L'osservatore Romano |
07 junho 2022
Um duplo apelo à paz na Ucrânia e no Iémen foi
lançado pelo Papa Francisco no final do Regina caeli recitado ao meio-dia de 5
de junho, da janela do Palácio apostólico do Vaticano, com os fiéis reunidos na
praça de São Pedro. Antes da oração mariana, o Pontífice comentou o Evangelho
do domingo de Pentecostes. Eis a sua meditação.
Caros irmãos e irmãs
bom dia, bom domingo!
E hoje também boa festa, porque se celebra a Solenidade de Pentecostes.
Celebra-se a efusão do Espírito Santo sobre os Apóstolos, que teve lugar
cinquenta dias após a Páscoa. Jesus prometeu-o várias vezes. Na liturgia de
hoje, o Evangelho regista uma destas promessas, quando Jesus disse aos
discípulos: «O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas
as coisas e recordar-vos-á o que vos disse» (Jo 14,
26). Eis o que faz o Espírito: ensina e recorda o
que Cristo disse. Reflitamos sobre estas duas ações, ensinar e recordar,
porque é assim que Ele faz entrar o Evangelho de Jesus nos nossos corações.
Antes de tudo, o Espírito Santo ensina. Desta forma, ajuda-nos
a superar um obstáculo que se apresenta na experiência da fé: o da distância.
Ele ajuda-nos a superar o obstáculo da distância na experiência da fé. De
facto, pode surgir a dúvida de que entre o Evangelho e a vida quotidiana exista
uma grande distância: Jesus viveu há dois mil anos, foram outros tempos, outras
situações, e por isso o Evangelho parece ultrapassado, parece inadequado para
falar aos nossos dias com as suas necessidades e problemas. Também a nós surge
esta pergunta: o que pode o Evangelho dizer na era da internet, e na época da
globalização? Como pode incidir a sua palavra?
Podemos dizer que o Espírito Santo é especialista
em preencher distâncias, Ele sabe como transpor distâncias; Ele ensina-nos a
superá-las. É Ele que liga o ensinamento de Jesus a cada tempo e a cada pessoa.
Com Ele as palavras de Cristo não são uma memória, não: as palavras de Cristo
pelo poder do Espírito Santo tornam-se vivas, hoje! O Espírito torna-as vivas
para nós: através da Sagrada Escritura Ele fala-nos e orienta-nos no presente.
O Espírito Santo não teme o passar dos séculos; pelo contrário, Ele torna os
crentes atentos aos problemas e vicissitudes do seu tempo. De facto, quando o
Espírito Santo ensina, atualiza: ele mantém a fé sempre jovem. Arriscamo-nos a
fazer da fé uma peça de museu: é o risco! Ele, ao contrário, põe-na ao passo
com os tempos, sempre atualizada, a fé em dia: esta é a sua tarefa. Pois o
Espírito Santo não se prende a épocas nem a modas passageiras, mas traz aos
dias de hoje a atualidade de Jesus, ressuscitado e vivo.
E como faz isto o Espírito? Fazendo-nos recordar. Eis o segundo
verbo, recordar. O que significa recordar? Recordar significa trazer
de volta ao coração, recordar: o Espírito traz o Evangelho de
volta ao nosso coração. Acontece como com os Apóstolos: eles ouviram Jesus
muitas vezes, no entanto tinham-no compreendido pouco. O mesmo acontece
connosco. Mas a partir do Pentecostes, com o Espírito Santo, recordam e
compreendem. Acolhem as suas palavras como feitas especialmente para eles e
passam de um conhecimento exterior, de um conhecimento da memória, para uma
relação viva, uma relação convicta e jubilosa com o Senhor. É o Espírito que
faz isto, que nos faz passar do “ouvir dizer” para um conhecimento pessoal de
Jesus, que entra no coração. Assim o Espírito muda a nossa vida: Ele faz com
que os pensamentos de Jesus se tornem os nossos pensamentos. E fá-lo relembrando-nos as
suas palavras, trazendo-nos ao coração, hoje, as palavras de Jesus.
Irmãos e irmãs, sem o Espírito para nos recordar
Jesus, a fé fica esquecida. Tantas vezes a fé torna-se uma recordação sem
memória: mas a memória está viva e a memória viva é trazida pelo Espírito. E
nós — perguntemo-nos — somos cristãos esquecidos? Talvez seja suficiente uma
adversidade, um cansaço, uma crise para esquecer o amor de Jesus e cair na
dúvida e no nosso medo? Ai de nós! Tenhamos o cuidado de não nos tornarmos
cristãos esquecidos. O remédio é invocar o Espírito Santo. Façamo-lo com
frequência, especialmente em momentos importantes, antes de decisões difíceis e
nas situações complicadas. Peguemos o Evangelho e invoquemos o Espírito.
Podemos dizer: “Vem, Espírito Santo, recorda-me Jesus, ilumina o meu coração”.
É uma bela oração, esta: “Vem, Espírito Santo, recorda-me Jesus, ilumina o meu
coração”. Digamo-la juntos? “Vem, Espírito Santo, recorda-me Jesus, ilumina o
meu coração”. Depois, abramos o Evangelho e leiamos um pequeno trecho,
lentamente. E o Espírito fará com que ele falar à nossa vida.
Que a Virgem Maria, cheia do Espírito Santo, acenda
em nós o desejo de rezar a Ele e de receber a Palavra de Deus.
No final da prece mariana o Papa recordou os dramas
da Ucrânia e do Iémen e a beatificação no Líbano de dois frades capuchinhos
mártires. E concluiu, rezando pelas vítimas das inundações no Brasil e pelos
pescadores que sofrem por causa do aumento do custo do combustível.
Estimados irmãos e irmãs!
No Pentecostes o sonho de Deus sobre a humanidade
torna-se realidade; cinquenta dias após a Páscoa, povos que falam línguas
diferentes encontram-se e compreendem-se. Mas agora, cem dias após o início da
agressão armada contra a Ucrânia, o pesadelo da guerra, que é a negação do
sonho de Deus, desceu de novo sobre a humanidade: povos em confronto, povos a
matarem-se, povos que, em vez de se aproximarem, são expulsos das próprias
casas. E à medida que a fúria da destruição e da morte grassa e o conflito se
reacende, alimentando uma escalada cada vez mais perigosa para todos, renovo o
apelo aos líderes das nações: por favor, não leveis a humanidade à ruína! Não
leveis a humanidade à ruína, por favor! Que se realizem verdadeiras
conversações, negociações concretas para um cessar-fogo e para uma solução
sustentável. Que o clamor desesperado do povo sofredor seja ouvido — vemo-lo
todos os dias nos meios de comunicação social — que a vida humana seja
respeitada e que tenha fim a terrível destruição de cidades e aldeias no leste
da Ucrânia. Continuemos, por favor, a rezar e a trabalhar pela paz, sem nos
cansarmos.
Ontem, em Beirute, foram beatificados dois frades
menores capuchinhos, Leonard Melki e Thomas George Saleh, sacerdotes e
mártires, assassinados por ódio à fé na Turquia respetivamente em 1915 e 1917.
Estes dois missionários libaneses, num contexto hostil, deram provas de
confiança inabalável em Deus e de abnegação para com o próximo. Que o seu
exemplo reforce o nosso testemunho cristão. Eram jovens, tinham menos de 35
anos. Um aplauso aos novos Beatos!
Tomei conhecimento com satisfação que a trégua no
Iémen foi renovada por mais dois meses. Graças a Deus e a vós. Espero que este
sinal de esperança possa ser mais um passo para pôr fim a este conflito
sangrento, que gerou uma das piores crises humanitárias do nosso tempo. Por
favor, não esqueçamos de pensar nas crianças do Iémen: fome, destruição, falta
de escolas, falta de tudo. Pensemos nas crianças!
Gostaria de assegurar as minhas orações pelas
vítimas dos deslizamentos de terra causados pelas chuvas torrenciais na região
metropolitana do Recife, no Brasil.
Saúdo todos vós, romanos e peregrinos! Saúdo a Associação “Advocacia em
missão”; os membros do Movimento Internacional de Reconciliação e do Movimento
não violento; o grupo escoteiro francês “Saint Louis”, a Sociedade de São
Vicente de Paulo e a fraternidade Evangelii gaudium. Saúdo os fiéis
de Piacenza d’Adige, o Coro de Castelfidardo, os jovens de Pollone e os de
Cassina de’ Pecchi — lembro-me de quando visitei estes lugares há tantos anos —
os peregrinos dos Santuários Antoniani de Camposampiero e os ciclistas de Sarcedo,
e saúdo também os jovens da Immacolata.
Manifesto a minha proximidade aos pescadores,
pensemos nos pescadores que, devido ao aumento do custo do combustível, correm
o risco de ter de cessar a sua atividade; e estendo-a a todas as categorias de
trabalhadores seriamente penalizados pelas consequências do conflito na
Ucrânia.
Eu rezo por vós, vós rezai por mim. Desejo a todos
bom domingo. Bom almoço e até à vista!
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