Audiência Geral de 22 de junho de 2022, na Praça São Pedro (Vatican Media) |
"Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V
afirmou que os pais exercem uma função eclesial, sacerdotal, junto do lar
familiar. Estes são todos servidores de Cristo, cada um segundo as suas
possibilidades, vivendo no bem, fazendo esmolas, anunciando o nome do Senhor.
"
Por Dom Vital Corbellini,
Bispo de Marabá – PA
A Igreja valoriza a família
porque foi criada por Deus, sendo um dom para as pessoas seguidoras de Cristo,
do Evangelho e é ao mesmo tempo, responsabilidade humana, por tratar-se de uma
missão assumida por duas pessoas, homem e mulher. Ela é também uma realidade
eclesial, social fundamental na convivência humana. Para os padres da Igreja a
família era uma comunidade que comportava igualdade entre os seus membros[1].
Os padres da Igreja seguiam a doutrina cristã proveniente da Sagrada Escritura
que afirma que o homem e a mulher foram criados por Deus(Gn 1,26) e eram
perfeitamente iguais diante de Deus pela dignidade e valor[2].
Tinha presentes também a igualdade entre as pessoas de filhos e filhas de Deus,
irmãos e irmãs de Jesus Cristo[3].
O mês de agosto oportuniza a
reflexão sobre as vocações sendo todas fundamentais diante de Deus porque elas
nascem de Deus e tem como fim o serviço às pessoas humanas, à Igreja, à
sociedade e à glória do próprio Senhor. Elas colocam a importância do batismo,
da crisma, da eucaristia, os sacramentos da iniciação à vida cristã. Após a
reflexão da vida sacerdotal ocorrida no primeiro domingo, no segundo domingo, a
Igreja coloca a vida matrimonial como outra vocação a ser seguida pelos fieis
ao Senhor do qual a grande maioria do povo de Deus a assume para a vida da
Igreja, da sociedade, para honra e glória do Senhor Deus Uno e Trino.
A Igreja olha com carinho e
amor todas as situações familiares, de modo que a pastoral familiar ajuda muito
na resolução e no encaminhamento das diversidades de famílias. A situação
familiar exige toda atenção por parte da comunidade eclesial porque se de um
lado muitas famílias vivem a unidade, a indissolubilidade no matrimônio,
existem outras famílias, enfrentando dificuldades de relacionamento, de
separações, de casais de segunda união, e outras formas de famílias. É preciso
rezar pelas famílias para que vivam na paz, no amor. A Igreja percebe com
fervor os jovens que estão se preparando para a vida matrimonial de modo que constituam
uma boa família, porque é das famílias que nascem as vocações.
Os documentos pontifícios
ressaltaram a importância da família. O Papa João Paulo II disse que a Igreja
iluminada pela fé, coloca como bens preciosos o matrimônio e a família, de modo
que anuncia para eles o Evangelho, a Boa Nova para todos aqueles que são
chamados ao matrimônio, bem como aos esposos e aos pais do mundo[4].
O Papa Francisco, seguindo a palavra do Senhor, afirmou que o consentimento e a
união dos seus corpos, homem e mulher, são os instrumentos da ação divina
tornando-os uma só carne (Mc 10,8). Pelo batismo tem as pessoas, a sua
capacidade para se unir em matrimônio como ministros do Senhor, respondendo à
vocação que vem de Deus[5].
“A família é o âmbito não só da geração, mas também do acolhimento da vida que
chega como um presente de Deus”[6].
A seguir veremos nós a importância da família nos padres da Igreja, os
primeiros escritores cristãos que em unidade com a palavra de Deus, elaboraram
uma doutrina a respeito da família cristã.
O
cuidado com a própria família
São Clemente de Alexandria,
padre da Igreja do século II e III disse que a escolha da família é uma vocação
e pelo matrimônio a pessoa educará os seus filhos, filhas para a vida e aos
valores cristãos. A pessoa age para o bem da família, tendo presente a sua
importância para nunca se afastar do amor de Deus e combate contra todas as
tentações que atingem os filhos, as filhas, a mulher e outras pessoas da
família. A pessoa toma o cuidado com a família, para estabelecer o amor a Deus
e ao próximo[7].
A
família, preocupação com o próximo
São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V, afirmou a importância da família, porque ela alude a preocupação com o próximo. Os pais admoestam os seus filhos, suas filhas em vista do bem comum e do amor ao próximo, de modo que ao realizar tais coisas terão imitadores. Todos os membros da família são chamados à virtude do bem e do amor. Cada pessoa assuma como dever a salvação do próximo[8].
Na família
cuidam todos de todos
São João Crisóstomo
ainda afirmou que na família haveria o cuidado de todos para com todos. Cada um
dos membros possui uma ovelha para cuidar. O homem com as suas palavras e
obras, torna a sua casa e a sua família mais piedosa; a mulher, por sua parte
demonstre ser uma boa dona de casa e ajude para que todos os membros façam
obras boas para o reino dos céus. Na vida social viva bem a família, seja nos
compromissos pelos pagamentos de impostos, seja pela boa convivência junto com
outras famílias, de modo que as famílias agradem a Deus. É muito importante que
a família busque a virtude da caridade e também faça obras boas em favor do
próximo[9].
A obediência aos
pais
Teodoreto de Ciro, bispo na
Síria, séculos IV e V afirmou a missão do chefe de família na casa. Ele via a
importância de ter alguém para coordenar a casa de família, no caso os pais.
Ele disse que existe uma semelhança com uma autoridade que também tem os
anjos que como disse a Sagrada Escritura no céu, é habitado não só pelos anjos,
mas também pelos arcanjos e se estes mandam, os outros obedecem. Se nas alturas
obedecem e outros mandam as ordens com sabedoria, assim também ocorre na
família, onde os pais mandam sobre os filhos e filhas, para que tudo vá para
frente. Esta ordem vem do Criador na família humana e também existe tal forma
de mandar nos sagrados ministros, pois se alguns o Senhor os fez dignos do
sacerdócio pelo episcopado, outros os colocou na ordem da obediência de modo
que tudo leva as pessoas ao louvor do Criador[10].
O
oficio sacerdotal na família
Santo Agostinho, bispo de
Hipona, séculos IV e V afirmou que os pais exercem uma função eclesial,
sacerdotal, junto do lar familiar. Estes são todos servidores de Cristo, cada
um segundo as suas possibilidades, vivendo no bem, fazendo esmolas, anunciando
o nome do Senhor. Quando os pais de famílias assumem a missão de servos de
Cristo, fazem o dever de amar os seus familiares com afeto paterno e materno.
Eles também ajudam na educação dos filhos, os exorta para a vida familiar e
cristã, servindo a Cristo para estar na eternidade com ele. Segundo o bispo de
Hipona, muitos não eram nem bispos, nem sacerdotes, mas somente crianças,
virgens, jovens, velhos, esposos, esposas, pais, mães de família, servindo
Cristo, aos irmãos e irmãs[11].
Um exemplo
de vida familiar, Mônica
Santo Agostinho, ainda
teve presente a sua mãe, Mônica como um exemplo de pessoa na vida familiar. Ela
foi educada na sobriedade, submissa aos seus pais, ao Senhor, e na idade
adulta, ela assumiu o matrimônio com um marido a quem serviu como senhor. Ela
quis levar o marido à vida de virtudes. Ela suportou as infidelidades
conjugais, e fez de tudo para que as coisas andassem para frente com a graça de
Deus. Mesmo que o pai de Santo Agostinho fosse de coração afetuoso, ele se
encolerizava facilmente. Santo Agostinho disse que a sua mãe procurava o
momento oportuno para mostrar-lhe a ira dada sem reflexão. Ele agradecia ao
Senhor pela fiel serva em cujo seio ele foi criado. Nas discórdias familiares
procurava ela quanto possível a conciliação. Nos últimos anos de vida do
marido, Patrício, Mônica conquistou-o para o Senhor, buscando uma vida de
conversão, de modo que ela não se lamentava mais dos ultrajes que antes sofria.
Ela teve uma vida santa pelas boas obras. Ela fora esposa de um só marido,
tinha cumprido seu dever para com os pais, governado a casa com dedicação e ela
deu um testemunho de vida com boas obras que enalteceram o Senhor[12].
A família é uma benção de Deus
Uno e Trino para a Igreja, para o mundo. Rezemos por todas as famílias para que
vivam o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. As famílias de ontem e de hoje
sejam oportunidades para crescer na paz e no amor no seio familiar,
comunitário, social e um dia, elas parti
_____________________
[1] Cfr. Famiglia. In: Nuovo Dizionario Patristico e
di Antichità Cristiane, diretto da Angelo Di Berardino, F-O. Genova-Milano,
Casa Editrice Marietti S.p.A. 2007, pg. 1904.
[2] Cfr. Idem.
[3] Cfr. Idem.
[4] Cfr. Familiaris
Consortio (22 de novembro de 1981) | João Paulo II (vatican.va),
3.
[5] Cfr. Papa
Francisco. Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, III, 75.
Roma, Tipografia Vaticana, 2016.
[6] Cfr. Idem V.
[7] Cfr. Clemente
Alessandrino. Stromata, 7,70,5-71,6. In: La teologia dei
padri, v. 3. Roma, Città Nuova Editrice, 1982, pg. 373
[8] Cfr. Giovanni
Crisostomo. Omelie sulla seconda lettera ai Tessalonicesi, 5,5.
In: Idem, pgs. 374-375.
[9] Cfr. Giovanni Crisostomo. Commento
al Vangelo di san Matteo, 77,6. In: Idem, pg. 376.
[10] Cfr. Teodoreto di Cirro. La
provvidenza divina, 7. In: Idem, pgs. 375-376.
[11] Cfr. Agostino. Commento
al Vangelo di san Giovanni, 51,13. In: idem, pg. 374.
[12] Cfr. Santo Agostinho. Confissões,
IX, 9. São Paulo, Paulus, 1997, pgs. 252-254
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