Dom Edson Tasquetto Damian com os índios Yanomami |
Entre os 10 novos santos que serão proclamados pelo Papa
em cerimônia neste domingo (15) na Praça São Pedro está o francês Charles de
Foucauld, que inspirou fraternidades no mundo inteiro. A sua família espiritual
do Brasil estará representada no Vaticano com a presença de muitos brasileiros.
Entre eles está dom Edson Damian, bispo da diocese de São Gabriel da Cachoeira
no Estado do Amazonas. Dom Edson conversou com a Rádio Vaticano – Vatican News.
Silvonei José – Raimundo Lima
– Vatican News
Dom Edson Damian, bispo de São
Gabriel da Cachoeira é filho espiritual de Charles de Foucauld, originário da
Fraternidade Sacerdotal que justamente se inspira nesta espiritualidade de
Foucauld. A canonização é um momento muito importante para a Igreja, já que a
mesma significa a apresentação ao mundo inteiro daquele novo Santo como modelo
a ser seguido. A partir deste domingo Charles de Foucauld e a sua devoção ganha
dimensão Universal.
Dom Edson falando à Rádio
Vaticano – Vatican News sobre o significado desta canonização para os membros
da Fraternidade Sacerdotal evidenciou que a mesma já era esperada há muito
tempo, porque não há dúvida que alguém que viveu com tanta radicalidade o
Evangelho, o amor apaixonado por Jesus, uma doação sem medida aos pobres,
merecia essa canonização.
Dom Edson destaca que “ela
chega em boa hora porque a nossa Igreja precisa cada vez mais voltar ao
Evangelho aquilo que dizia Charles de Foucauld, precisamos ler, reler
continuamente o Evangelho. Porque se nós não lermos o Evangelho, Jesus não vive
em nós. E daí botou também esse princípio que é um dos lemas dos
seguidores da Fraternidade Charles de Foucauld, gritar o Evangelho com a vida.
Hoje as pessoas escutam mais as testemunhas dos que os mestres; escutar os
mestres que são eles os primeiros a testemunhar e a viver, que acreditam. Então
Charles de Foucauld é muito atual porque hoje em dia muitas pessoas também se
afastam da Igreja ou das suas comunidades cristãs, porque não encontram mais um
entusiasmo por Jesus e também a vivência radical do Evangelho. É por isso que a
canonização de Charles de Foucauld é muito atual e é um grande presente para a
Igreja de todo mundo”.
Charles de Foucauld |
Charles de Foucauld é uma
figura extraordinária, uma história belíssima e a sua espiritualidade suscita
tanto interesse como o senhor acaba de descrever. Como que a Igreja No Brasil –
onde existem os movimentos dos seguidores desta espiritualidade - está
acompanhando e participando desta canonização?
"Nós somos em seis bispos
que pertencemos à Conferência Episcopal, há também mais de cem padres que
pertencem à Fraternidade Sacerdotal “Jesus Cáritas” inspirada em Charles de
Foucauld. E cresce a cada dia no Brasil também o interesse por esta forma de
espiritualidade que no fundo é muito simples, mas muito exigente também. Quando
eu fui nomeado para ser bispo de São Gabriel da Cachoeira, eu tive muita
dificuldade para aceitar porque ser bispo é muito difícil, mas o que me fez
aceitar foi, primeiro é ir à diocese mais pobre mais indígenas do Brasil.
Charles de Foucauld viveu a mística do último lugar. Ouvindo o diretor
espiritual dele uma afirmação que o marcou profundamente: que Jesus vindo à
Terra escolheu de tal modo o último lugar que ninguém lhe poderá tirar. Então
ser bispo de São Gabriel da Cachoeira é de certo modo está no último lugar: Mas
mais do que isso Charles de Foucauld no seu tempo, ele foi revolucionário na
forma de viver o Evangelho no meio do povo tuaregue: todos eram muçulmanos. Ele
desde o início percebeu que seria muito difícil converter um muçulmano ao
cristianismo. Então ele viveu uma forma de inculturação extraordinária. Disse:
no meio desse povo o meu testemunho deve ser o da bondade. Vendo como eu sou
bom, que eu me esforço para ser fraterno, acolhedor, as pessoas vão intuir: o
Deus em quem ele acredita deve ser muito bom... e se eu pudesse conhecer a
bondade e a misericórdia do Senhor Jesus. E houve toda uma reação de amizade e
de aproximação. Ele aprendeu a língua tuaregue e prestou um grande serviço à
humanidade fazendo um dicionário tuaregue-francês, francês-tuaregue que exigiu
dele muito trabalho e muitos esforços".
"Ele prestou esse serviço à humanidade....escrevendo
um dicionário em uma língua diferente. Depois disse: no meio desse povo o meu
testemunho deve ser, ser irmão de todos. E ele conta que o dia mais feliz dele
foi quando aos poucos aqueles pobres nômades tuaregues chamaram a casinha dele
de fraternidade, e a ele de irmão todos, irmão universal. Ele tinha no coração
esse desejo, mas não explicitava. O testemunho dele é que levou as pessoas a
descobrir que ali estava aquele que queria ser o irmão de todos o irmão
Universal".
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