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São dois os argumentos que sustentam esta verdade.
Maria Santíssima não teve outros filhos além de Jesus, conforme veremos nos dois argumentos apresentados neste artigo.
O primeiro argumento diz que os “irmãos” de Jesus seriam filhos de São José de um primeiro matrimônio seu antes de desposar-se com a Virgem Maria. Esta é uma antiga tradição, embora escrita em estilo deveras fantasioso, registrada no Protoevangelho de Tiago, apócrifo cristão do ano 150 mais ou menos (cf. cap. VIII e IX). Ela merece atenção por defender, já nos princípios do Cristianismo, que os “irmãos” de Jesus não eram filhos de Nossa Senhora, a sempre virgem, mas apenas de São José.
Os contestadores da perpétua virgindade de Maria apresentam, no entanto,textos do Novo Testamento que tratam dos “irmãos de Jesus” (Mc 6,3; 3,31-35; Jo 2,12, 7,2-10; At 1,14; Gl 1,19 e 1Cor 9,5) a fim de sustentarem que Maria teve outros filhos além de Jesus. Aqui entra o segundo argumento com a afirmação do Papa São João Paulo II ao dizer ser “preciso recordar que, tanto em hebraico como em aramaico, não existe um vocábulo particular para exprimir a palavra ‘primo’ e que, portanto, os termos ‘irmão’ e ‘irmã’ tinham um significado muito amplo que abrangia diversos graus de parentesco. Na realidade, com o termo ‘irmãos de Jesus’ são indicados ‘os filhos de uma Maria discípula de Cristo (cf. Mt 27,56) designada de modo significativo como ‘a outra Maria’ (Mt 28,1). Trata-se de parentes próximos de Jesus, segundo uma expressão conhecida do Antigo Testamento’ (Catecismo da Igreja Católica, n. 500)” (A Virgem Maria: 58 catequeses do Papa sobre Nossa Senhora. 2ª ed. Lorena: Cléofas, 2001, p. 83).
Em suma, podemos dizer que os próprios Evangelhos deixam claro que os chamados “irmãos de Jesus” não eram filhos de Maria. Com efeito, em Lc 2,41-52, vê-se que Jesus é filho único. Sim, José e Maria não teriam feito a viagem a Jerusalém deixando, em casa, filhos pequenos. Em Jo 19,26-27, ao morrer na Cruz, Jesus entrega sua Mãe aos cuidados de João, filho de Zebedeu. Ora, isso seria impossível se Maria tivesse outros filhos. Esses dois argumentos têm grande valor. Mais: o Novo Testamento nunca fala de “filhos de Maria e de José”. Ao contrário, Jesus é apresentado como “filho (adotivo) de José” (Lc 3,23) e “ofilho de Maria” (com artigo, cf. Mc 6,3) quando deveria usar, para ser mais natural, a expressão “filhos de Maria”, em vez de “irmãos de Jesus”, caso fossem realmente irmãos, como entendemos hoje em português (cf. Mc 3,31; At 1,14).
Ainda: o fato de Maria aparecer, nos Evangelhos, sempre em companhia dos “irmãos de Jesus” (= parentes) pode se explicar do seguinte modo: José terá falecido no início da vida pública de Jesus; daí os parentes dele se tornaram solidários para com Nossa Senhora e, por isso, sempre a acompanhavam publicamente. Vê-se, assim, que Tiago, José, Judas e Simão eram primos de Jesus e sobrinhos de Maria por parte de São José. Sim, eles eram filhos de Maria de Cléofas (não de Maria, a Mãe de Jesus). Já Cléofas (ou Alfeu, em aramaico) era irmão de José.
Resta, pois, um ponto a ser resolvido: por que há essa confusão, quando se poderia dizer “primos” (= anepsiós, em grego), em vez de “irmãos de Jesus”? – Porque a tradução grega do Novo Testamento supõe o fundo aramaico. Desse modo, o termo irmãos (= adelphói, em grego) vem do vocábulo ah hebraico e designa tanto irmãos filhos do mesmo pai e mãe, como primos e sobrinhos, conforme se vê, por exemplo, em passagens do Antigo Testamento: Abraão diz que seu sobrinho Lot é seu irmão (cf. Gn 13,8); Jacó se declara irmão de Labão, quando, na verdade, é seu sobrinho (cf. Gn 29,12-15); Labão e seus irmãos (= parentes) foram ao encalço de Jacó (cf. Gn 31,23) entre outras passagens tais como 1 Cr 23,21-23; 15,5; 2Cr 36,10; 2Rs 10,13; Jz 9,3; 1Sm 20,29 etc. (cf. Dom Estêvão Tavares Bettencourt, OSB. Curso de Diálogo Ecumênico. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1989, p. 91-93).
Acrescenta Bernard Sesboüé, SJ, ser “impossível, portanto, provar historicamente que Jesus teve irmãos em sentido estrito, isto é, filhos de Maria sua mãe” (Os sinais da salvação: séculos XII a XX. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2013. Tomo 3 da coleção História dos dogmas).
Eis argumentos em defesa da maternidade virginal de Nossa Senhora.
Fonte: https://pt.aleteia.org/
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