Na Quarta-feira de Cinzas, fiéis rezam na Catedral de San Salvador |
Em 2021, a Fundação de Direito Pontifício Ajuda á Igreja
que Sofre aceitou 969 candidaturas em benefício de mais de 800 parceiros de
projetos em pelo menos 320 dioceses do continente. Os países onde a ajuda foi
maior foram Brasil, Venezuela, Haiti e Cuba.
Este ano comemora-se o 15º
aniversário da V Conferência Geral do Conselho Episcopal Latino-Americano e do
Caribe (CELAM), realizada em Aparecida (Brasil) de 13 a 31 de maio de 2007. A
conferência deu origem ao documento de Aparecida, texto que tem sido fundamental
para a Igreja na América Latina. O relator geral do documento de Aparecida foi
o então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio. Muitos dos aspectos
cruciais de seu atual pontificado, como a conversão pastoral, a Igreja em saída
e a missão dos leigos, nascem desse documento.
Rafael D'Aqui, diretor da
seção latino-americana da fundação Ajuda à Igreja que Sofre, fala na entrevista
à María Lozano sobre alguns dos desafios que, segundo seu trabalho, se
apresentam à Igreja no "continente da fé" e o trabalho da Fundação.
O continente americano vive
atualmente situações de instabilidade social, em muitos países há divisão e
violência nas ruas. Como vocês veem essa realidade?
De fato, em muitos deles está
acontecendo uma virada agressiva que busca silenciar a voz da Igreja,
especialmente em temas pró-família e vida. Temos ouvido de alguns dos nossos
parceiros de projeto que em muitos países há uma polarização da sociedade, há
grupos cada vez mais amplos que se definem por posições extremistas e isso vai ser
um problema ao nível da sociedade e coesão em muitos países. No entanto, não
devemos esquecer que a América Latina continua a ser “o continente da
esperança”, como afirmou Paulo VI em 1968 e Bento XVI reafirmou em 2007, porque
praticamente metade dos católicos do mundo vive no subcontinente, incluindo
muitos jovens.
Olhando para o futuro: um dos
grandes desafios da América Latina é o imenso crescimento urbano. Como a
Fundação quer enfrentar esse desafio? Vocês têm planos para desenvolver o
ministério missionário em contextos urbanos?
A Fundação ACN responde sempre
às necessidades que nos são transmitidas pela Igreja local. Por isso,
acreditamos ser muito importante que ela identifique esses grandes centros
urbanos e suas periferias existenciais. Nos próximos anos, gostaríamos de
promover uma pastoral missionária nas periferias destes grandes centros urbanos
e assegurar uma presença eclesial, por exemplo, mediante a formação de
catequistas e agentes de pastoral, encontros de formação ou através de publicações.
O crescimento das cidades está intimamente relacionado com a migração.
Acreditamos que é necessário desenvolver um ministério de acolhimento nesses
lugares. O grande desafio é ajudar os recém-chegados a se integrarem na cidade
sem perder sua identidade católica, que muitas vezes se perde no processo.
A messe é grande, mas os
trabalhadores são poucos. Um dos desafios da Igreja na América Latina é a falta
de vocações ao sacerdócio para servir os fiéis. Qual é o apoio da ACN para
apoiar a Igreja diante desta dificuldade?
Vemos que é muito importante
desenvolver a pastoral vocacional, especialmente em regiões com grande
população católica e poucos sacerdotes. Como Fundação, estamos dispostos a
apoiar os programas vocacionais das dioceses mais necessitadas. O sacerdote
deveria estar presente nesses encontros, seria bom ter essa proximidade com os
jovens, por isso às vezes temos que fornecer veículos para facilitar as visitas
às escolas ou paróquias. Além disso, a ACN apoia eventos de discernimento
vocacional, acampamentos e conferências. Mas, além do discernimento, há também
o cuidado de presbíteros e sacerdotes, pastores que cuidam de seu povo, que
muitas vezes vivem em situações muito difíceis, fruto do estilo de vida que
levam por amor ao seu povo, sua dedicação ou como consequência das crises
econômicas e da pandemia, etc.
Como você mencionou, estamos
vendo um avanço agressivo do secularismo em muitos países latino-americanos. De
maneira orquestrada, atacam-se o direito à vida do nascituro e da família, por
exemplo na Argentina, Chile, Colômbia... O que a Igreja pode fazer neste
momento? E como a ACN apoia o seu papel neste campo?
Acreditamos que a Fundação
deve fortalecer a fé das famílias e dos jovens. Ambos são calcanhares de
Aquiles da sociedade. Precisamos de uma pastoral juvenil que forme líderes com
identidade forte, conscientes de sua dignidade, também formados no campo da
afetividade e da sexualidade. É importante ter jovens leigos bem formados,
porque a laicidade se espalha na sociedade muitas vezes graças à desinformação
e distorção da verdade, é preciso educar em bioética e doutrina social. Não só
há problemas de secularização agressiva, há também um sério problema de
injustiça social e corrupção.
Você também falou da
polarização política da sociedade que está causando muita divisão no
continente, inclusive na Igreja. Qual seria a resposta da Fundação para ajudar
a Igreja em seu papel de mediadora?
A falta de soluções, a
insegurança e a vulnerabilidade parecem levar as pessoas a adotarem posições
extremas. Para isso, promovemos cada vez mais a formação de uma liderança
católica, baseada na Doutrina Social da Igreja. Uma forma é promover o uso do
Docat, uma excelente fonte de informação para os jovens sobre justiça social,
ajudando-os a praticá-la. Por outro lado, acreditamos que tanto no avanço do
laicismo agressivo quanto na questão da polarização, a mídia desempenha um
papel fundamental. Por isso, consideramos muito importante promover a
digitalização da evangelização e da mídia católica, para que chegue a muitos.
Qual foi a ajuda concreta da
Fundação ACN para a América Latina em 2021?
Durante o ano passado, foram aceitas 969 candidaturas em
benefício de mais de 800 parceiros de projetos em pelo menos 320 dioceses do
continente. Os países onde a ajuda foi maior foram: Brasil, Venezuela, Haiti e
Cuba. Não podemos esquecer que a América Latina foi um dos continentes mais
afetados pela pandemia em 2021. Muitos fiéis, agentes pastorais, bispos,
sacerdotes e religiosos morreram de COVID. Por outro lado, a redução das
arrecadações devido ao confinamento desafiou a sustentabilidade das obras de
evangelização e promoção humana em muitos países. Em resposta, a ACN teve que
ajudar mais generosamente os religiosos e sacerdotes nos locais de missão com a
ajuda de ações ou intenções de massa. Em alguns países como Haiti, Cuba,
Bolívia e Venezuela, a resposta da ACN se deu com ajuda médica emergencial,
para enfrentar a crise sanitária.
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