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Das Cartas de São José de Anchieta ao Prepósito-Geral Diego
Láyñez
(Carta
de 1º de junho de 1560; cf. Serafim da Silva Leite SJ, Cartas dos primeiros
jesuítas do Brasil, vol. 3 (1558- 1563),São Paulo 1954, p.253-255)
(Séc.XVI)
Nada é árduo aos que têm por
fim somente a honra de Deus e a salvação das almas
De
outros muitos poderia contar, máxime escravos, dos quais uns morrem batizados
de pouco, outros já há dias que o foram; acabando sua confissão vão para o
Senhor. Pelo que, quase sem cessar, andamos visitando várias povoações, assim
de Índios como de Portugueses, sem fazer caso das calmas, chuvas ou grandes
enchentes de rios,e muitas vezes de noite por bosques mui escuros a socorrermos
aos enfermos, não sem grande trabalho, assim pela aspereza dos caminhos, como
pela incomodidade do tempo, máxime sendo tantas estas povoações e tão longe
umas das outras, que não somos bastantes a acudir tão várias necessidades, como
ocorrem, nem mesmo que fôramos muito mais, não poderíamos bastar. Ajunta-se a
isto, que nós outros que socorremos as necessidades dos outros, muitas vezes
estamos mal dispostos e, fatigados de dores, desfalecemos no caminho, de
maneira que apenas o podemos acabar; assim que não menos parecem ter
necessidade de ajuda os médicos que os mesmos enfermos. Mas nada é árduo aos
que têm por fim somente a honra de Deus e a salvação das almas, pelas quais não
duvidarão dar a vida. Muitas vezes nos levantamos do sono, ora para os
enfermos, ora para os que morrem.
Hei
me detido em contar os que morrem, porque aquele se há de julgar verdadeiro
fruto que permanece até o fim; porque dos vivos não ousarei contar nada, por
ser tanta a inconstância em muitos, que não se pode nem se deve prometer deles
coisa que haja muito de durar. Mas bem-aventurados aqueles que morrem no Senhor (Ap 14,13), os quais
livres das perigosas águas deste mudável mar, abraçada a fé e os mandamentos do
Senhor, são transladados à vida, soltos das prisões da morte, e assim os
bem-aventurados êxitos destes nos dão tanta consolação, que pode mitigar a dor
que recebemos da malícia dos vivos. E contudo trabalhamos com muita diligência
em a sua doutrina, os admoestamos em públicas predicações e particulares
práticas, que perseverem no que têm aprendido. Confessam-se e comungam muitos
cada domingo; vêm também de outros lugares onde estão dispersados a ouvir as
Missas e confessar-se.
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