Editora Cidade Nova |
“Assim, livre em
relação a todos, eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número
possível.” (1Cor 9,19) | Palavra de Vida Setembro 2022
A PALAVRA de Vida deste mês se encontra na Primeira
Carta de Paulo aos cristãos de Corinto (Grécia).
por Web Master
publicado em 25/08/2022
Ele está em Éfeso (antiga cidade
grega, na atual Turquia) e por meio dessas palavras procura dar uma série de
respostas aos problemas que surgiram na comunidade grega de Corinto, cidade
cosmopolita e grande centro comercial, famosa pelo templo de Afrodite, mas
também pela proverbial corrupção.
Alguns anos antes, os destinatários
da Carta haviam se convertido do paganismo à fé cristã, graças à pregação do
apóstolo. Uma das controvérsias que dividia a comunidade era: podemos ou não
podemos comer carnes sacrificadas aos ídolos nos ritos pagãos?
Dando relevo à liberdade que temos em
Cristo, Paulo introduz uma ampla análise de como se comportar diante de certas
escolhas, aprofundando particularmente o conceito de liberdade.
“Assim, livre em relação a todos, eu
me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível.”
Uma vez que os cristãos sabem que “no
mundo não existe nenhum ídolo e nenhum deus, a não ser um só” (1Cor 8,4), é
claro que se torna indiferente comer ou não comer carnes sacrificadas aos
ídolos. Mas o problema surge quando um cristão se encontra na presença dos que
ainda não possuem esta compreensão, este conhecimento da fé, e a atitude dele
pode, desse modo, escandalizar uma consciência fraca.
Quando o conhecimento e o amor estão
em jogo, para Paulo não há dúvida: o discípulo deve escolher o amor, renunciando
até mesmo à sua própria liberdade, como fez Cristo, que livremente se tornou
servo por amor.
A atenção ao irmão fraco, àquele cuja
consciência é frágil e que tem pouco conhecimento das coisas, é fundamental. O
objetivo é “ganhar”, no sentido de levar a vida do Evangelho, tão boa e bonita,
ao maior número possível de pessoas.
“Assim, livre em relação a todos, eu
me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível.”
Como escreve Chiara Lubich: Se estamos incorporados em Cristo, se somos Ele, ter divisões,
pensamentos conflitantes, é dividir Cristo. [...] Quando, [...] entre os
primeiros cristãos, havia o perigo de quebrar a concórdia, eles eram
aconselhados a ceder nas próprias ideias, contanto que se mantivesse a
caridade. [...] O mesmo acontece também hoje: às vezes, mesmo estando nós
convencidos de que um determinado modo de pensar é o melhor, o Senhor nos
sugere que é melhor ceder nas próprias ideias, é melhor o menos perfeito, mas
de acordo com os outros, do que o mais perfeito em desacordo – contanto que
seja salva a caridade com todos.
E este “dobrar-se para não romper” é
uma das características, talvez dolorosas, mas também mais eficazes e
abençoadas por Deus, que mantém a unidade segundo o pensamento mais autêntico
de Cristo, e consequentemente sabe apreciar o seu valor1.
“Assim, livre em relação a todos, eu
me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível.”
A experiência do cardeal vietnamita
François van Thuân, que passou treze anos preso, nove deles em isolamento
total, testemunha que, quando o amor é verdadeiro e desinteressado, também
obtém como resposta o amor. Durante a sua prisão, ele ficou sendo vigiado por
cinco guardas, mas os superiores decidiram substituí-los a cada quinze dias por
outro grupo, porque estavam sendo “contaminados” pelo bispo. No final decidiram
deixar sempre os mesmos, senão ele acabaria “contaminando” todos os guardas da
prisão. O próprio cardeal conta: No início, os guardas não
falavam comigo. Só respondiam sim e não. [...] Uma noite me veio um pensamento:
“François, você ainda é muito rico, você tem o amor de Jesus em seu coração;
ame-os como Jesus amou você”. No dia seguinte, comecei a querê-los bem ainda
mais, a amar Jesus neles, sorrindo, trocando palavras gentis com eles. [...]
Pouco a pouco nos tornamos amigos.2 Na prisão, com a ajuda de seus
carcereiros, ele fez a cruz peitoral que usaria até a morte, símbolo da amizade
nascida com eles: pequenos pedaços de madeira e uma correntinha de ferro.
1) LUBICH, Chiara. L’arte di amare,
Roma: Città Nuova, 2005, pp. 120-121 (tradução nossa).
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