Volta do Filho Pródigo | Ujucasp |
ANO C
24º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Tema do 24º Domingo do Tempo Comum
A liturgia deste domingo centra a nossa reflexão na lógica do
amor de Deus. Sugere que Deus ama o homem, infinita e incondicionalmente; e que
nem o pecado nos afasta desse amor…
A primeira leitura apresenta-nos a atitude misericordiosa de Jahwéh face à
infidelidade do Povo. Neste episódio – situado no Sinai, no espaço geográfico
da aliança – Deus assume uma atitude que se vai repetir vezes sem conta ao
longo da história da salvação: deixa que o amor se sobreponha à vontade de
punir o pecador.
Na segunda leitura, Paulo recorda algo que nunca deixou de o espantar: o amor
de Deus manifestado em Jesus Cristo. Esse amor derrama-se incondicionalmente
sobre os pecadores, transforma-os e torna-os pessoas novas. Paulo é um exemplo
concreto dessa lógica de Deus; por isso, não deixará de testemunhar o amor de
Deus e de Lhe agradecer.
O Evangelho apresenta-nos o Deus que ama todos os homens e que, de forma
especial, Se preocupa com os pecadores, com os excluídos, com os
marginalizados. A parábola do “filho pródigo”, em especial, apresenta Deus como
um pai que espera ansiosamente o regresso do filho rebelde, que o abraça quando
o avista, que o faz reentrar em sua casa e que faz uma grande festa para
celebrar o reencontro.
LEITURA I – Ex 32, 7-11.13-14
MENSAGEM
O tema fundamental que o texto nos propõe gira à volta da
resposta de Deus ao pecado do Povo.
A primeira parte (vers. 7-10) descreve o pecado do Povo e uma primeira reação
de Deus. Perante a ausência de Moisés no monte sagrado, o Povo constrói um
bezerro de oiro. O bezerro de ouro não pretende ser um novo deus, mas uma
imagem de Jahwéh (“este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egito”
– vers. 8); de qualquer forma, o Povo “desviou-se do caminho” que Deus lhe
havia ordenado, pois infringiu o segundo mandamento do Decálogo (segundo o
qual, Israel não devia fazer imagens de Jahwéh: por um lado, o não representar
Deus permitia salvaguardar a transcendência de Jahwéh, já que a “imagem” era
uma definição de Deus e Deus não pode ser definido pelo homem; por outro lado,
a luta contra os deuses e cultos pagãos era impossível se não se proibiam
também os seus símbolos e imagens). O pedido de Deus a Moisés (“agora deixa-Me;
a minha cólera vai inflamar-se contra eles e destruí-los-ei; mas farei de ti
uma grande nação” – vers. 10) pode ser posto em paralelo com a promessa a
Abraão de Gn 12,2: Deus fala de tudo recomeçar com Moisés, como fez com Abraão.
Na segunda parte (vers. 11-14), descreve-se a intercessão de Moisés e a
misericórdia de Deus. O texto começa com a referência a Moisés que “deitou água
na fervura” (literalmente: “acalmou a face de Deus” – vers. 11a). As palavras
de intercessão de Moisés (vers. 11b-13) não fazem referência aos méritos do
Povo, mas à honra de Deus e à sua fidelidade às promessas assumidas para com o
Povo no âmbito da aliança.
A resposta final de Deus (vers. 14) põe em relevo a sua misericórdia. Não são
os méritos do Povo que sustêm o castigo; mas é o amor de Deus, a sua lealdade
aos compromissos, a sua “justiça” (que é misericórdia, ternura, bondade) que
acabam por triunfar. O amor infinito de Deus pelo seu Povo acaba sempre por
falar mais alto do que a sua vontade de castigar os desvios e infidelidades.
LEITURA II – 1 Tim 1, 12-17
MENSAGEM
No texto que nos é proposto, Paulo recorda, agradecido, a sua
história de vocação. O apóstolo afirma que recebeu de Cristo o seu ministério;
e proclama que isso se deve, não aos seus méritos, mas à misericórdia de Deus.
Paulo tem consciência do seu passado de perseguidor violento da Igreja de
Cristo. É verdade que Paulo atuou dessa forma por ignorância; no entanto, isso
não o exime de culpa… Apesar desse passado duvidoso, Deus, na sua bondade,
cumulou-o da sua graça.
Paulo reconhece que Cristo “veio ao mundo para salvar os pecadores”, entre os
quais Paulo se inclui. Pelo exemplo de Paulo, fica evidente a misericórdia e a
magnanimidade de Deus, que se derrama sobre todos os homens, sejam quais forem
as faltas cometidas. A partir deste exemplo, todos os homens são convidados a
tomar consciência da bondade de Deus e a responder-lhe da mesma forma que
Paulo: com o dom da vida e com o empenho sério no testemunho desse projeto de
amor que Deus tem para oferecer. O profundo reconhecimento que Paulo sente
diante da misericórdia com que Deus o distinguiu leva-o a um canto de louvor
que, neste texto, apresenta contornos litúrgicos (“ao rei dos séculos, Deus
imortal, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos, amém” –
vers. 17).
EVANGELHO – Lc 15, 1-32
MENSAGEM
As três parábolas da misericórdia pretendem, portanto,
justificar o comportamento de Jesus para com os publicanos e pecadores. Elas
definem a “lógica de Deus” em relação a esta questão.
A primeira parábola (vers. 4-7) é a da ovelha perdida. Trata-se
de uma parábola que, lida à luz da razão, é ilógica e incoerente, pois não é
normal abandonar noventa e nove ovelhas por causa de uma; também não faz
sentido todo o espalhafato criado à volta de um facto banal como é o reencontro
com uma ovelha que se extraviou… Nesses exageros e nessas reações
desproporcionadas revela-se, contudo, a mensagem essencial da parábola… O
“deixar as noventa e nove ovelhas para ir ao encontro da que estava perdida”
mostra a preocupação de Deus com cada homem que se afasta da comunidade da
salvação; o “pôr a ovelha aos ombros” significa o cuidado e a solicitude de
Deus, que trata com cuidado e com amor os filhos que se afastaram e que
necessitam de cuidados especiais; a alegria desproporcionada do pastor que
encontrou a ovelha mostra a alegria de Deus, sempre que encontra um filho que
se afastou da comunhão com Ele.
A segunda parábola (vers. 8-10) reafirma o ensinamento da primeira. O amor
misericordioso e constante de Deus busca aquele que se perdeu e alegra-se
quando o encontra. A imagem da mulher preocupada, que varre a casa de cima a
baixo, ilustra a preocupação de Deus em reencontrar aqueles que se afastaram da
comunhão com Ele. Também aqui há, como na parábola anterior, a referência à
alegria do reencontro: essa alegria manifesta a felicidade de Deus diante do
pecador que volta.
A terceira parábola (vers. 11-32) apresenta o quadro de um pai (Deus), em cujo
coração triunfa sempre o amor pelo filho, aconteça o que acontecer. Ele
continua a amar o filho rebelde e ingrato, apesar da sua ausência, do seu
orgulho e da sua autossuficiência; e esse amor acaba por revelar-se na forma
emocionada como recebe o filho, quando ele resolve voltar para a casa paterna.
Esta parábola apresenta a lógica de Deus, que respeita absolutamente a
liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade
para buscar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer,
continua a amar, a esperar ansiosamente o regresso do filho, preparado para o
acolher com alegria e amor. É essa a lógica que Jesus quer propor aos fariseus
e escribas (os “filhos mais velhos”) que, a propósito dos pecadores que tinham
abandonado a “casa do Pai”, professavam uma atitude de intolerância e de
exclusão.
O que está, portanto, em causa nas três parábolas da misericórdia é a
justificação da atitude de Jesus para com os pecadores. Jesus deixa claro que a
sua atitude se insere na lógica de Deus em relação aos filhos afastados. Deus
não os rejeita, não os marginaliza, mas ama-os com amor de Pai… Preocupa-se com
eles, vai ao seu encontro, solidariza-Se com eles, estabelece com eles laços de
familiaridade, abraça-os com emoção, cuida deles com solicitude, alegra-Se e
faz festa quando eles voltam à casa do Pai. Esta é a forma de Deus atuar em
relação aos seus filhos, sem excepção; e é essa atitude de Deus que Jesus
revela ao acolher os pecadores e ao sentar-Se com eles à mesa. Por muito que
isso custe aos fariseus, essa é a lógica de Deus; e todos os “filhos de Deus”
devem acolher esta lógica e atuar da mesma forma.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
LISBOA – Portugal
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