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Cardeal Paulo Cezar Costa:
Arcebispo de Brasília é criado Cardeal em Celebração no Vaticano
Na manhã deste sábado (27/08), Sua Santidade Papa
Francisco, presidiu o Consistório público para a criação de 20 novos cardeais
para a Santa Igreja de Deus, dentre eles, o Arcebispo Metropolitano de
Brasília, o agora Cardeal, Dom Paulo Cezar Costa. A celebração aconteceu na
Basílica de São Pedro, no Vaticano, com presença de mais de 7 mil fiéis,
segundo informações do Vatican News, e transmissão pelas mídias sociais e
emissoras de rádio e TV católicas.
A cerimônia foi iniciada com a procissão de entrada
dos cardeais eleitos acompanhados de seus secretários que os ajudaram na
cerimônia. Acompanhou o Cardeal Paulo Cezar neste ofício Padre Rodolfo Faria,
do clero da Diocese de São Carlos, da qual Dom Paulo foi Bispo diocesano
durante alguns anos.
No início da celebração, o Prefeito do Dicastério
para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Arthur Roche, saudou
o Santo Padre, em nome dos novos cardeais. O Evangelho proposto para a ocasião,
foi o de Lucas 2, 49-50, do qual, o Santo Padre pronunciou sua homilia a qual
apresentamos uma tradução não oficial abaixo.
O Papa então leu a fórmula da criação e proclamou
solenemente os nomes dos novos cardeais, anunciando sua ordem presbiteral ou
diaconal. Ao Cardeal Paulo Cezar Costa foi dado o título de Cardeal-presbítero
de São Bonifácio e Santo Aleixo no Monte Aventino, título que já foi dos
Cardeais brasileiros Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti (1905-1930),
Sebastião Leme da Silveira Cintra (1933-1942), Jaime de Barros Câmara
(1946-1971), Avelar Brandão Vilela (1973-1986), Lucas Moreira Neves (1988-1998)
e Eusébio Oscar Scheid (2003-2021). Em breve, o Cardeal Paulo Cezar tomará
posse de sua sede cardinalícia, sendo sinal de sua ligação com a Igreja em
Roma.
O Rito contou com a profissão de fé dos novos
Cardeais perante o povo de Deus e o juramento de fidelidade e obediência ao
Papa Francisco e seus sucessores. Os novos cardeais, de acordo com a ordem de
criação, ajoelharam-se diante do Santo Padre que lhes impôs o solidéu e o
barrete cardinalício, deu-lhes o anel de cardeal e designou a cada um uma
igreja em Roma como sinal de participação no cuidado pastoral do Papa na
Cidade, entregando-lhes a Bula de criação de um cardeal e atribuição do Título
ou Diaconia.
Após a entrega da Bula de criação de um cardeal e
atribuição do Título ou Diaconia, o Santo Padre Francisco trocou o abraço da
paz com cada novo Cardeal. Aqueles que acompanharam a transmissão pelos meios
de comunicação, puderam perceber que, ao entregar as insígnias a Dom Paulo
Cezar, Papa Francisco deve-se conversando e rindo com ele durante longos
estantes, mostrando sua proximidade com o Arcebispo da Capital Federal que foi
um dos organizadores da JMJ 2013 que aconteceu no Rio de Janeiro.
No final do Consistório Ordinário Público para a
criação de novos Cardeais, o Cardeal Marcello Semeraro, Prefeito do Dicastério
para as Causas dos Santos, foi diante do Santo Padre, leu a “Peroratio” e
apresentou brevemente as biografias dos dois bem-aventurados. Então o Papa,
depois de ter expressado a avaliação dos votos, decretou que os Beatos sejam
inscritos no Registro dos Santos no domingo, 9 de outubro de 2022.
A Missa de Acolhida do Cardeal Paulo Cezar Costa
acontecerá no próximo sábado (03/09), às 9h30, na Catedral Metropolitana de
Brasília.
Dom Paulo | Setor de Comunicação/arqbrasilia |
Integra da Homilia do Santo Padre – Tradução
não-oficial
Esta frase de Jesus, bem no meio do Evangelho de
Lucas, atinge-nos como uma flecha: “Vim lançar fogo sobre a terra, e como gostaria
que já estivesse aceso!” (12.49).
No caminho com os discípulos para Jerusalém, o
Senhor faz um anúncio em estilo profético típico, usando duas imagens: fogo e
batismo (cf. 12, 49-50). O fogo deve trazê-lo ao mundo; batismo terá que
recebê-lo Ele mesmo. Tomo apenas a imagem do fogo, que aqui é a chama poderosa
do Espírito de Deus, é o próprio Deus como “fogo devorador” (Dt 4,24; Hb
12,29), Amor apaixonado que purifica, regenera e transfigura tudo. Este fogo –
como aliás também o “batismo” – revela-se plenamente no mistério pascal de
Cristo, quando Ele, como coluna ardente, abre o caminho da vida através do mar
escuro do pecado e da morte.
No entanto, há outro fogo, o das brasas.
Encontramo-lo em João, no relato da terceira e última aparição de Jesus
ressuscitado aos discípulos, no lago da Galileia (cf. 21, 9-14). Este pequeno
fogo foi aceso pelo próprio Jesus, perto da praia, enquanto os discípulos
estavam nos barcos e puxavam a rede cheia de peixes. E Simão Pedro chegou
primeiro, nadando, cheio de alegria (cf. v. 7). O fogo do carvão é suave,
escondido, mas dura muito tempo e é usado para cozinhar. E ali, na margem do
lago, ele cria um ambiente familiar onde os discípulos desfrutam, maravilhados
e emocionados, a intimidade com seu Senhor.
Nos fará bem, queridos irmãos e irmãs, neste dia, meditarmos
juntos a partir da imagem do fogo, em sua dupla forma; e à sua luz rezar pelos
Cardeais, de modo particular por vós, que nesta mesma celebração recebe a sua
dignidade e tarefa.
Com as palavras registradas no Evangelho de Lucas,
o Senhor nos chama novamente a nos colocarmos atrás dele, a segui-lo no caminho
de sua missão. Uma missão de fogo – como a de Elias -, tanto pelo que veio
fazer como pelo modo como o fez. E para nós, que na Igreja fomos tirados do
meio do povo para um ministério de serviço especial, é como se Jesus estivesse
entregando a tocha acesa, dizendo: Tomai, “como o Pai me enviou, também estou
enviando vós” (Jo 20, 21). Assim, o Senhor quer comunicar-nos a sua coragem
apostólica, o seu zelo pela salvação de cada ser humano, ninguém excluído. Ele
quer comunicar-nos a sua magnanimidade, o seu amor sem limites, sem reservas,
sem condições, porque a misericórdia do Pai arde no seu coração. É o que arde
no coração de Jesus: a misericórdia do Pai. E dentro deste fogo há também a
misteriosa tensão, própria da missão de Cristo, entre a fidelidade ao seu povo,
à terra das promessas, àqueles que o Pai lhe deu e, ao mesmo tempo, abertura a
todos os povos – aquela universal tensão -, no horizonte do mundo, nas
periferias ainda desconhecidas.
Este fogo poderoso é o que anima o apóstolo Paulo
no seu incansável serviço ao Evangelho, na sua “corrida missionária” guiada,
sempre impulsionada pelo Espírito e pela Palavra. É também o fogo de tantos
missionários que experimentaram a cansativa e doce alegria de evangelizar, e
cuja própria vida se tornou evangelho, porque foram antes de tudo testemunhas.
Este, irmãos e irmãs, é o fogo que Jesus veio
“lançar sobre a terra”, e que o Espírito Santo acende também no coração, nas
mãos e nos pés daqueles que o seguem. O fogo de Jesus, o fogo que Jesus traz.
Depois há o outro fogo, o das brasas. O Senhor
também quer comunicar isto a nós, porque como Ele, com mansidão, fidelidade,
proximidade e ternura – este é o estilo de Deus: proximidade, compaixão e
ternura – podemos fazer com que muitos gozem da presença de Jesus vivo no meio
de nós. Uma presença tão evidente, mesmo no mistério, que não há necessidade de
perguntar: “Quem é você?”, porque o próprio coração diz que é Ele, é o Senhor.
Este fogo arde de modo particular na oração de adoração, quando estamos em
silêncio perto da Eucaristia e saboreamos a humilde, discreta, oculta presença
do Senhor, como um fogo de brasas, para que esta mesma presença se torne
alimento para o nossa quotidiana vida.
O fogo das brasas faz-nos pensar, por exemplo, em
São Carlos de Foucauld: na sua longa permanência num ambiente não cristão, na
solidão do deserto, centrando tudo na presença: a presença do vivo Jesus, na
Palavra e na Eucaristia, e a sua própria presença fraterna, amiga e caridosa.
Mas também nos faz pensar naqueles irmãos e irmãs que vivem a consagração
secular no mundo, alimentando o fogo baixo e duradouro no local de trabalho,
nas relações interpessoais, nos encontros das pequenas fraternidades; ou, como
sacerdotes, num ministério perseverante e generoso, sem clamor, entre o povo da
paróquia. Um pároco de três paróquias, aqui na Itália, me disse que tinha muito
trabalho. “Mas você é capaz de visitar todas as pessoas?” eu disse. “Sim, eu
conheço todo mundo!” – “Mas você sabe o nome de todos?” – “Sim, até os nomes
dos cães das famílias”. Este é o fogo brando que leva o apostolado à luz de
Jesus. E então, não é o fogo das brasas que aquece todos os dias a vida de
tantos esposos cristãos? Santidade conjugal! Reavivada com uma oração simples,
“caseira”, com gestos e olhares de ternura, e com o amor que acompanha
pacientemente as crianças no seu caminho de crescimento. E não nos esqueçamos
do fogo de carvão guardado pelos idosos – são um tesouro, o tesouro da Igreja –
o coração da memória, tanto na família como no âmbito social e civil. Como é
importante este braseiro de velhos! Famílias se reúnem em torno dele; permite
que você leia o presente à luz de experiências passadas e faça escolhas sábias.
Caros irmãos Cardeais, na luz e no poder deste fogo
caminha o Povo santo e fiel, do qual fomos atraídos, daquele povo de Deus, e ao
qual fomos enviados como ministros de Cristo Senhor. O que esse fogo duplo de
Jesus, o fogo impetuoso e o fogo brando, diz a você e a mim em particular?
Parece-me que nos lembra que um homem de zelo apostólico é animado pelo fogo do
Espírito para cuidar corajosamente das coisas grandes como das pequenas.
Um Cardeal ama a Igreja, sempre com o mesmo fogo
espiritual, tanto nas grandes questões como nas pequenas; tanto encontrando os
grandes deste mundo – ele deve fazê-lo, muitas vezes – quanto os pequenos, que
são grandes diante de Deus. , os novos horizontes da Europa após a guerra fria
– e Deus me livre que a miopia humana feche novamente aqueles horizontes que
Ele abriu! Mas, aos olhos de Deus, são igualmente valiosas as visitas que ele
fazia regularmente aos jovens detidos em uma prisão juvenil em Roma, onde era
chamado de “Don Agostino”. Fez a grande diplomacia – o martírio da paciência,
esta era a sua vida – juntamente com a visita semanal a Casal del Marmo, com os
jovens. E quantos exemplos desse tipo poderiam ser dados! Lembro-me do Cardeal
Van Thuân, chamado a pastorear o Povo de Deus em outro cenário crucial do
século XX, e ao mesmo tempo animado pelo fogo do amor de Cristo para cuidar da
alma do carcereiro que vigiava a porta da sua cela. Essas pessoas não tinham
medo do “grande”, do “máximo”; mas também levava o “pequeno” de cada dia.
Depois de uma reunião em que o Cardeal Casaroli informou a São João Paulo II de
sua última missão – não sei se na Eslováquia ou na República Tcheca, um desses
países, falava-se de alta política – e quando ele estava saindo o Papa chamou-o
e disse-lhe: “Ah, Eminência, uma coisa: continuas a ir ter com esses jovens presos?”
– “Sim” – “Você nunca os abandona!”. A grande diplomacia e a pequena coisa
pastoral. Este é o coração de um sacerdote, o coração de um Cardeal.
Queridos irmãos e irmãs, voltemos com o olhar para
Jesus: só Ele conhece o segredo desta humilde magnanimidade, desta força mansa,
desta universalidade atenta ao detalhe. O segredo do fogo de Deus, que desce do
céu, iluminando-o de um extremo ao outro e que cozinha lentamente a comida das
famílias pobres, dos migrantes ou dos sem-abrigo. Jesus quer lançar este fogo
sobre a terra hoje também; ele quer acendê-lo novamente nas margens de nossas
histórias diárias. Ele nos chama pelo nome, cada um de nós, ele nos chama pelo
nome: não somos um número; olha-nos nos olhos, cada um de nós, olhe-nos nos
olhos, e pergunta-nos: tu, o novo Cardeal – e todos vós, irmãos Cardeais -,
posso contar convosco? Essa pergunta do Senhor.
E não quero ficar sem uma lembrança do cardeal
Richard Kuuia Baawobr, bispo de Wa, que ontem, ao chegar a Roma, passou mal e
foi hospitalizado por um problema cardíaco e, creio, fizeram uma operação, algo
do gênero. Oramos por este irmão que deveria estar aqui e está internado.
Obrigado.
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