O RICO E LÁZARO | DM |
EXTREMOS
Dom
Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
Neste domingo continua a leitura do capítulo 16 de Lucas, com os
versículos 19-31. Todo capítulo ensina sobre as consequências maléficas do mau
uso dos bens materiais. A chocante parábola do “rico e do pobre Lázaro” serve
de introdução ao tema. Por um lado, temos um homem que vive diariamente em
festas esplêndidas; por outro lado, temos um homem requisitando migalhas e
sendo cuidado por cachorros. A morte chega para ambos, nisto eles são iguais. O
diálogo, após a morte, levanta questões inquietadores sobre o situação antes da
morte. Também oferece indicações para solucionar situações dramáticas da
miséria.
A fé cristã crê e vive na esperança da vida eterna. Professa que o
Senhor que “há de vir a julgar os vivos e os mortos”. É a cena que inicia a
segunda parte da parábola: o julgamento divino. Aquele que tinha condições de
fazer festa todos os dias, agora requisita apenas que “Lázaro molhe a ponta do
dedo para me refrescar a língua”. A resposta é negativa porque durante a vida
foi cavado um “grande abismo entre eles” e agora é intransponível.
As migalhas desejadas por Lázaro em vida e da gota de água desejada pelo
homem festeiro depois da morte indicam que os abismos são cavados com pequenas
decisões, medidas e mecanismos. A vida e a organização da sociedade não são feitas
somente de grandes fatos e decisões. Mas a rotina, as “migalhas”, vai
aprofundando ou vai aterrando o abismo.
O homem rico percebendo que as opções feitas em vida eram irreversíveis
e que não havia mais possibilidade de volta, começa a preocupar-se com os seus
irmãos que mantinham o mesmo modo de vida dele. Até sugere que Lázaro seja
enviado de volta para a terra, como último recurso, para sacudir os irmãos.
Recebe como resposta: “Eles têm Moisés e os profetas, que os escutem” e “não
acreditarão” em Lázaro ressuscitado.
Convivemos, quase que diariamente, com notícias de situações de extrema
miséria e, por outro lado, de anúncios de fortunas pessoais inimagináveis para
a absoluta maioria das pessoas, de lucros milionários de algumas empresas em
períodos curtos. É uma cena análoga à parábola. O que significa “ouvir Moisés e
os profetas”? Moisés, na tradição bíblica, liderou o povo da escravidão para a
liberdade. Mas também, o êxodo tinha por objetivo fazer uma sociedade mais
igual e fraterna. Estes princípios estão expressos no pentateuco e recordados
pelos profetas quando esquecidos.
Hoje a Doutrina Social da Igreja oferece princípios para orientar os
cristãos. “Estes princípios, expressões da verdade inteira sobre o homem
conhecida através da razão e da fé, promanam “do encontro da mensagem
evangélica e de suas exigências, resumidas no mandamento supremo do amor, com
os problemas que emanam da vida da sociedade” (160). Os quatro princípios da
Doutrina Social da Igreja são a dignidade da pessoa humana, o bem comum, a
subsidiariedade e a solidariedade.
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