Dom Paulo Cezar | arqbrasilia |
V Domingo da Páscoa
Palavra do
Pastor
Dom Paulo Cezar
Costa
Arcebispo de
Brasília
Nisto conhecerão
que sois meus discípulos
Hoje Jesus nos apresenta o imperativo do amor: “Amai-vos uns aos outros.
Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34).
É o dever do amor que existe entre nós. Mais do que dever, é o imperativo do
amor. Não há verdadeiro cristianismo sem amor. O grande perigo da nossa vida é
irmos criando um cristianismo esquizofrênico, em que se odeia, mata, faz-se
guerra e, no dia seguinte, está-se participando das celebrações litúrgicas como
se nada tivesse acontecido. A grande denúncia dos profetas no Antigo Testamento
e a grande discussão de Jesus com os fariseus, no fundo, está nesta
esquizofrenia, neste pregar uma coisa e viver outra, ou seja, nesta dissociação
entre fé e vida. A religião é um sentimentalismo desvinculado da vida, das atitudes
concretas da vida do dia a dia. A verdadeira fé, ao contrário, ilumina as
pequenas e grandes atitudes da vida.
O amor é uma realidade exigente na vida humana, principalmente numa
sociedade marcada pela subjetividade acirrada onde é o ‘eu’ que se coloca em
primeiro lugar, onde vai se perdendo a dimensão da doação da vida, de se
sacrificar pelo outro, pela outra. “Chamo amor aquela experiência intensa,
inesquecível e inconfundível que se pode fazer somente no encontro com outra
pessoa” (Carlo Maria Martini, Dizionario Spirituale, 12). O amor
supõe sempre uma outra pessoa e se atua num encontro concreto. O amor implica
sempre a capacidade de sair de si em direção do outro, da outra pessoa, onde se
encontram, trocam-se os dons (materiais e espirituais), que são parciais, mas
que são símbolos do dom de uma pessoa a outra pessoa.
O amor que Jesus nos propõe é mais exigente, pois é o amor na sua
gratuidade, o amor ágape: ama-se gratuitamente, sem esperar nada em troca. É
claro que esta gratuidade do amor é precedida pela experiência de primeiro se
ser encontrado pelo amor de Deus. Quem foi encontrado pelo amor de Deus fez a
experiência de se sentir amado por Deus e se coloca na experiência do amor. O
colocar-se na escola do amor é facilitado quando se cresce experimentando o
amor na família, no convívio com os amigos, na escola, na Igreja etc., ou seja,
no ambiente em que se cresce experimentando e vivenciando o amor. Mas a medida
que Jesus coloca para o cristão é exigente: “(…) como eu vos amei”. Este ‘como’
só pode ser percebido quando se contempla a cruz de Jesus. Ali está o extremo
do amor. “Não há maior amor do que dar a vida pelos amigos” e Jesus nos amou a
ponto de dar a vida por nós. Este é o extremo do amor, é a medida alta do amor
cristão. É o amor que toma forma concreta na nossa capacidade de se fazer dom
nas pequenas e grandes atitudes do dia a dia diante de pessoas que não
conhecemos, mas que são encontradas, acolhidas e amadas por nós.
Esta realidade se faz presente na vida de nossas comunidades onde tanta
gente se doa gratuitamente nas pastorais, nos movimentos, visitando os doentes,
os encarcerados, ajudando os pobres e necessitados, sendo dom na cozinha em
nossas festas, contribuindo com a manutenção da vida da comunidade através do
dízimo etc. É o amor de vai construindo história na vida de nossas comunidades
e da nossa sociedade.
Fonte: https://arqbrasilia.com.br/
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