A Igreja na Idade Média | Guadium Press |
A Igreja e o ensino na Idade
Média
O Dr. Thomas
Woods, PhD em História pela Universidade de Harvard nos EUA, disse em um dos
seus livros que:
“Bem mais do que
o povo hoje tem consciência, a Igreja Católica moldou o tipo de civilização em
que vivemos e o tipo de pessoas que somos. Embora os livros textos típicos das
faculdades não digam isto, a Igreja Católica foi a indispensável construtora da
Civilização Ocidental. A Igreja Católica não só eliminou os costumes
repugnantes do mundo antigo, como o infanticídio e os combates de gladiadores,
mas, depois da queda de Roma, ela restaurou e construiu a civilização” [Woods,
2005, pg. 7].
Um dos pontos
mais importantes da atuação da Igreja na Idade média cristã, foi no campo da
Ciência. Sem a Igreja não haveria a beleza da arquitetura, da música, da arte
sacra, das universidades, dos castelos, do direito, da economia, etc.
No séc. VI São
Cesário de Arles já expunha no Concílio de Vaison (529) a necessidade imperiosa
de criar escolas no campo; e os bispos se dedicaram a isto. Da mesma forma foi
a Igreja que montou para Carlos Magno (†814) a sua política escolar; e retomou
a tarefa educadora no séc. X após o fim do seu Império.
O III Concílio
de Latrão (1179), em Roma, presidido pelo Papa Alexandre III (1159-1181),
ordenou ao clero que abrisse escolas por toda a parte para as crianças,
gratuitamente. Obrigou a todas as dioceses terem ao menos uma. Essas escolas
foram as sementes das Universidades que logo surgiam: Sorbone (Paris), Bolonha
(Itália), Canterbury (Inglaterra), Toledo e Salamanca (Espanha), Salerno, La
Sapienza, Raviera na Itália; Coimbra em Portugal.
No séc. XII
havia só na França 70 abadias com escolas. Todos os grandes bispos também
quiseram ter escolas; na França, no séc. XII havia mais de 50 escolas
episcopais. Dos sete aos vinte anos as crianças e os jovens eram recebidos
nessas escolas sem distinção de classes. Havia escolas só para meninas e moças.
As disciplinas dividiam-se em “trivium” (gramática, dialética e retórica) e
“quadrivium” (artimética, geometria, astronomia e música). Mas um grande
pedagogo da época Thierry de Chartres, mostrou que o “trivium e o quadrivium”
eram apenas um meio e que o fim era “formar almas na verdade e na sabedoria”.
Em muitas
escolas os alunos tinham ensino técnico de como trabalhar o ouro, prata e
cobre. Aos poucos surgiam as especializações: Chartres (letras), Paris
(teologia), Bolonha (direito), Salerno e Montpellier (medicina).
O Concílio geral
de Latrão III, aprovou o seguinte cânon:
“A Igreja de
Deus, qual mãe piedosa, tem o dever de velar pelos pobres aos quais pela
indigência dos pais faltam os meios suficientes para poderem facilmente estudar
e progredir nas letras e nas ciências. Ordenamos, portanto, que em todas as
igrejas catedrais se proveja um benefício (rendimento) conveniente a um mestre,
encarregado de ensinar gratuitamente aos clérigos dessa igreja e a todos os
alunos pobres” (can. 18, Mansi XXII 227s).
O IV Concílio
ecumênico do Latrão (1215), renovou este decreto. Teodulfo, bispo de Orléans no
séc. VIII, promulgou o seguinte decreto: “Os sacerdotes mantenham escolas nas
aldeias, nos campos; se qualquer dos fiéis lhes quiser confiar os seus filhos
para aprender as letras não os deixem de receber e instruir, mas ensinem-lhes
com perfeita caridade. Nem por isto exijam salário ou recebam recompensa alguma
a não ser por exceção, quando os pais voluntariamente a quiserem oferecer por
afeto ou reconhecimento” (Sirmond, Concilia Galliae II 215).
É muito
significativo um dos últimos depoimentos sobre a acusação de que a Igreja
obstruiu a ciência na Idade Média, proferido em 1957 por um grupo de estudiosos
que, sem intenção confessional alguma, escreveram a história da ciência antiga
e medieval:
“Parece-nos
impossível aceitar a dupla acusação de estagnação e esterilidade levantada
contra a Idade Média latina. Por certo a herança (cultural) antiga não foi
totalmente conhecida nem sempre judiciosamente explorada;… mas não é menos
verdade que de um século para outro – mesmo de uma geração a outra dentro do
mesmo grupo – há evolução e geralmente progresso. A Igreja… na Idade Média
salvou e estimulou muito mais do que freou ou desviou. Por isto, embora só
queira apelar para a Antigüidade, a Renascença é realmente a filha ingrata da
Idade Média” (La science antique et médiévale, sous la direction de René Taton,
Presses Universitaires de France. Paris 1957, 581s).
Esses poucos
dados mostram o quanto a Igreja fez pelo ensino e pelo saber na Idade Média,
bem ao contrário do que muitos pensam: que a Igreja foi contra a ciência e o
ensino.
Prof. Felipe
Aquino
Fonte: https://cleofas.com.br/
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