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segunda-feira, 6 de junho de 2022

Atentado na Nigéria: quando a dor não interessa

O desinteresse de muitos pela humanidade da África, é equivalente aos muitos
interesses, ocultos e evidentes, pelos seus recursos | REUTERS

O terrível massacre ocorrido em uma igreja católica na Nigéria não recebeu o devido destaque em muitos dos principais meios de comunicação do mundo. De fato, há um sofrimento de segunda classe que causa outro sofrimento, que vem do sentir-se esquecido, de ver que a própria dor, por maior que seja, não merece atenção.

Sergio Centofanti

É impressionante entrar na internet entre os principais jornais do mundo e não ver nas primeiras notícias, com poucas exceções, o drama do massacre ocorrido em uma igreja católica na Nigéria durante a Missa de Pentecostes. Há muitas décadas que lemos nos jornais africanos a denúncia de que o continente está fora da atenção internacional, não apenas por suas tragédias, mas talvez também e acima de tudo pelo que é belo e positivo nesta terra. Isto não é um lamento de vitimismo, mas a simples constatação de uma realidade: o desinteresse de muitos pela humanidade da África diante dos muitos interesses, ocultos e evidentes, pelos seus recursos.

As imagens do massacre são terríveis. É um mistério o mal que se abate com ferocidade sobre pessoas indefesas orando em um dia de festa e mata tantas vidas, mesmo das que continuam a viver: há muitas crianças entre as vítimas. É impressionante ver tanta dor negligenciada. É impressionante ver a indiferença, a falta de compaixão, a incapacidade de se deter diante daqueles que sofrem.

O primeiro apelo do pontificado do Papa Francisco foi para a África Central, onde ele abriu antecipadamente a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Precisamos de um coração que se abra para os mais pobres, para os excluídos, para aqueles que são esquecidos. Sua primeira viagem foi para Lampedusa, para prestar homenagem aos muitos migrantes que sonhavam com uma vida melhor e morreram porque não encontraram uma mão estendida para salvá-los.

Há muitas guerras e crises esquecidas, não apenas na África. Basta pensar na Síria, Iêmen, Afeganistão, Mianmar, Haiti, para citar apenas algumas. Pensando nestes sofrimentos esquecidos, pensando nesta pequena cidade nigeriana, Owo, o cenário de um massacre dramático, vem à mente a profecia de Isaías quando afirma que um dia os povos verão a justiça de Deus e cada cidade negligenciada, cada pessoa esquecida e abandonada verá claramente o amor de seu Salvador:

Receberás um nome novo, que a boca do Senhor enunciará. Serás uma coroa gloriosa nas mãos do Senhor, um turbante real na palma do teu Deus. Já não te chamarão “Abandonada”, nem chamarão à tua terra “Desolação”. Antes, serás chamada “Meu prazer está nela”, e tua terra, “Desposada”. Com efeito, o Senhor terá prazer em ti e se desposará com a tua terra. Como um jovem desposa uma virgem, assim te desposará o teu edificador. Como a alegria do noivo pela sua noiva, tal será a alegria que o teu Deus sentirá em ti.  (...) Eis que a tua salvação está chegando, eis com ele o teu salário: diante dele a sua recompensa. Eles serão chamados “O povo santo”, “Os redimidos do Senhor”. Quanto a ti, serás chamada “Procurada”, “Cidade não abandonada”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF