A política | Toda Matéria |
A POLÍTICA É NECESSÁRIA?
Dom
Pedro Cipollini
Bispo de Santo André
Na Bíblia a palavra paz tem grande importância, em hebraico é “schalon”,
palavra quase intraduzível para o português, pois designa tudo de bom,
felicidade completa, realização e alegria! Traduzimos por paz que é fruto da
justiça. Mas não de qualquer justiça. A justiça verdadeira é a que brota de
Deus e se faz incluindo o perdão.
A justiça meramente humana quando chega a seu extremo pode ser
destrutiva. Não à toa os latinos cunharam o ditado; “summum jus, summa
injuria”, justiça excessiva torna-se injustiça. Para estabelecer a paz na
sociedade é preciso a política.
Só existem duas maneiras de governar: com a política ou com o canhão, já
dizia alguém. Política como a palavra indica vem do grego polis=cidade.
Política é a arte de governar a cidade, a sociedade. É um conjunto de medidas
ou ideias articuladas, visando conseguir um objetivo que favoreça a população.
Uma política sadia, a verdadeira política, é a arte de trabalhar pelo
bem comum. É no dizer do papa Paulo VI, uma forma elevada de caridade, quando
vivida como prestação de serviço à sociedade (cf. AO 24).
Para que exista uma vida política verdadeiramente humana nada melhor que
desenvolver o sentido de justiça, benevolência e de serviço ao bem comum. O bem
comum compreende o conjunto das condições de vida social, que permite às
pessoas, famílias e às sociedades atingir mais fácil a consecução de seus fins.
O termo política se torna pejorativo quando se inspira na ideia de que o
fim justifica os meios, separando assim a política da ética. De fato, a
política que faz bem ao povo, deve fundar-se na verdade, liberdade e
solidariedade. Se não for assim, a política se torna a arte de se servir das
pessoas, dando-lhes a ideia que as servimos.
Pergunta-se: a Igreja deve meter-se em política? Se nos referirmos à
política como a arte do bem comum, sim. Mas se nos referirmos à política
partidária, não. Cada um deve escolher seu partido conforme sua consciência.
Qualquer religião deve respeitar a consciência dos fiéis, que devem ser livres
para escolher.
O Concílio Vaticano II nos deixou esclarecido: “A Igreja, em razão de
sua finalidade e competência de modo algum se confunde com a comunidade
política e nem está ligada a nenhum sistema político. Porém ela é sinal e
salvaguarda do caráter transcendente da pessoa humana. Cada uma em seu próprio
campo, a comunidade política e a Igreja são independentes e autônomas uma da
outra. Ambas, porém, embora por título diferente, estão a serviço da vocação
pessoal e social das pessoas” (GS n. 76).
O dever de participar na política é de todos os cidadãos. Se a política
é ruim, sem participação fica pior. E uma das formas de participar ao alcance
de todos é o voto. Estamos às vésperas de eleições e é preciso se preparar para
votar. Não se deve aceitar ser um analfabeto político, como o descreveu Bertold
Brecht:
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