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Redação (26/06/2022 14:04, Gaudium Press) Um grande intelectual brasileiro dizia que a glória é como a nossa sombra: quanto mais corremos atrás dela, mais ela foge de nós; para que nos siga, é necessário fugir dela.
Mas isso não se passa somente com a glória; há uma série de outras coisas que obedecem à mesma regra, como por exemplo a paz.
“Paz”. Fala-se dela nos púlpitos, nos discursos políticos, nas mais diversas conferências, nas manifestações públicas… Mas, até hoje, quem a encontrou inteiramente? E não só isso: parece que quanto mais a buscamos, mais longe ela está de nós. Prova disso, as notícias publicadas nesses últimos meses: guerras, catástrofes naturais, roubos, crimes, assassinatos etc. É sempre a mesma coisa, só muda o lugar e a hora.
Isso sem contar a paz interior das pessoas. Terá havido época histórica em que a agitação e a inquietação, o medo e o temor pelo futuro tenham reinado tanto quanto em nossos dias? Por quê? Justamente porque se busca muito a paz… onde não existe.
O único caminho para a paz
Toda a Liturgia deste 13º Domingo do Tempo Comum nos convida a uma coisa só: seguirmos a Deus, cientes de que o resto nos virá por acréscimo.
Na primeira leitura, vemos Elias que, a mandato do Senhor, vai ungir Eliseu como profeta em seu lugar. Este apenas se despede de seus pais e passa a seguir Elias até o fim de sua vida (cf. Rs 19,16-21).
Já no Evangelho, o convite é muito mais exigente: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62). Foi o que Nosso Senhor respondeu àquele que disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me de meus familiares” (Lc 9,62).
Quer dizer, então, que Nosso Senhor veio perturbar ainda mais a vida familiar, separando os filhos dos pais? Este abandonar tudo para seguir a Deus não produziria ainda mais infortúnios para esta nossa sociedade tão caótica?
Pensar assim significa não ter compreendido o que significa “seguir a Nosso Senhor”. O próprio São Paulo nos diz na segunda leitura de hoje: “Irmãos, é para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai, pois, firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão” (Gl 5,1). Esta entrega completa a Deus, muito longe de ser um fardo ou uma perturbação para o nosso espírito, constitui a verdadeira paz de alma. Só mesmo nela encontramos repouso, livres de tudo aquilo que nos liga a este mundo.
Isto não significa, porém, que todos devem trancar-se num convento, para viverem uma vida de oração e penitência, sem contato algum com o mundo, dedicando-se unicamente ao serviço de Deus. O convite feito por Nosso Senhor é mais acessível do que imaginamos.
Honremos a religião que professamos
O número de católicos no mundo de hoje – sobretudo no Brasil – constitui uma porcentagem bastante considerável. Dentre eles, entretanto, há quem possa definir o que é ser católico verdadeiramente?
Ser católico é somente ir à Missa aos Domingos ou participar das festas, eventos e comemorações na Igreja? É pagar o dízimo? É dar esmolas?
São coisas muito boas, louváveis e santas – algumas até obrigatórias. Entretanto, isto nem de longe constituiria o cerne da vida cristã se não deixássemos aqueles costumes que são contrários a ela.
É deveras coerente aquele que, se dizendo católico, frequenta certos locais hostis à vida da graça, não desvia seus olhares de cenas opostas ao pudor e é capaz de permitir que palavras obscenas e indecentes manchem os seus lábios? Isto não é colocar a mão no arado e olhar para trás? Quem age assim não está apto ao Reino de Deus – foi o próprio Jesus quem o disse (cf. Lc 9,62).
O que nasce daí é a perda da paz, uma agitação interior de quem deseja coisas contrárias ao mesmo tempo. Esta tensão não tarda em transbordar para os nossos atos, para a nossa vida de família e, como consequência, para toda a sociedade.
O segredo para a paz é sermos coerentes com uma reta vida cristã: vivermos de acordo com esta reta escolha que fizemos.
Devemos, portanto, tomar a resolução de, agora em diante, nos entregarmos inteiramente a Deus e honrarmos o nome de católico que portamos, rejeitando tudo quanto não seja digno dele. Que jamais voltemos nossas vistas para as práticas más que abandonamos, pois, como diz São Nilo, “os repetidos olhares para aquilo que deixamos nos fazem voltar ao costume abandonado”.[1]
Por Lucas Rezende
[1] SÃO NILO, O MONGE, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Lucam, c.IX, v.57-62.
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