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A IGREJA PERMITE A CREMAÇÃO?
Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Cresce na sociedade atual a prática da cremação. Essa
nova postura diante do corpo dos falecidos suscita uma reflexão sobre o sentido
do findar a existência.
Na antiguidade, a prática da cremação provinha de duas
razões diferentes: a necessidade de trazer de volta os soldados mortos, para
receberem sepultura em sua pátria, como ocorria entre os gregos; ou por
convicções religiosas, como entre os escandinavos, que acreditavam assim
libertar o espírito de seu invólucro carnal e evitar que o morto pudesse causar
algum mal aos vivos.
Era prática judaica enterrar os mortos na terra ou em
túmulos de pedra. Não era costume judeu cremar os corpos e contemplavam essa
prática com horror. Os cristãos seguiram o exemplo judaico no que concerne ao
respeito aos mortos. Aceitavam o ensino de que o corpo do cristão é o Templo do
Espírito Santo e, como tal, deveria ser respeitosamente enterrado. Os cristãos
primitivos procuravam sepultar seus mortos num mesmo lugar, dando a esse lugar
o título de cemitério, cujo significado é dormitório.
O Cristianismo sustenta claramente que os mortos
ressuscitarão e a sua identidade pessoal será restaurada em plenitude. Por
isso, a Igreja sempre se opôs à cremação dos corpos de seus fiéis, ao passo que
sempre permitiu uma certa variedade de enterros, seja a princípio dentro de
igrejas no caso dos mártires, ou nos jardins das igrejas, em solos consagrados
fora da cidade ou mesmo em cemitérios seculares.
Atualmente, a Igreja Católica não põe qualquer objeção à
cremação, mas dá preferência ao sepultamento. O que deve ser garantido é que a
cremação não seja expressão de oposição à esperança na
ressurreição.
Contudo, a Igreja exorta que não se esparjam as cinzas
dos católicos na natureza. O corpo é concreto e é um sinal sensível. O que resta
do corpo é um sinal de referência. Daí o valor de conservar com respeito as
cinzas e de não as dispersar. Prefere-se que a urna que contém as cinzas
seja depositada em local apropriado, sejam em columbários, espaços apropriados
para deixar as urnas, em locais especiais. Igualmente é desejável que o
católico coloque a urna num cemitério, no túmulo de algum parente. Enfim, há
igrejas que dispõem de locais para essa finalidade, como o subsolo da Basílica
da Medianeira em Santa Maria.
Na morte nós voltamos para Deus e não para a natureza. É
outra razão simbólica para que as cinzas não sejam espalhadas, embora o Criador
possa reconhecer os seus sem que, nem o fogo que incinerou os corpos e nem o
verde da natureza que os absorveu, possa impedir.
De qualquer forma, cuidar do corpo dos mortos é uma prática cristã antiga. Em sua obra De Cura pro Defunctis Gerenda, (sobre os cuidados que se deve ter pelos mortos), Santo Agostinho declara que embora o morto não saiba o que está acontecendo na terra, as observâncias dos ritos funerais indiretamente proporcionam-lhes benefícios na medida em que os vivos que visitam suas tumbas são levados a recordá-los e orar por eles.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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