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Ecoado há 50
anos em Estocolmo, ideal ganha nova luz sob cenário de guerra, fome, inflação e
crise climática. “Temos responsabilidade de ação”, diz Marcelo Furtado, da
Coalizão Brasil.
Por Vanessa Barbosa, do Um Só Planeta
05/06/2022
Nas últimas décadas, o
mundo tem experimentado avanços científicos e tecnológicos em velocidade jamais
vista na história da civilização. Adquirimos o poder de transformar, de
inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes, tudo o que nos cerca.
Se,
por um lado, progredimos em muitos aspectos como sociedade, também deixamos um
rastro de pegadas de impacto pesadas no caminho. Na esteira da pandemia de
Covid-19, enfrentamos guerra, aumento da fome e aprofundamento de crises
ambientais, sociais e econômicas, que parecem se retroalimentar. Como
orquestrar uma resposta sistêmica a esses desafios e ao maior de todos --- a crise climática --
que ameaça aprofundar as mazelas contemporâneas?
Olhar
para trás, aprender com o passado, rever planos e promessas para reorientar a
rota e fortalecer o propósito comum é uma saída. Não à toa o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2022,
celebrado neste domingo (5) traz o tema #UmaSóTerra, o
mesmo que ecoou 50 anos atrás durante um marco para o ambientalismo: a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano de 1972,
ocorrida em Estocolmo, na Suécia. Neste ano, também celebramos os 30 anos da Rio 92, que contou com presença
maciça de chefes de estado e deu origem a importantes documentos que até hoje
balizam as discussões de alto nível sobre meio ambiente no mundo.
Sobre
tudo isso e mais um pouco, Um
Só Planeta conversou com o ambientalista e membro fundador da Coalizão Brasil Clima Floresta e Agricultura, Marcelo Furtado. Além de passar em revista
os desdobramentos desses grandes encontros, Marcelo analisa os desafios e
oportunidades para efetivamente agirmos como um só Planeta e construirmos uma
Terra mais próspera, justa, resiliente e saudável.
“Estocolmo posicionou
politicamente a questão ambiental mostrando que desenvolvimento a qualquer
custo não era um caminho para a sociedade e que aquela ideia de poluir primeiro
para ganhar dinheiro e só depois falar de questões sociais e ambientais era uma
visão equivocada”, contou. “Naquele momento, começamos a ver grandes crises de
contaminação e poluição, que despertaram na população a consciência de que não
dava para viver ignorando a preservação ambiental”.
Duas décadas depois da
conferência de Estocolmo, a urgência do desenvolvimento sustentável mobilizou
as discussões na ECO-92, no Rio de Janeiro, que reuniu diplomatas e chefes de
Estado de 183 países. Nasciam ali acordos globais para enfrentar desafios como a
desertificação, perda de biodiversidade e as emissões crescentes de gases de efeito estufa,
causadores do aquecimento global.
O documento Agenda
21 foi
um dos principais resultados desse encontro, que mostrou a importância de
governos, empresas, organizações não-governamentais e todos os setores da
sociedade refletirem global e localmente sobre a forma pela qual poderiam
cooperar para solucionar os problemas socioambientais, incluindo a erradicação
da pobreza e da fome.
Proteção ambiental,
justiça social e eficiência econômica direcionam o programa de ação que, na
Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, daria origem à Agenda
2030 de Desenvolvimento Sustentável, com 17 objetivos globais. Como o termo
“agenda” sugere, trata-se de um guia de um novo modelo de desenvolvimento para
o século XXI pautado por uma sociedade global mais pacífica, justa,
sustentável.
Para Marcelo, existe
um grande vácuo entre toda a "arquitetura de compromissos" desenhada
e a implementação de ações efetivas que impactem a sociedade positivamente. A
atual intensificação das mudanças climáticas, inflação elevada, insegurança
energética e alimentar, acentuadas pela guerra da Rússia na Ucrânia,
compartilham um chamado comum, diz ele.
“O quanto nós, como
sociedade, ao deixarmos de fazer a lição de casa que tinha que ser feita
estamos pagando um preço cada vez mais alto. Mas quem paga de verdade o preço
mais alto são os mais pobres e mais vulneráveis”, enfatiza. Essa constatação
impõe aos países a necessidade de rever políticas agrícolas, econômicas e
energéticas a partir da perspectiva da justiça ambiental e climática.
“Por que nossa
agricultura ainda não é sustentável como deveria ser? Por que o Brasil, como
grande produtor de alimentos, ainda tem altíssimos índices de desmatamento?”,
provoca. “Sem natureza não tem economia. O que faz com que consigamos produzir
alimentos e produzir energia nesse país é o fato de termos uma floresta
amazônica em pé produzindo água”, afirma o ambientalista e cofundador da
Coalizão Brasil Clima Floresta e Agricultura.
“Nós temos uma
responsabilidade de ação. Faltou vontade política dos governos? Não há dúvida.
Mas ao mesmo tempo há uma responsabilidade que as empresas têm que executar, o
setor financeiro, o setor energético e alimentar. Os consumidores têm
responsabilidade nas suas escolhas e nós, como cidadãos, também temos responsabilidade
grande, seja como atores de transformação através de nosso voto, seja como como
demandantes [de mudanças] em todos os seus níveis, municipal, estadual, federal
e global”, defende.
Marcelo reconhece que
o mundo já teve momentos melhores como "sociedade planetária
integrada", diferentemente do sentimento de polarização que predomina
atualmente, mas diz que foram essas experiências do passado que nos deixam uma
mensagem de esperança. "Talvez seja exatamente em momentos de retrocesso
que precisamos revisitar marcos importantes para mostrar que a sociedade não
aceita retrocessos, que o único caminho que temos é de ir pra frente com
urgência, solidariedade e cooperação".
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