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Cada situação é diferente e cada casal deve ser capaz de fazer as coisas de acordo com a sua própria sensibilidade, desejos e aquilo de que se sente capaz.
Há 30 ou 40 anos, a morte de um bebê in utero era largamente ignorada, uma vez que o bebê não era considerado uma pessoa por direito próprio pela sociedade. Hoje, a profissão médica, bem como os casais afetados pela perda de um filho testemunham os benefícios de poder dizer adeus a um bebê natimorto. Este é um passo importante no luto pela perda de um filho(a) que muitas vezes não tivemos tempo de conhecer. Então como se despedir?
1. VER O SEU FILHO
Mesmo que possa parecer doloroso, ver o seu filho(a) após o parto pode ser uma forma de dizer adeus, de colocar um rosto no bebé que se estava à espera. “Por vezes o pessoal de enfermagem, durante estes lutos perinatais, está um pouco confuso. O bebé que nasce sem vida é por vezes impressionante de se ver e os cuidadores não pressionam necessariamente os pais a conhecê-lo porque consideram a situação muito dolorosa. Eles projetam o seu próprio medo nos pais”, explica Pascaline Chazerans, uma parteira há mais de 10 anos. “Lembro-me de uma mãe que queria ver o seu filho após o nascimento. Quando ela se aproximou e tocou-o, imediatamente disse que ele se parecia com o seu avô. Ela tinha visto o seu bebé com o coração da sua mãe, com os olhos da sua mãe. Foi muito comovente”, recorda ela.
2. MANTER UMA MEMÓRIA
Atualmente, na maioria das maternidades, oferece-se manter um registo de um bebé nascido sem vida. Após o nascimento, são tiradas e colocadas fotos do bebé na sua ficha. Esta é mantida no hospital e pode ser consultada pelos pais sempre que estes o desejarem. Marie, mãe de dois bebés nascidos prematuros, disse a Aleteia: “Perdemos o nosso primeiro bebé há dez anos e, na altura, não tivemos coragem de ver o nosso filho. Saber que havia estas fotografias deu-nos sempre a confiança de que podíamos mudar de ideias e ver o nosso filho se quiséssemos”. A parteira também faz pequenas marquinhas com os pés ou as mãos e dá o registro para os pais: isto deixa uma memória amorosa do bebê.
3. DAR UM NOME À CRIANÇA
Dar um nome a uma criança nascida sem vida é um belo passo porque permite um reconhecimento real da criança. Ao nomeá-la, reconhecemos a sua existência: este bebê estava presente no ventre da sua mãe e, apesar da sua curta vida, ele existiu. É uma boa ideia não esquecer e, por vezes, fazer os familiares compreenderem que este bebe era uma realidade para os pais. Para os irmãos e irmãs, se houver, é também uma boa maneira de falar com eles sobre este bebê que não conheciam. Permite-lhes nomear o irmão(ã) e vê-lo como um membro da família por direito próprio.
4. REGISTAR O BEBÊ NO LIVRO DE REGISTO FAMILIAR
Para além de dar um nome à criança, algumas famílias decidem registar o seu bebê no livro de registo familiar. De fato, desde 2008, uma criança nascida sem vida pode ser registada no livro de registo familiar. Não há obrigação, mas para alguns pais, permite-lhes simbolicamente acolher este pequeno ser na sua família. Este é um grande passo em frente na consideração destas crianças pela sociedade. Reconhece a dor da família e permite o seu luto. Desde o final de 2021, os pais também podem dar ao seu bebê o seu sobrenome. Isto não era possível antes.
5. ORGANIZAÇÃO DE UM FUNERAL
“Quando perdemos o nosso primeiro bebê, o nosso médico, ao mesmo tempo que nos deu uma escolha completa, aconselhou-nos a não fazer um funeral, pois seria demasiado doloroso. Mas não havia maneira, no meu modo de ver, de deixarmos o nosso bebê no hospital. Precisávamos de saber onde ele estava e de poder ‘vê-lo’ sempre que quiséssemos”, diz Marie. De fato, mesmo que toda a logística envolvida na organização de um funeral possa parecer muito dolorosa, a organização de um funeral permite aos pais dizer um verdadeiro “adeus” ao seu filho e processar o luto. Confiar a criança, toda a família e a sua dor a Deus permite-lhes ver esta perda como menos terrível. “Enterrar uma criança também permite aos irmãos entristecerem-se. Pode parecer difícil para as crianças, mas também é importante para elas poder dizer ‘adeus’ ao seu irmão ou irmã. E finalmente, as crianças vêem-no como um adeus e experimentam-no de uma forma muito mais simples do que os adultos.
Pascaline Chazerans explica que “alguns pais aproveitam o funeral para colocar um pequeno cobertor ou brinquedo de pelúcia no caixão do bebê. É um gesto simbólico, mas é importante para os pais que, com este gesto, cuidam dos seus filhos.
6. PERCORRER UM CAMINHO DE CONSOLAÇÃO
Quando se perde um ente querido, especialmente uma criança, a palavra-chave para que a dor se dissipe é “tempo”. Para superar, ou aprender a conviver com a realidade, é preciso tempo, isso é óbvio e é preciso estar consciente disso. É preciso aceitar que se leva tempo. Para cada pessoa, o caminho será mais ou menos longo. Para alguns, será “rápido”, para outros, muito mais longo. As coisas não são vividas da mesma forma pelo pai e pela mãe. A mãe já experimentou isto na sua carne, é físico. Para o pai, é diferente. Isto não significa que ele sofra menos.
O que importa é poder dizer adeus à criança que se esperava. Por vezes é difícil fazer isso sozinho e obter ajuda de terceiros pode ser uma boa solução.
Existem agora associações para ajudar estes pais a percorrerem o luto. A associação Mãe da Misericórdia, por exemplo, oferece retiros e sessões para acompanhar pessoas que tenham perdido um filho. Através de grupos de discussão, gestos concretos e tempos de oração, os acompanhantes destas sessões apoiam os pais que têm dificuldade em superar a sua dor. Os pais podem se beneficiar de um ouvido atento e não julgador.
Fonte: https://pt.aleteia.org/
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