Fred de Noyelle | Godong |
Eis o que bons teólogos dizem a respeito dessa Mulher – gloriosa, dolorosa, portanto também misteriosa – de Apocalipse 12.
O texto bíblico mais intrigante aplicado a Nossa Senhora é, sem dúvida o do capítulo 12 do Apocalipse (Ap). Estudemo-lo em seus aspectos mais salientes.
Dom Estêvão Bettencourt, OSB, em sua grande capacidade de síntese, assim nos expõe o conteúdo de Ap 12: “Este trecho apresenta uma Mulher gloriosa e dolorida ao mesmo tempo. Está para dar à luz um filho que um monstruoso Dragão espreita para abocanhá-lo. A Mulher gera seu Filho, que tem os traços do Messias; Ele escapa ao Dragão e é arrebatado aos céus. Dá-se, então, uma batalha entre Miguel com seus anjos e o Dragão; este acaba sendo projetado do céu sobre a terra, onde procura abater a Mulher-Mãe, perseguindo-a de diversos modos. Todavia, o próprio Deus se encarrega de defender a Mulher, no deserto, durante os três anos e meio ou os 42 meses ou os 1260 dias de sua existência. Vendo que nada pode contra essa figura grandiosa, a Serpente antiga atira-se contra os demais filhos da Mulher, tentando perdê-los” (Pergunte e Responderemos n. 475, dezembro de 2001, p. 541).
Dito isso, a pergunta fundamental a ser feita e esclarecida é a seguinte: “Quem é essa Mulher gloriosa e dolorosa, portanto também misteriosa apresentada por João?”. Duas grandes respostas podem ser oferecidas. Ambas – cada uma com sua abordagem própria – não se excluem, mas, complementam-se. Vejamo-las.
Dom Estêvão Bettencourt, afirma que a figura feminina trazida por João é uma “mulher eterna” a perpassar a história. Assim, ela representa a primeira Eva, a filha de Sião (povo do Antigo Testamento), Maria Santíssima (a segunda Eva ou a mãe dos viventes por excelência), a Santa Mãe Igreja (nossa geradora para a vida divina pelo santo Batismo) e, por fim, a Jerusalém celeste. São suas palavras: “a Mulher de Ap 12 é a Mulher como tal, na sua função específica da maternidade, já designada pelo nome de Eva. A mulher perpassa toda a história da salvação; a vida, até mesmo a vida do Messias, só vem aos homens através da Mulher. No Protoevangelho (Gn 3,15), o Senhor Deus quis colocar a mulher, e não o homem, como protagonista mais remota da obra da Redenção; ela é fonte e origem da linhagem donde sai o Messias e a vitória do Bem sobre o Mal; é nas entranhas da Mulher (agraciada por Deus ou cumulada de favores divinos) que está escondida a salvação da humanidade” (Curso de Mariologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1997, p. 27).
Cândido Pozo, SJ, afamado teólogo espanhol, vê forte paralelo entre Gn 3,15 e Ap 12. Daí dar ao texto uma profunda interpretação mariana. Após esquadrinhar amplos dados do escrito apocalíptico, Pozo conclui o seguinte: “Tudo isso nos faz pensar que João, no capítulo 12 do Apocalipse, tenha visto a Igreja (sentido primeiro do texto) com traços de Maria. No realismo do nascimento do Messias (v. 5), dificilmente se pode desvincular a figura de sua Mãe histórica, a mulher mediante a qual o Povo de Deus da Antiga Aliança dá à luz o Messias; uma figura triunfal e celeste, em sua realidade ontológica e interiorizada de graça, a mãe de Cristo. É verdade que as dores de parto, do versículo 2, podem ser um mero modo bíblico e poético de falar que verdadeiramente deu à luz […]; mas a conexão literária existente entre o nascimento de Jesus e a sua elevação ao Pai (no v. 5), talvez, se refira à outra coisa: à participação dolorosa de Maria na passagem de Jesus desta terra para o Pai (o nascimento para o céu), às suas dores junto à cruz do Filho; com efeito, é ali onde […] Maria foi proclamada Mãe ‘dos que guardam os preceitos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus’ (Ap 12,17)”.
E continua, a título de conclusão: “Por tudo isso, o uso teológico do texto, em sua exegese mariológica, nos levará a destacar a dignidade de Maria expressa no versículo 1, sua participação nas dores de Jesus junto à cruz e sua maternidade espiritual no que diz respeito aos fiéis discípulos de Jesus” (María en la obra de la salvación. Madri: BAC, 1974, p. 245-246).
Eis o que bons teólogos dizem a respeito dessa Mulher – gloriosa, dolorosa, portanto também misteriosa – de Apocalipse 12.
Fonte: https://pt.aleteia.org/
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