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Ética e fraternidade
Em tempo de guerras fraticidas, o tema
sugerido para a nossa reflexão não é apenas oportuno, mas urgente, essencial.
Quanto mais o conceito de progresso e a
visão de desenvolvimento proclamam e apoiam um percurso de globalização sem
solidariedade, sem justiça e sem fraternidade, mais sentimos a necessidade de
promover uma globalização diferente, mais humana e mais solidária, marcada pela
fraternidade, pela justiça e pelo respeito aos direitos e pela consciência dos
deveres de todos os seres humanos.
Cultura do descarte
No pensamento do Papa Francisco, um
conceito desumano de globalização produz a “cultura do descarte” que, além de
ser um problema atual e dramático, é também uma espécie de critério a ser
utilizado para observar, ler, analisar e compreender com mais profundidade a
realidade dos acontecimentos sociais e das situações históricas que estamos
enfrentando na nossa mudança de época em meio a um clima de guerra fratricida.
É a partir do aumento ou da diminuição, ou da não existência da ‘cultura do
descarte’ que poderíamos fazer uma classificação do grau e do tamanho da
civilização de cada uma das 204 nações do mundo. A ‘cultura do descarte’ é a
prova de uma mentalidade horrível e de uma lógica destruidora que não se detém
apenas nas dimensões econômicas e financeiras. Ela define como descartáveis
todos os bens materiais e supérfluos na vida das pessoas: é uma cultura
materialista, consumista, injusta e desumana que, quando entra nas escolhas
cotidianas de uma democracia, e influencia os corações e as ideias de todas as
pessoas e de todos os povos do mundo, – especialmente em situações de guerra,
de urgência, de sofrimentos, de injustiças e de escassez de recursos –, afeta a
percepção da dignidade das pessoas e destrói a vida de irmãos e irmãs em âmbito
cultural, afetivo, político e social.
Medo dos pobres e dos marginalizados
Sabemos por experiência que os nossos
desejos e anseios de um futuro mais humano, fraterno e justo não encontram e nunca
encontrarão resposta em meio a uma submissão absurda e desumana aos ídolos do
lucro e da arrogância, do armamento, do racismo, da violência e da
insensibilidade frente ao sofrimento alheio. Nessa onda trágica da ‘cultura do
descarte’ (hoje, na Ucrânia, os civis infelizmente são tratados como seres
humanos de descarte), alguém inventou a palavra “aporofobia” para indicar uma
filosofia de vida, de atitude e de ideias baseadas no medo dos pobres, dos
marginalizados, dos ‘sem voz e sem vez’. Os meses de pandemia, acrescidos de um
estado de guerra, tem desencadeado e aumentado no mundo inteiro uma espécie de
fobia, juntamente com insultos, agressividade e violência contra os
estrangeiros, os migrantes, os excluídos, os moradores de rua, os ‘sem nome’,
os empobrecidos, os sem-teto, os refugiados, os deslocados, os requerentes de
asilo.
Vocação à liberdade
Contra a ‘cultura do descarte’ sentimos
a urgência e a necessidade de pensarmos e de vivermos a nossa existência como
vocação à liberdade de filhas e filhos de Deus, e como plena realização da
nossa dignidade pessoal. Quanto mais escutarmos, forte e conscientemente, a voz
e o apelo para construirmos um mundo de vida, de fraternidade e de comunhão
entre todas as raças, culturas, línguas e nações, mais constatamos a urgência,
a beleza e a riqueza da proposta de uma ética da fraternidade.
por pe. Gabriel Guarnieri, SX
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