Lectionautas Brasil |
Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília
Eu vim trazer
fogo sobre a terra
Neste vigésimo domingo comum, temos diante de nós Jesus Cristo e seu
Evangelho que não nos deixam na indiferença (Lc 12, 49 – 53), pois ele veio
para lançar fogo sobre a terra. Talvez a imagem do fogo nos assuste, mas Jesus
quer dizer que diante dele e da sua Palavra não se pode ficar indiferente. Papa
Francisco, comentando este Evangelho, diz: “Jesus adverte os seus discípulos de
que chegou o momento de tomar uma decisão. A sua vinda ao mundo coincide com o
tempo das escolhas decisivas: a opção pelo Evangelho não pode ser adiada. E
para que esta chamada seja compreendida melhor, ele serve-se da imagem do fogo
que ele mesmo veio trazer a terra. Ele diz: «Eu vim lançar fogo sobre a terra;
e como gostaria que ele já se tivesse ateado!» (v. 49). Estas palavras pretendem
ajudar os discípulos a abandonar toda atitude de preguiça, apatia, indiferença
e fechamento para acolher o fogo do amor de Deus, aquele amor que, como recorda
São Paulo, «foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5,
5). Porque é o Espírito Santo que nos faz amar a Deus e amar o próximo; é o
Espírito Santo que todos nós temos dentro de nós” (Papa Francisco, Angelus, 18
de agosto de 2019).
Jesus deve receber um batismo e está ansioso até que se cumpra (Lc 12, 50).
O batismo é a sua morte que deve acontecer em Jerusalém. A ânsia de Jesus é a
realização da vontade do Pai, para isso ele veio. Ele deve dar a vida pela
nossa salvação.
Com ele chegou o juízo de Deus. Juízo com misericórdia e amor, mas que nos
tira da indiferença. Nele se realiza este juízo, por isso, diante dele é
impossível ter uma atitude neutra, uma atitude de indiferença. Jesus censurou
esta atitude nos seus contemporâneos. O Israel do tempo de Jesus foi chamado a
perceber que estava alguém no meio dos homens, Jesus Cristo, o Filho de Deus,
diante do qual não era possível a indiferença. O seu seguimento exige
radicalidade e coerência, pois o encontro com Jesus trás sentido e realização à
existência. Quem O encontrou verdadeiramente não fica na indiferença. Nas
origens da Igreja, no cristianismo primitivo, tanta gente sofreu por causa do
nome de Jesus, tanta gente viu esta realidade da divisão tocar a sua porta, a
sua vida, a vida de sua família. Ainda hoje, há tanta gente que vive o
sofrimento e a divisão por causa da sua adesão e da sua fidelidade a Jesus
Cristo e à sua Palavra.
Não devemos ter medo da divisão por causa da fidelidade a Jesus e ao seu
Evangelho. Devemos ter medo de posturas de indiferença que manifestam um
coração frio e tíbio. Na corrida da fé é preciso perseverança, como nos exorta
a epístola aos Hebreus: “Empenhemo-nos com perseverança, com os olhos fixos em
Jesus Cristo, que em nós começa e completa a obra da fé” (Hb 12, 1-2). Ele
suportou a cruz, a infâmia e assentou-se à direita do Pai. Cristo sofreu na sua
fidelidade ao Pai. O caminho de Cristo é, também, do cristão. O cristão é
aquele que, ancorado em Cristo, olhando para Cristo, vai trilhando o caminho da
fé e suporta até sofrimentos, incompreensões por causa de Jesus Cristo, em
fidelidade a Ele.
Fonte: https://arqbrasilia.com.br/
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