Jovens iraquianas em vestes tradicionais na acolhida ao Papa Francisco na Igreja da Imaculada Conceição em Mosul, em 7 de março de 2021 (AFP or licensors) |
A verdadeira invasão do Iraque pelo autoproclamado estado
Islâmico, causou não somente enormes perdas humanas e materiais, mas também
destruiu parte da história conservada em livros e manuscritos. Muito material
conseguiu ser salvo da fúria jihadista também com ações individuais. Agora,
investe-se no recomeço também da vida cultural. Fundamental neste sentido, a
iniciativa de algumas jovens cristãs.
Em Mosul e na Planície de
Nínive, a rede de bibliotecas e livrarias também pagou um alto preço pela
ocupação jihadista e pelas intervenções militares que a combateram. Naqueles
anos difíceis, de 2014 a 2017, livrarias foram fechadas, bibliotecas de valor
histórico foram destruídas, coleções de livros e manuscritos antigos foram
levados para longe como única forma de salvá-los de saques e da destruição.
Agora, entre os sinais de um
"recomeço" da vida social e comunitária naquela região do Iraque,
está também a reabertura de bibliotecas, livrarias e centros culturais. Um
fenômeno que envolve de forma singular alguns jovens pertencentes a comunidades
cristãs autóctones.
No povoado de Sirishka, no
distrito de Alqosh, nordeste de Mosul, por exemplo, cresce o interesse e o
envolvimento da população local em torno da iniciativa de Janan Shaker Elias, a
jovem que abriu ao público uma biblioteca privada que logo se tornou um centro
de encontros e intercâmbios culturais. Atualmente, o local oferece quase 2 mil
volumes para consulta gratuita (número em crescimento lento, mas constante),
divididos por gêneros e disciplinas, além de funcionar como centro de reservas
de livros para a compra.
A ideia de abrir uma livraria
- contou Janan à imprensa local – já estava em sua mente há algum tempo, visto
que mesmo antes do último conflito, era sempre obrigada a encomendar livros
on-line e esperar longos prazos de entrega.
O propósito se fortaleceu
ainda mais quando Janan e sua família viram-se obrigados a deixar seu povoado,
ameaçado pelo avanço dos jihadistas do Estado Islâmico (Daesh).
De volta a Sirishka, e depois
de terminar seus estudos universitários, Janan finalmente conseguiu realizar
seu sonho, com o qual espera contribuir para a recomposição do tecido social,
cultural e comunitário dilacerado por conflitos e impulsos sectários.
A preocupação dos jovens cristãos
pelo papel desempenhado pelas bibliotecas e livrarias na retomada da
convivência civil na região iraquiana, que por anos permaneceu sob ocupação
jihadista, também veio à tona no final de junho na Faculdade de Letras da
Universidade de Mosul, onde várias pessoas assistiram à discussão da tese
desenvolvida pela estudante Sanbla Aziz Shihab sobre o tema da destruição de
bibliotecas e seu impacto negativo na paz comunitária no Iraque. Em sua
pesquisa, a estudante de pós-graduação se concentrou na destruição de
bibliotecas cristãs em Mosul e nas cidades da Planície de Nínive durante os
anos da recente ocupação jihadista.
Em fevereiro passado, a
reabertura da Biblioteca da Universidade de Mosul, reconstruída após a
devastação sofrida durante as ofensivas militares contra os ocupantes do Daesh,
foi apresentada pela mídia internacional como um sinal objetivo do
"reinício" da metrópole do norte do Iraque, após anos de massacres,
bombardeios e fugas em massa.
*Com Agência Fides
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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