Papa Francisco na Praça São Pedro na Missa conclusiva do Encontro Mundial das Famílias (Vatican Media) |
O X Encontro Mundial das Famílias reuniu em Roma famílias
do mundo inteiro. Mas, qual o legado deste encontro para as famílias no Brasil?
Quem nos fala, é um casal de brasileiros presente no encontro.
Marília de Paula Siqueira -
Cidade do Vaticano
As famílias do Brasil e do
mundo inteiro acompanharam pelas redes sociais o X Encontro Mundial das
Famílias. Ao todo foram 10 painéis, palestras, a Missa com a participação do
Santo Padre e o Envio das famílias de diversas partes do mundo.
Na delegação brasileira estavam
presentes Luiz Stolf e Kathia Stolf, atuais coordenadores nacionais da Pastoral
Familiar no Brasil. O casal conversou com o Vatican News sobre o legado do X
Encontro Mundial das Famílias.
Vidas dedicadas
as famílias
Luiz Stolf e Kathia Stolf estão
casados há trinta e nove anos, são pais de um casal de filhos e possuem quatro
netos. Estão na coordenação da pastoral familiar nacional desde 2017. No
Regional Sul 4 e na Diocese de Joinville, onde moram, Luiz e Katia também
colaboram na evangelização de casais.
Eles participaram de grupo de
Jovens, foram catequistas de crisma com adolescentes e realizaram trabalhos com
famílias no movimento do encontro matrimonial mundial. Além da
coordenação nacional da pastoral familiar, trabalham na catequese de noivos na
paróquia em que participam e na Diocese de Joinville fazem parte da comissão do
direito à vida.
Já participaram do IX Encontro
Mundial das Famílias em Dublin - Irlanda e recentemente do X Encontro Mundial
das Famílias em Roma. Momentos de aprendizado e de alegria de estar com
famílias do mundo inteiro refletindo a beleza e a alegria de ser família, não
famílias perfeitas, mas famílias buscando a vivência da santidade no dia a dia
da família
O cuidado com o
mundo das telas
Na homilia do Santo Padre na Missa
conclusiva do X Encontro Mundial das Famílias, ele diz: “Todos vós,
esposos, ao formar a vossa família, com a graça de Cristo fizestes esta
corajosa opção: não usar a liberdade para proveito próprio, mas para amar as
pessoas que Deus colocou junto de vós. Em vez de viver como «ilhas»,
fizestes-vos «servos uns dos outros». Assim se vive a liberdade em família!”
O mundo das telas (celular,
computador, TVs e etc) está muito presente na atual sociedade, fazendo com que
as famílias vivam este mundo de “ilhas” que diz o Papa. Sobre superar esses
isolamentos o casal enfatiza que: “A um tempo atrás o Papa Francisco
nos dizia que as mídias sociais são boas, evidentemente que ele se referia
sobre as redes dessa forma quando são bem utilizados, ou seja, quando
utilizamos para a boa informação, evangelização, para nos aproximar uns dos
outros, edificar e dinamizar o bem.
O segredo é exatamente este,
não utilizar a liberdade das redes para o bem de si próprio. Quando utilizamos
as redes para o bem próprio vivemos o isolamento e perdemos a oportunidade de
estar com o outro. No isolamento não sentimos e nem oferecemos o calor humano,
afeto, abraço e o olhar uns para os outros. Caímos no risco do esfriamento das
relações e assim vamos nos acostumando ao ponto de tornarmos dependentes das
mídias.
Dizer aos jovens que eles não
podem utilizar o aparelho celular, com certeza irá provocar um sentimento de estarem
deficientes ou mutilados, pois é como se o aparelho fosse uma extensão de seu
corpo. Para evitar o isolamento é necessário que os pais ou os responsáveis
primeiro deem o exemplo e depois com uma pedagogia própria proponham critérios
para a utilização das mídias, determine horários, locais e acompanhe os
conteúdos que os filhos estão acessando. Também é necessário promover momentos
de encontros para o diálogo e a fraternidade da família.
Casal Luiz Stolf e Kathia Stolf, coordenadores da Pastoral Familiar no Brasil |
O perigo de uma
cultura individualista
Na celebração do matrimônio os
noivos realizam promessas de doação um ao outro. Como diz o Papa Francisco,
fazem-se servos uns dos outros. Para viver essa doação total, Luiz e Kathia
orientam que: “A atual sociedade tem levado os jovens a experimentar e viver
uma cultura extremamente individualista de forma muito aberta e direta.
Fazendo-os crer que a liberdade está exatamente em fazer tudo o que lhe dá
prazer pessoal, mesmo que seja por pouco tempo. Ir contra essa cultura é o
grande desafio que se impõe a nós como agentes de pastoral e a igreja como um
todo.
Em primeiro lugar deve-se
acompanhar e orientar as famílias para que elas possam dar bons testemunhos.
Entre os pais deve-se ter a prática da doação e estes serem servos uns dos
outros. Porém quando os jovens não têm essa experiência dentro de suas famílias
o caminho se torna mais difícil e longo. É preciso por muitas vezes evidenciar
a eles na teoria a importância e a profundidade dessa doação mútua fazendo-se
servos.
O acompanhamento dos jovens
para o Sacramento do Matrimônio
A partir de Amoris Laetitia a Igreja propõe a
pastoral família que acompanhe os jovens para o sacramento do matrimônio. Este
acompanhamento passa pelas seguintes fases: “A Pastoral Familiar atualmente
propõe, a partir da Amoris Laetitia, caminhos de catequeses ou itinerários onde
os jovens são acompanhados e preparados para o sacramento do matrimônio. O
caminho é normalmente realizado com um outro casal da pastoral. Este casal
reproduz aos jovens que estão na preparação do matrimônio as experiências
pessoais e os testemunhos desta vivência na prática do servir um ao outro no
dia a dia, para que os jovens percebam que é possível viver este amor doação.
Evidentemente que essa prática
do amor doação só será possível a partir da centralidade em Jesus, neste
sentido sugerimos que eles possam buscar uma aproximação com a palavra de Deus
e os sacramentos.
Outra caminhada através de um
itinerário de acompanhamento para os casais recém-casados por um período de
dois anos com encontros mensais onde são abordados temas específicos e próprios
que os ajudarão a se manter firmes na construção do relacionamento.”
O acolhimento, o
espírito de serviço dentro da família
Outra fala do Papa Francisco
de destaque é: “A caraterística própria da família: o acolhimento, o
espírito de serviço dentro da família”.
Para viver essas
características os coordenadores da pastoral familiar no Brasil fazem a
seguinte reflexão: “A prática do serviço dentro da família não é algo que
inicia por acaso ou a partir de um dia para o outro como num passe de mágica.
Essa prática normalmente é herdada a partir da família do esposo e da esposa.
Vem dos nossos avós, tios, pais e primos, das pessoas com vínculos familiares,
ou ainda em casos mais esporádicos a partir de outras pessoas de nosso
convívio, isso que nos diz é o próprio Francisco.
Quando realizamos em nossas
famílias o acolhimento e estamos a serviço, praticamos gestos que nos faz
sentir bem. Este se sentir bem é uma motivação para que esses atos sejam sempre
praticados. Se torna uma realidade concreta, não por interesses, mas pelo
simples fato de que ao fazer o bem para o outro retorna para nós em forma de
alegria, de agradecimento e principalmente pela felicidade do outro.
A família pode viver essas
características no cotidiano. Nos afazeres domésticos onde os membros das
famílias podem se antecipar e colocar-se a disposição para realizar
determinadas tarefas, ou ainda quando um chega o outro vai ao encontro e
perguntar como foi o dia, mostrando-se interesse, o filho ao voltar da escola
também ou do trabalho, sempre agir de maneira afetuosa e amorosa. É fazer com
que cada um sinta parte integrante e importante dentro de sua família.
Um outro exemplo é acolher e
cuidar de nossos idosos, com carinho e respeito, os filhos irão seguir estes
exemplos pois o testemunho vale mais de que as palavras.”
A
responsabilidade dos pais
Em outro momento Francisco se
dirige especialmente aos pais: “Queridos pais, a Palavra de Deus
mostra-nos o caminho: não é preservar os filhos do mínimo incómodo e
sofrimento, mas procurar transmitir-lhes a paixão pela vida, acender neles o
desejo de encontrar a sua vocação e abraçar a missão grande que Deus pensou
para eles.”
Como os pais devem trilhar
este caminho? “Os pais possuem uma responsabilidade determinante no
desenvolvimento da vida dos filhos, seja no âmbito religioso, formação integral
e também no discernimento da vocação. Quanto à questão da formação espiritual
deve começar desde da infância e como já dizemos a partir do próprio exemplo
dos pais, onde devem cultivar a prática oracional, seja em casa ou na
comunidade paroquial e ir construindo no interior dos filhos esse valor.
Os filhos que são acompanhados
e orientados pelos pais terão certamente mais facilidade no discernimento de
sua vocação. Bons exemplos e convívio com outras pessoas maduras e seguras de
sua vocação ajudam os filhos a corresponder a vocação” Afirmou o casal.
Preparar os
filhos para os sofrimentos
Na visão de Luiz e Katia, o
casal deve preparar os filhos para enfrentar as dificuldades da vida: “É
comum ouvirmos dos pais a afirmação; - “não quero que meu filho passe por
aquilo que passei,” – isto é, não quer que os filhos passem por dificuldades. A
partir desta afirmação os pais acabam oferecendo aos filhos principalmente bens
materiais como: brinquedos, celular, computador, carro e etc. Ao se tornar
adulto este filho vai sofrer pois não foi preparado para suportar as
dificuldades da vida e não terá paciência para esperar.
As dificuldades devem ser
enfrentadas como desafios a serem superados, que precisa de paciência e
resignação, mas devemos estar preparados e preparar os nossos filhos. Um
exemplo que damos é de quando preparamos nossos filhos para o sacramento do
matrimônio. Eles devem ter a consciência das adversidades que terão, porém isso
é natural, faz parte da vida, pode-se dizer que faz parte da missão.”
A primeira
missão do Casal
“A primeira missão do casal é
fazer o outro feliz, independentemente da situação, por isso as promessas no
dia do casamento na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza. Quando o
casal compreende esta missão como graça de Deus passam a transmitir da beleza
de estar abertos a geração da vida, assim colaborando com Deus na perpetuação da
espécie humana.
Um termo muito usado entre os
casais é o da fidelidade. A fidelidade transpassa o ato da traição, ser fiel ao
esposo (a) é maior, pois fidelidade trata-se de estar aberto ao diálogo, a
escuta, estar atento as necessidades, é ter empatia, é viver as vinte e quatro
horas para o outro. Está não é uma fácil missão pois nem sempre estamos bem,
pois experimentamos sentimentos bons e maus a todo instante. O perdão e a
paciência são dois elementos que colaboram na fidelidade, com certeza já passamos
por situações de tomarmos decisões precipitadas e por conta destas acabamos
muitas vezes ferindo uns aos outro, por isso o perdão e a paciência são
exercícios diários.
É importante ter equilíbrio e
discernimento para bem viver essas dimensões, sempre mantendo um diálogo
profundo, aberto e sincero.”
Para os dias
tristes e de provações, a resposta é vida de oração
Como acompanhadores de outros
casais, Luiz e Kathia dão dicas para os dias tristes e de provações: “Primeiramente
ter uma profunda vida de oração, pois só através dela nos manteremos fortes e
confiantes na providência divina e assim mantermos a esperança de que tudo é
suportável. Deus jamais nos permitirá desafios maiores do que poderemos
suportar e um lar construído sobre a rocha se manterá firme aconteça o que
acontecer.
Em segundo lugar construir um
relacionamento profundo na confiança mútua onde podemos nos apoiar um no outro,
de tal forma que o peso do fardo possa ser dividido, tornando-se assim mais
leve e suave.
As dificuldades ou desafios do
casal, quando são superados por eles juntos, tornam o casal mais forte,
confiante, maduro e se sentirão seguros para enfrentar novos desafios, pois
quando um se entrega ao outro verdadeiramente as bênçãos e as graças de Deus serão
abundantes sobre o casal e o seu lar.
O Papa Francisco no Encontro mundial das famílias
nos disse. “A vida familiar não é uma missão impossível. Com a graça do
sacramento, Deus torna-a uma viagem maravilhosa que se há de fazer juntamente
com Ele; nunca sozinhos”.
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