Papa Francisco no encontro com as famílias em 4 de dezembro de 2017 (Vatican Media) |
Nos seus nove anos de Pontificado, o Papa Francisco
pronunciou palavras muito claras sobre a defesa da vida do nascituro que,
afirma, está ligada à defesa de qualquer direito humano. A vida, observa,
sempre deve ser defendida: quer a dos nascituros como a dos idosos e dos
enfermos ou dos que correm o risco de morrer de fome ou no trabalho ou como
migrantes nos barcos na travessia do Mediterrâneo.
Vatican News
A Igreja defende a vida,
sobretudo daqueles que não têm voz. Em sua Exortação apostólica Evangelii
gaudium, Francisco recorda que na Igreja há um sinal que nunca
deve faltar: “a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e
joga fora” (EG 195). Trata-se da atenção preferencial pelos mais frágeis.
Ao lado dos mais
frágeis e dos direitos humanos
“Entre estes seres frágeis, de
que a Igreja quer cuidar com predilecção, estão também os nascituros, os mais
inermes e inocentes de todos, a quem hoje se quer negar a dignidade humana para
poder fazer deles o que apetece, tirando-lhes a vida e promovendo legislações
para que ninguém o possa impedir. Muitas vezes, para ridiculizar jocosamente a
defesa que a Igreja faz da vida dos nascituros, procura-se apresentar a sua
posição como ideológica, obscurantista e conservadora; e no entanto esta defesa
da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano.
Supõe a convicção de que um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em
qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento. É fim em si mesmo, e
nunca um meio para resolver outras dificuldades. Se cai esta convicção, não
restam fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos direitos humanos,
que ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes dos poderosos de
turno.” (EG 213).
Não é
progressista eliminar uma vida humana
O Papa Francisco tem palavras
muito claras: “não se deve esperar que a Igreja altere a sua posição sobre esta
questão. A propósito, quero ser completamente honesto. Este não é um assunto
sujeito a supostas reformas ou «modernizações». Não é opção progressista
pretender resolver os problemas, eliminando uma vida humana. Mas é verdade
também que temos feito pouco para acompanhar adequadamente as mulheres que
estão em situações muito duras, nas quais o aborto lhes aparece como uma
solução rápida para as suas profundas angústias, particularmente quando a vida
que cresce nelas surgiu como resultado duma violência ou num contexto de
extrema pobreza. Quem pode deixar de compreender estas situações de tamanho
sofrimento?” (EG 214).
As palavras do Papa são muito
fortes: “o aborto é um crime. É tirar a vida de um para salvar outro. É o que
faz a máfia” (Coletiva de imprensa durante o voo de volta do México, em 17 de
fevereiro de 2016). “É como contratar um sicário para resolver um problema.” (Audiência Geral
de 10 de outubro de 2018).
Aborto, um
problema humano, não religioso
O Papa repetiu várias vezes
que o problema do aborto “não é um problema religioso: nós não somos contra o
aborto devido à religião. Não. É um problema humano” (Coletiva de
imprensa no voo de regresso de Dublin, 26 de agosto de 2018). E
explica: “O aborto é um homicídio. O aborto... sem meias palavras: quem faz um
aborto, mata. Pegai em qualquer livro sobre embriologia, daqueles que estudam
os alunos nas Faculdades de Medicina e vede que, na terceira semana da gestação
– na terceira semana, e muitas vezes antes que a mãe se dê conta –, o feto já
tem todos os órgãos; todos, mesmo o DNA. E não seria uma pessoa? É uma vida
humana… ponto final! E esta vida humana deve ser respeitada (...).
Cientificamente, é uma vida humana. Os livros no-lo ensinam. E eu pergunto: é
justo eliminá-la, para resolver um problema? Por isso a Igreja é tão severa
neste tema, porque, se aceitasse isto, era como se aceitasse o homicídio
diário”. (Coletiva de
imprensa no voo de volta de Bratislava, 15 de setembro de 2021).
Os pequeninos
jogados pelos espartanos
"Quando eu era criança,
na escola - recorda o Papa - ensinavam-nos a história dos espartanos.
Impressionava-me sempre o que dizia a professora, que quando nascia um menino
ou uma menina com malformações, levavam-no ao cimo do monte e atiravam-no para
baixo, para que estes pequeninos não existissem. Nós, crianças, dizíamos: “Mas
quanta crueldade!”. Irmãos e irmãs, nós fazemos o mesmo, com maior crueldade,
com maior ciência. Aquele que não serve, aquele que não produz, é descartado.
Esta é a cultura do descarte, hoje os pequeninos não são
desejados." (Homilia em San
Giovanni Rotondo, 17 de março de 2018).
Defender cada
vida, sempre
Francisco recorda que estar ao
lado da vida não significa cuidar dela somente no início ou no fim, mas significa
defendê-la sempre: " O grau de progresso de uma civilização mede-se
precisamente pela capacidade de salvaguardar a vida, sobretudo nas suas fases
mais frágeis, mais do que pela difusão de instrumentos tecnológicos. Quando
falamos do homem, nunca esqueçamos todos os atentados contra a sacralidade da
vida humana. É atentado contra a vida o flagelo do aborto. É atentado contra a
vida deixar morrer os nossos irmãos nas embarcações no canal da Sicília. É
atentado contra a vida a morte no trabalho, porque não se respeitam as mínimas
condições de segurança. É atentado contra a vida a morte por subalimentação.
São atentados contra a vida o terrorismo, a guerra e a violência; mas também a
eutanásia. Amar a vida é sempre cuidar do outro, desejar o seu bem, cultivar e
respeitar a sua dignidade transcendente.” (Discurso aos
participantes no encontro promovido pela Associação Ciência e Vida, 30
de maio de 2015).
A misericórdia é para todos
O Papa sublinha o drama que vivem as mulheres. E a quem o
acusa de não ter misericórdia responde assim: “A mensagem da misericórdia é
para todos, mesmo para a pessoa humana que está em gestação. É para todos.
Depois de cair tal fracasso, ainda há misericórdia, mas uma misericórdia
difícil, porque o problema não está em dar o perdão, o problema está em
acompanhar uma mulher que tomou consciência de ter abortado. São dramas
terríveis. Uma vez ouvi um médico referir uma teoria segundo a qual – não me
lembro bem – uma célula do feto acabado de conceber comunica com a medula da
mãe e disso existe memória mesmo física. É uma teoria, mas para dizer: uma
mulher, quando pensa no que fez... Digo-te a verdade: é preciso estar no
confessionário e lá não devo punir nada, mas dar consolação. Por isso, abri a
faculdade de absolver [do pecado de] o aborto por misericórdia, porque muitas
vezes – antes, sempre – devem encontrar-se com seu filho. E com frequência,
vendo-as chorar e carregar esta angústia, aconselho: «O teu filho está no céu,
fala com ele, canta-lhe a canção de embalar que não cantaste, que não pudeste
cantar-lhe». E nisto encontra-se uma via de reconciliação da mãe com o filho.
Com Deus, já existe: é o perdão de Deus. Deus perdoa sempre. Mas a misericórdia
passa também por ela [a mulher] elaborar isto. O drama do aborto. Para o
compreender bem, é preciso estar num confessionário. É terrível." (Coletiva de
imprensa no voo de volta do Panamá, 28 de janeiro de 2019).
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