crente se pergunta: como viver como cristão em tais
circunstâncias?
Sabemos que o mandamento
central da vida cristã é o mandamento do Amor, Amor a Deus e Amor ao próximo.
Nestes dois mandamentos, diz Cristo, se baseiam toda a lei e todos os profetas.
O evangelista São João diz que: “Se alguém diz: «Eu amo a Deus» e odeia o seu
irmão, é mentiroso; pois quem não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a
Deus, a quem não vê”.
Pessoalmente, ontem tive a
oportunidade de ir à muito triste e fatídica cidade de Bucha. Bucha é uma
ferida aberta no corpo da Ucrânia. E lá, vendo os corpos mutilados e sem alma
no fundo de uma vala comum ainda aberta, rezamos por seu descanso eterno. E
durante aquela oração, eu me perguntei, perguntei a Deus: Oh Deus, o que
significa amar a si mesmo e amar o próximo...? E justamente, ao lado daquela
vala comum, olhando para as mãos de nossos irmãos e irmãs assassinados, percebi
uma coisa... uma coisa que foi muito importante para mim: amar o próximo
significa sentir nossa fraternidade com ele. Significa compreender que juntos
somos uma família humana, que pertencemos à mesma raça humana. E que ali,
naquela vala comum onde ele jaz, onde ela jaz, lá também eu posso estar.
Temos uma vocação comum, um
destino comum. Nós, como irmãos e irmãs em Cristo, pertencemos à mesma raça
humana. Amar o próximo é estar consciente e experimentar essa humanidade e,
portanto, manifestá-la. É por isso que Cristo diz: "Devemos amar o nosso
próximo como a nós mesmos". É por isso que todo cristão, não importa onde
viva no mundo, seja italiano, alemão ou australiano; vendo as atrocidades dos
ocupantes de Bucha, hoje ele diz: “Eu sou ucraniano”. Sentindo em nossa raça
humana essa unidade com essas vítimas inocentes, é que entendemos que o
ocupante está realizando essa guerra para que você e eu nos encontremos amanhã
naquela mesma vala comum.
Mas nós amamos a Deus, que é a
fonte da vida e não da morte. E pedimos ao nosso amoroso Deus que possamos
realmente sentir nossa unidade com nossos irmãos e irmãs. Que possamos até
aprender a amar nossos inimigos. E amar nosso inimigo é deter sua mão
assassina, tirar suas armas, não dar a ele a oportunidade de matar. Rezemos
para que nestas circunstâncias de ódio e guerra assassina saibamos amar a Deus
e ao próximo, e que possamos continuar a ser seres humanos.
Nós te pedimos: Ó
Senhor, dê o descanso eterno aos assassinados inocentemente, aos mortos em
diferentes partes da Ucrânia, àqueles cujas sepulturas ainda não foram
encontradas. Ó Deus, dai-nos força para amar. Para que, com o seu Amor, pelo
Amor do seu Espírito Santo, possamos vencer esta guerra. Oh Deus, pare o agressor,
pare essa guerra. Dê vida à sua cidade. Abençoe nosso exército ucraniano.
Abençoe nosso país.
Que a bênção do Senhor e sua
misericórdia desçam sobre vocês por sua divina graça e amor e permaneçam agora
e para todo o sempre, amém.
Louvado seja Jesus Cristo!
Svyatoslav +
Pai e Primaz da Igreja Greco-Católica Ucraniana
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