Os Santos Protomártires da Igreja de Roma | Guadium Press |
Seu
número não foi sequer contado. De seus nomes, a História registra apenas os dos
Apóstolos Pedro e Paulo. Todos os outros luzem no firmamento da Igreja como uma
constelação de astros anônimos, celebrados na Liturgia de 30 de junho.
Redação (30/06/2021 13:16, Gaudium Press) O primeiro ato do drama de seu martírio teve
início na noite de 19 de julho do ano 64, com os repetidos toques de trombetas
dos vigias postados em pontos chave da Capital do mundo. Toques de alerta, bem
conhecidos e temidos, logo seguidos dos primeiros gritos: “Fogo!… Fogo!… Fogo!”
Nero-Roma | Guadium Press |
Um incêndio
dotado de grande poder destruidor
Nessa cidade superpovoada, com bairros pobres nos quais se amontoavam casas
de madeira, um incêndio não passava de um acidente corriqueiro. Este, porém,
logo revelou ser dotado de grande poder destruidor. Em poucos minutos os brados
de “Fogo!”, cada vez mais apavorados, se espalharam pelas ruas do bairro
popular do Grande Circo e logo depois por outros bairros.
As chamas pareciam ter-se estendido por várias regiões ao mesmo tempo,
devorando implacavelmente lojas comerciais e residências. Encontrando em seu
caminho alguns depósitos de óleo e outros materiais combustíveis, alastraram-se
por toda a região em torno dos montes Palatino e Célio. Quando por fim elas se
apagaram, seis dias depois, haviam destruído dez dos quatorze bairros da grande
Metrópole imperial. Tão pavorosa fora a catástrofe que se tornou impossível
calcular o número de mortos.
Os Santos Protomártires | Guadium Press |
“Não é
permitido ser cristão”
Durante esses terríveis dias, grandes grupos de homens impediam, por meio
de ameaças, a ação de todos quantos queriam apagar o incêndio. Mais ainda,
todos os historiadores antigos concordam em que foram vistos homens atiçando o
fogo.
Os habitantes de Roma imediatamente acusaram Nero de ter provocado o
incêndio, ou pelo menos de o ter favorecido. Os antigos historiadores abonam
essa acusação, enquanto alguns modernos a rejeitam.
Deixando de lado a controvérsia histórica, o fato inegável é que o
monstruoso Imperador, para se livrar da imensa onda de indignação levantada
contra ele, lançou a culpa sobre os cristãos. Para o homem que havia mandado
matar sua própria mãe, a invenção de uma tal calúnia pesava muito pouco na
consciência.
Agindo em consequência, Nero mandou prender, de início, todos quantos se
proclamavam cristãos. Delatores movidos pelos mais espúrios interesses logo
possibilitaram a prisão de muitos outros. Quantos concretamente? Não se sabe.
Um historiador afirma ter sido “uma grande multidão”. Todos foram sumariamente
condenados à morte.
Em breve espalhou-se por todo o Império uma palavra de ordem: “Non licet
esse christianus — Não é permitido ser cristão”.
Martírio | Guadium Press |
Pavorosas
cenas do martírio
O ódio bimilenar de Satanás e de seus asseclas humanos contra a Santa
Igreja Católica está bem retratado nas cenas brutais e escabrosas dessa
primeira perseguição.
Não se limitaram os algozes a torturar e depois decapitar ou crucificar as
inocentes vítimas, em espetáculos no Circo de Calígula e Nero, localizado na
Colina do Vaticano. “Tudo quanto se pode conceber na imaginação de um sádico a
quem se concedesse plena liberdade para praticar o mal, foi posto em prática
numa atmosfera de pesadelo”, afirma o historiador Daniel Rops, em sua
monumental obra História da Igreja de Cristo.
O Imperador mandou franquear à populaça o jardim do parque imperial. Aí se
organizaram “caçadas” nas quais os alvos eram cristãos revestidos de peles de
animais ferozes para, assim, serem perseguidos e por fim dilacerados pelos
cães. Mulheres eram arremessadas ao ar por brutais chifradas de touros, numa
alegoria a episódios de uma fábula pagã. Não faltaram sequer ignominiosos
ultrajes e atentados à virgindade das donzelas.
Caindo a noite, os carrascos ergueram numerosos postes ao longo das
alamedas do parque, nos quais amarraram corpos de cristãos besuntados de resina
e pez, e lhes atearam fogo, a fim de servirem de iluminação para a “festa”.
Vestido de cocheiro, Nero passeava com seu carro puxado a cavalos pelas
alamedas abarrotadas de embasbacados espectadores e iluminadas por essas tochas
humanas.
São Clemente Romano, o terceiro sucessor de São Pedro, relata as horrorosas
cenas dessa noite, das quais foi testemunha ocular. E o historiador latino
Tácito, homem claramente hostil ao Cristianismo, escreveu que tal excesso de
atrocidade acabou por levantar em algumas parcelas da opinião pública um
movimento de pena em relação aos cristãos.
Estes são os Protomártires da Igreja de Roma. Seus nomes são desconhecidos
nesta terra, mas no Céu eles brilham como sóis por toda a eternidade, e lá
intercedem por nós que aqui celebramos sua gloriosa memória.
Carcere-mamertino | Guadium Press |
São Pedro e
São Paulo
Os dois mais importantes varões da Santa Igreja também sofreram o martírio
na perseguição de Nero. Os Apóstolos Pedro e Paulo foram presos e encerrados no
cárcere Mamertino, onde não cessaram seu apostolado, conseguindo a conversão
até dos próprios carcereiros.
O Príncipe dos Apóstolos foi condenado à crucifixão. Julgando-se indigno de
morrer como seu Mestre Divino, pediu aos algozes que o crucificassem de cabeça
para baixo. No local de sua sepultura foi edificada a grandiosa Basílica de São
Pedro.
O Apóstolo dos Gentios, por ser cidadão romano, mereceu um pouco mais de
consideração das autoridades imperiais. Conduzido para fora da cidade, morreu
decapitado na Via Ostiense. Sobre o seu túmulo se encontra a magnífica Basílica
de São Paulo Extramuros.
Martírio de S. Pedro | Guadium Press |
Seis milhões
de mártires
A esta primeira perseguição sucederam- se nove outras, ao longo dos 250
anos subsequentes, até a proclamação do Edito de Milão, em 313. Calcula-se que
nessa primeira fase da Igreja 6 milhões de mártires selaram com a morte sua fé
em Nosso Senhor Jesus Cristo. Ou seja, em média, 24 mil por ano, 66 por dia.
“O sangue dos mártires é semente de novos cristãos”. Esse sangue bendito
que regou a terra nos primeiros séculos do Cristianismo continua a produzir
seus frutos até hoje, e assim será até o dia em que a humanidade inteira for
convocada para o derradeiro ato da História, quando Cristo Glorioso ditará a
última sentença: “Vinde, benditos de meu Pai” […] “Afastai-vos de mim,
malditos” (Mt25, 34 e 41).
Por Padre Felipe Ramos
Publicado em Revista Arautos do Evangelho, ano 4, jun. 2005, n. 42, p.
32-33.
Fonte: https://gaudiumpress.org/
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