Dom Paulo Cezar | arqbrasilia |
V Domingo da Quaresma
Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília
A misericórdia e
a mísera
O evangelho deste quinto domingo da Quaresma nos apresenta o encontro entre
Jesus e a mulher adúltera (Jo 8, 1-11) que, nas palavras de Santo Agostinho, é
o encontro entre a misericórdia e a mísera. Estamos avançando no tempo da
Quaresma e estes domingos querem nos fazer experimentar o amor misericordioso
de Deus, aquele amor que vem do mais íntimo de Deus, do coração de Deus.
Experimentar o amor misericordioso do Deus que perdoa, restaura, dá vida nova é
fundamental na nossa vida cristã. Este amor transforma a existência como
transformou a vida desta mulher flagrada em adultério e que, segundo a Lei
mosaica, deveria ser apedrejada. O encontro com Jesus salvou a vida desta
mulher.
Papa Francisco assim comenta este texto: “Encontraram-se uma mulher e
Jesus: ela, adúltera e, segundo a Lei, julgada merecedora de apedrejamento; Ele
que, com a sua pregação e o dom total de Si mesmo que O levará à cruz,
reconduziu a lei mosaica ao seu intento originário genuíno. No centro, não
temos a lei e a justiça legal, mas o amor de Deus, que sabe ler no coração de
cada pessoa, incluindo o seu desejo mais oculto, e que deve ter a primazia de
tudo. Entretanto, nesta narração evangélica, não se encontram o pecado e o
juízo em abstrato, mas uma pecadora e o Salvador. Jesus fixou o olhar naquela
mulher e leu no seu coração: lá encontrou o desejo de ser compreendida,
perdoada e libertada. A miséria do pecado foi revestida pela misericórdia do
amor. Da parte de Jesus, nenhum juízo que não estivesse repassado de piedade e
compaixão pela condição da pecadora. A quem pretendia julgá-la e condená-la à
morte Jesus responde com um longo silêncio, cujo intuito é deixar emergir a voz
de Deus tanto na consciência da mulher como nas dos seus acusadores. Estes
deixam cair as pedras das mãos e vão-se embora um a um (cf. Jo 8,
9). E, depois daquele silêncio, Jesus diz: ‘Mulher, onde estão eles? Ninguém te
condenou? (…) Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a
pecar’ (8, 10.11). Desta forma, ajuda-a a olhar para o futuro com esperança,
pronta a recomeçar a sua vida; a partir de agora, se quiser, poderá ‘proceder
no amor’ (Ef 5, 2). Depois que se revestiu da misericórdia, embora
permaneça a condição de fraqueza por causa do pecado, tal condição é dominada
pelo amor que permite olhar mais além e viver de maneira diferente.’” (Papa
Francisco, Misericordia et Misera, 1)
A vida desta mulher renasce graças a uma palavra que não condena, mas que a
perdoa. Assim é Jesus. Ele é capaz de ir além. Os acusadores olhavam para a
atitude da mulher e faziam uma aplicação rigorosa da Lei. Para os fariseus, ela
era uma adúltera. Jesus olha a mulher. Não ignora o seu pecado, mas salva a
mulher: “Eu também não te condeno. Podes ir e de agora em diante não peques
mais”.
Que o encontro com este Evangelho nos ajude a termos atitudes que, a
exemplo de Jesus, dignificam e salvam as pessoas porque são expressão do Seu
amor misericordioso.
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