Cardeal Cláudio Hummes Vatican News |
O cardeal franciscano faleceu nesta segunda-feira. Seu
longo ministério foi dedicado, em particular, ao acompanhamento dos povos
indígenas, do qual trouxe a voz ao Sínodo para a Região Pan-Amazônica em 2019.
Vatican News
Com uma nota de "pesar e
esperança", o cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo,
comunicou o falecimento nesta segunda-feira, 4 de julho, do cardeal Cláudio
Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o
Clero:
Comunico, com grande pesar, o
falecimento do Eminentíssimo Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo emérito de São
Paulo e Prefeito emérito da Congregação para o Clero, no dia de hoje, com a
idade de 88 anos incompletos, após prolongada enfermidade, que suportou com
paciência e fé em Deus. O médico Dr. Rodrigo Paulino constatou a morte do
Cardeal, ocorrida um pouco após às 9h da manhã de 04/07/2022. Nascido em
Salvador do Sul (RS), em 08.08.1934, entrou na vida religiosa da Ordem
Franciscana dos Frades Menores; recebeu a ordenação sacerdotal em 3 de agosto
de 1958 e a ordenação episcopal em 25 de maio de 1975. Foi bispo diocesano de
Santo André (SP), Arcebispo de Fortaleza e Arcebispo de São Paulo. Foi feito
membro do Colégio Cardinalício pelo Papa São João Paulo II no Consistório de 21
de fevereiro de 2001. De 2006 a 2011 trabalhou ao lado do Papa Bento XVI em
Roma, como Prefeito da Congregação para o Clero. De volta ao Brasil, ocupou a
função de Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB, e da recém
criada Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA). Convido todos a elevarem
preces a Deus em agradecimento pela vida operosa do falecido Cardeal Hummes e
de sufrágio em seu favor, para que Deus o acolha e lhe dê a vida eterna, como
creu e esperou. Deus acolha em suas moradas eternas nosso irmão falecido,
cardeal Cláudio Hummes, e faça brilhar para ele a luz eterna. Seu corpo será
velado na Catedral Metropolitana de São Paulo, onde serão celebradas Santas
Missas em diversos horários a serem oportunamente divulgados.
Também o arcebispo do Rio de
Janeiro, card. Orani João Tempesta, lamentou a morte de Dom Cláudio com estas
palavras:
“Neste momento em que o
Cardeal Hummes volta para o Pai, a Nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio
de Janeiro, reza pelo seu repouso eterno. Para que possa contemplar a visão
beatífica e o amor misericordioso do Pai. Que aqueles que desfrutam da sua
amizade próxima, seus familiares, a arquidiocese de São Paulo, as congregações
romanas que ele presidiu e serviu e em especialmente os povos da Amazônia, a
quem também serviu na recém criada Conferência Episcopal da Amazônia, possam
experimentar a nossa fraternidade solidária e nosso abraço fraterno. Que a
esperança esteja cada vez mais presente no coração de todos.”
Trajetória
No seu brasão episcopal lê-se
"Omnes vos fratres" (Vós sois todos irmãos), ecoando a
expressão de São Francisco de Assis, "Fratelli tutti”, que
inspirou também a última encíclica do Papa. Outro sinal evidente daquela
unidade de propósitos e pensamento que o ligava ao outro Francisco, o Pontífice
reinante, cujo nome foi fruto de sua sugestão.
“Dom Cláudio”, como era chamado
carinhosamente por quem conhecia o cardeal Cláudio Hummes, faleceu nesta
segunda-feira, 4 de julho. Ele tinha 87 anos e um grande coração que pulsava -
e não há retórica em dizer isso - pelos "pobres". Os povos indígenas
da Amazônia, como os missionários consagrados e leigos; os sedentos e famintos
do “Sul do mundo”, como os operários mal pagos ou as vítimas das mudanças
climáticas.
Ele os tinha em mente o tempo
todo, mesmo nas últimas votações do Conclave de 2013 que elegeu o arcebispo de
Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio. Ao amigo argentino, sentado ao seu lado,
quando alcançou o número de votos necessários para ser eleito, sussurrou-lhe ao
ouvido: "Não se esqueça dos pobres". Da intuição surgiu outra
intuição do Papa recém-eleito para a escolha do nome. Foi o próprio Francisco a
revelar aos jornalistas que encontrou na Sala Paulo VI em 16 de março de 2013:
Tinha ao meu lado o Cardeal
Cláudio Hummes, o arcebispo emérito de São Paulo e também prefeito emérito da
Congregação para o Clero: um grande amigo, um grande amigo! Quando o caso
começava a tornar-se um pouco «perigoso», ele animava-me. E quando os votos
atingiram dois terços, surgiu o habitual aplauso, porque foi eleito o Papa. Ele
abraçou-me, beijou-me e disse-me: «Não te esqueças dos pobres!» E aquela
palavra gravou-se-me na cabeça: os pobres, os pobres. Logo depois, associando
com os pobres, pensei em Francisco de Assis.
Hummes alegrou-se com aquela
eleição e ao Papa, pelos microfones da Rádio Vaticano, desejou "um
pontificado prolongado", porque, afirmou, "a Igreja precisa deste
pontificado, a Igreja precisa deste projeto que ele manifesta e que colocou em
andamento".
Hummes sempre rezou pela
Igreja, para que ela fosse sempre firme e unida, não cedendo às ameaças
externas e internas. “A Igreja defende a sua unidade como unidade da
pluralidade. As divisões são um mal”, disse o cardeal, diante de quem
questionava a autoridade do Papa.
Nesta Igreja que desejava
pobre e sempre "em saída", o arcebispo emérito de São Paulo fazia
votos que pudesse ressoar com força a voz das populações amazônicas, feridas
pelo desmatamento, por projetos predatórios e doenças da terra e das pessoas,
bem como os problemas pastorais. Outro motivo de grande alegria para o cardeal
foi, de fato, a convocação do Sínodo para a Região Pan-Amazônica em outubro de
2019, uma oportunidade para concentrar a atenção coletiva em uma parte do mundo
muitas vezes esquecida.
Nomeado relator geral, no
pronunciamento introdutório propôs aos participantes da assembleia concentrar
seus trabalhos em novos caminhos para a Igreja na Amazônia: inculturação e interculturalidade,
a questão da escassez de sacerdotes; o papel dos diáconos e das mulheres, o
cuidado com a Casa Comum no espírito da ecologia integral. “Os povos indígenas
demonstraram de muitas maneiras que desejam o apoio da Igreja na defesa e
proteção de seus direitos, na construção de seu futuro. E pedem que a Igreja
seja uma aliada constante”, disse o cardeal na Sala nova do Sínodo. “Aos povos
indígenas devem ser restituídos e garantidos o direito de serem protagonistas
de sua história, sujeitos e não objetos do espírito e da ação do colonialismo
de ninguém”.
Ao contrário daqueles que
olharam apenas para os resultados imediatos do Sínodo, julgados insatisfatórios
em relação aos pedidos de muitos dos participantes, Hummes sempre olhou além da
assembleia no Vaticano. Não ao Sínodo, mas ao processo que o Sínodo abriria na
Amazônia e no mundo.
Nos últimos tempos,
especialmente desde 2020, ano de sua nomeação como presidente da recém-criada
Conferência Eclesial da Amazônia, insistia de fato na “aplicação” das
indicações do Sínodo. “O Sínodo é o ponto alto que ilumina os caminhos. Porém
continua agora, todo o processo continuará também na aplicação pós-sinodal, no
território e em todos os lugares onde exista uma conexão", disse sempre
aos meios de comunicação vaticanos, através dos quais denunciou também a
"grave crise climática e ecológica" que realmente coloca em risco
"o futuro do planeta e, portanto, o futuro da humanidade".
Esta mesma urgência foi
reiterada pelo cardeal em uma carta de julho de 2021, na qual pedia ao mundo
que passasse do "ter que fazer", portanto de belas promessas, ao
"fazer", ou seja, à ação concreta, para que as resoluções do Sínodo
na Amazônia não caiam no vazio, mas encontrem aplicação prática nas diversas
comunidades. “Está certo em continuar discernindo o que devemos fazer, mas
mesmo que isso seja bom, não é o suficiente”, escreveu o cardeal.
Nascido em Montenegro, Rio
Grande do Sul, de família de origem alemã, Auri Afonso - este é o seu nome de
Batismo - assumiu o nome religioso Cláudio ao ingressar na Ordem dos Frades
Menores em 1956. Em Roma estudou filosofia e especializou-se em ecumenismo no
Bossey Institute em Genebra; foi professor, reitor, teólogo, bispo. Passou vinte
e um anos, a partir de 1975, em Santo André, onde se destacou pela defesa dos
trabalhadores, por apoiar os sindicatos e participar de greves como bispo
encarregado da Pastoral Operária em todo o Brasil. Em 1996 foi nomeado
arcebispo de Fortaleza, no Ceará. Durante seus dois anos de ministério foi
responsável pela família e cultura na Conferência Episcopal Brasileira em
Brasília. Foi, portanto, um dos arquitetos do II Encontro Mundial das Famílias
com o Papa, realizado no Rio de Janeiro em 1997.
Em 15 de abril de 1998, João
Paulo II o quis como arcebispo metropolitano de São Paulo, onde deu impulso à
pastoral vocacional, à formação dos sacerdotes e à evangelização da cidade. O
papel desempenhado no campo da comunicação de massa também foi importante,
porque a Igreja - afirmou - tinha que falar com a cidade, aproximando os
católicos e levando o Evangelho às famílias.
Wojtyla também o criou cardeal
em 21 de fevereiro de 2001. Em seguida, participou do Conclave em abril de 2005
que elegeu Joseph Ratzinger. E o próprio Bento XVI o nomeou prefeito da
Congregação para o Clero em 2006, em sucessão ao cardeal Darío Castrillón
Hoyos. Em maio de 2007 participou da V Conferência Episcopal Latino-Americana,
mais conhecida como Conferência de Aparecida, cujo relator do documento final
foi o cardeal Bergoglio.
Em 2010, Hummes renunciou ao cargo de prefeito e
presidente do Conselho Internacional de Catequese, órgão vinculado à
Congregação, ao atingir o limite de idade. Em 29 de junho de 2020 foi eleito
presidente da Conferência Eclesial da Amazônia, instituída como uma
"ferramenta eficaz" para implementar muitas das propostas que
surgiram do Sínodo e se tornar "uma ponte que anima outras redes e
iniciativas. ambientais a nível continental e internacional". O que Dom
Cláudio tentou fazer até os últimos dias de sua vida terrena.
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