Professor Vigílio Viana | Vatican News |
O professor Virgílio Viana participou de evento da
Pontifícia Academia das Ciências Sociais, da qual é membro recém-empossado pelo
Papa Francisco. Superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável, fez
ecoar no Vaticano a urgência de cuidar do meio ambiente e dos mais vulneráveis,
e homenageou o Cardeal Cláudio Hummes, "embaixador da Amazônia".
Bianca Fraccalvieri – Vatican
News
"Resiliência de pessoas e
ecossistemas sob estresse climático": este foi o tema de um evento que se
realizou esta semana no Vaticano na Casina Pio IV, sede da Pontifícia Academia
das Ciências.
O representante da América
Latina foi o professor Virgílio Viana, superintendente-geral da Fundação
Amazônia Sustentável e membro recém-empossado da Pontifícia Academia das
Ciências. Diante de fenômenos sempre mais drásticos, como grandes enchentes e
secas que se verificaram recentemente no Brasil, o professor explica na prática
o que significa resiliência. E adverte: as mudanças climáticas são muito mais
graves do que por exemplo a Covid. Para o vírus temos a vacina, para as
consequências desses fenômenos podemos contar somente com nossa capacidade de
adaptação.
Nós estamos diante da maior
crise e da maior ameaça para o futuro da humanidade, que são as mudanças
climáticas. Isso é um tema que já vem sendo estudado por muitos cientistas há
muitas décadas e nós estamos num momento extremamente crítico, porque a janela
de oportunidade para evitar que o problema se agrave está se fechando. Nós
temos muito pouco tempo para fazer uma mudança radical no atual sistema de
produção - e falo 'sistemas' de maneira global em todo mundo, tanto da
agricultura, quanto da indústria, quanto dos modos de vida de cada um. E ao
mesmo tempo nós já estamos sofrendo as consequências das mudanças climáticas.
Isso representa uma ameaça
para todas as sociedades, a todas as pessoas. É como se fosse um covid, só que
muito mais grave do que o covid, muito mais grave, porque o covid tem uma
vacina. Não tínhamos uma vacina, mas se sabia que seria possível produzir e ela
veio ser produzida. No caso das mudanças climáticas, uma parte disso não tem
solução, então nós temos que nos adaptar. E essa adaptação é urgente e tem que
começar com um olhar especial às populações mais vulneráveis, que são as
populações pobres. O mundo tem de três a quatro bilhões de pessoas pobres. O
Brasil teve um aumento recente da pobreza extrema, que é muito preocupante e
essas populações têm o que nós chamamos de uma menor resiliência. Ou seja, uma
vez que uma família de baixa renda sofre inundação e perde o fogão, a
geladeira, os seus pertences, ela tem muito menos capacidade de recuperar-se
disso. Aí a gente vai assistir a situações muito trágicas. E isso vai afetar a
todos, independentemente de a pessoa ter um poder aquisitivo maior ou menor,
mas nós precisamos de um olhar especial mais atento e olhar também para o
grande desafio que o Brasil tem que é a redução das desigualdades. O Brasil é
um dos países mais desiguais, mais injustos e o Papa Francisco tem falado muito
sobre esse tema da justiça.
O professor Viana revelou que
o Brasil esteve presente na Conferência através também da recordação do Cardeal
Cláudio Hummes, que faleceu no dia 4 de julho.
Dom Cláudio Hummes foi um
grande embaixador da Amazônia junto ao Papa Francisco, junto à Igreja junto è
sociedade brasileira e internacional como um todo. Foi uma grande perda. Nós
fizemos ontem uma pequena missa na Academia de Ciências em homenagem ao Cardeal
Dom Cláudio Hummes. Eu tive também a oportunidade de participar da missa que ocorreu
na Catedral da Sé em São Paulo, na semana passada, e que foi também muito
bonita, muito emocionante. Então, eu acredito que o legado do Cláudio Hummes
seja um legado que mereça a atenção de todos nós. As palavras que ele dirigiu,
ele esteve visitando a Fundação diversas vezes, acompanhando o trabalho de
campo, e uma mensagem que ele me falou numa das últimas conversas que tivemos,
foi que agora era hora da ação, porque já tinha passado ou já passou o período
de nós nos sensibilizarmos para a gravidade, para a urgência. Agora é a hora de
cuidarmos da Amazônia e dos seus povos.
O professor Viana é um
“novato” na Pontifícia Academia das Ciências Sociais. Ele foi nomeado pelo Papa
em 18 de outubro do ano passado, mas só tomou posse dois meses atrás:
Eu tive a honra e o privilégio de ser empossado pelo Papa
Francisco cerca de dois meses atrás e foi uma cerimônia simples, mas muito
tocante para mim pessoalmente. O Papa colocou no meu pescoço um colar, uma
insígnia, que faz parte do ritual da nomeação para a Academia de Ciências. E eu
troquei umas palavras com ele e foi muito marcante essa cerimônia de posse para
mim, porque é uma missão, não é uma condecoração: é mais uma missão de
contribuir para a doutrina da Igreja, mas também para a humanidade. A Academia de
Ciências tem isso, tem esse mandato de olhar de uma maneira bem ampla para os
temas que afligem a humanidade e que extrapolam os muros da Igreja Católica.
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