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Splendor - 18 de dezembro de 2010
A dificuldade em explicar por que eu sou católico é que há dez
mil razões
para isso, todas se resumindo a uma única: o catolicismo é verdadeiro. Eu poderia preencher todo o meu espaço com sentenças separadas, todas começando com as palavras, É a única coisa que …
Como, por exemplo, (1) É a única coisa que previne um pecado de
se tornar um segredo. (2) É a única coisa em que o superior não pode ser
superior; no sentido da arrogância e do desdém. (3) É a única coisa que liberta
o homem da escravidão degradante de ser sempre criança. (4) É a única coisa que
fala como se fosse a verdade; como se fosse um mensageiro real se recusando a
alterar a verdadeira mensagem. (5) É o único tipo de cristianismo que realmente
contém todo tipo de homem; mesmo o respeitável. (6) É a única grande tentativa
de mudar o mundo desde dentro; usando a vontade e não as leis; etc.
Ou posso tratar o assunto de forma
pessoal e descrever minha própria conversão; acontece que tenho uma forte
impressão de que esse método faz a coisa parecer muito menor do que realmente
é. Homens muito melhores, em muito maior número, se converteram a religiões
muito piores. Preferiria tentar dizer, aqui, coisas a respeito da Igreja
Católica que não se podem dizer mesmo sobre suas mais respeitáveis rivais. Em
resumo, diria apenas que a Igreja Católica é católica. Preferiria tentar
sugerir que ela não é somente maior que eu, mas maior que qualquer coisa no
mundo; que ela é realmente maior que o mundo. Mas, como neste pequeno espaço,
disponho apenas de uma pequena seção, abordarei sua função como guardiã da
verdade.
Outro dia, um conhecido escritor,
muito bem informado em outros assuntos, disse que a Igreja Católica é uma
eterna inimiga das novas idéias. Provavelmente não ocorreu a ele que sua
própria observação não é exatamente uma nova idéia. É uma daquelas noções que
os católicos têm de refutar continuamente, porque é uma idéia muito antiga. Na
realidade, aqueles que reclamam que o catolicismo não diz nada novo, raramente
pensam que seja necessário dizer alguma coisa nova sobre o catolicismo. De fato,
o estudo real da História mostrará que isso é curiosamente contrário aos fatos.
Na medida em que as idéias são realmente idéias, e na medida em que tais idéias
são novas, os católicos têm sofrido continuamente por apoiarem-nas quando elas
são realmente novas; quando elas eram muito novas para encontrar alguém que as
apoiasse. O católico foi não só o pioneiro na área, mas o único; e até hoje não
houve ninguém que compreendesse o que se tinha descoberto lá.
Assim, por exemplo, quase duzentos
anos antes da Declaração de Independência e da Revolução Francesa, numa era
devotada ao orgulho e ao louvor aos príncipes, o Cardeal Bellarmine e Suarez, o
Espanhol, formularam lucidamente toda a teoria da democracia real. Mas naquela
era do Direito Divino, eles somente produziram a impressão de serem jesuítas
sofisticados e sanguinários, se insinuando com adagas para assassinarem os
reis. Então, novamente, os casuístas das escolas católicas disseram tudo o que
pode ser dito e que constam de nossas peças e romances atuais, duzentos anos
antes de eles serem escritos. Eles disseram que há sim problemas de conduta
moral, mas eles tiveram a infelicidade de dizê-lo muito cedo, cedo de dois
séculos. Num tempo de extraordinário fanatismo e de uma vituperação livre e
fácil, eles foram simplesmente chamados de mentirosos e trapaceiros por terem
sido psicólogos antes da psicologia se tornar moda. Seria fácil dar inúmeros
outros exemplos, e citar o caso de idéias que são ainda muito novas para serem
compreendidas. Há passagens da Encíclica do Papa Leão sobre o trabalho
[conhecida como Rerum Novarum, publicada em 1891] que somente agora estão
começando a ser usadas como sugestões para movimentos sociais muito mais novos
do que o socialismo. E quando o Sr. Belloc escreveu a respeito do Estado
Servil, ele estava apresentando uma teoria econômica tão original que quase
ninguém ainda percebeu do que se trata. E então, quando os católicos apresentam
objeções, seu protesto será facilmente explicado pelo conhecido fato de que
católicos nunca se preocupam com idéias novas.
Contudo, o homem que fez essa
observação sobre os católicos quis dizer algo; e é justo fazê-lo compreender
muito mais claramente o que ele próprio disse. O que ele quis dizer é que, no
mundo moderno, a Igreja Católica é, de fato, uma inimiga de muitas modas
influentes; muitas delas ainda se dizem novas, apesar de algumas delas
começarem a se tornar um pouco decadentes. Em outras palavras, na medida em que
diz que a Igreja freqüentemente ataca o que o mundo, em cada era, apóia, ele
está perfeitamente certo. A Igreja sempre se coloca contra a moda passageira do
mundo; e ela tem experiência suficiente para saber quão rapidamente as modas
passam. Mas para entender exatamente o que está envolvido, é necessário
tomarmos um ponto de vista mais amplo e considerar a natureza última das idéias
em questão, considerar, por assim dizer, a idéia da idéia.
Nove dentre dez do que chamamos novas
idéias são simplesmente erros antigos. A Igreja Católica tem como uma de suas
principais funções prevenir que os indivíduos comentam esses velhos erros; de
cometê-los repetidamente, como eles fariam se deixados livres. A verdade sobre
a atitude católica frente à heresia, ou como alguns diriam, frente à liberdade,
pode ser mais bem expressa utilizando-se a metáfora de um mapa. A Igreja
Católica possui uma espécie de mapa da mente que parece um labirinto, mas que
é, de fato, um guia para o labirinto. Ele foi compilado a partir de um
conhecimento que, mesmo se considerado humano, não tem nenhum paralelo humano.
Não há nenhum outro caso de uma
instituição inteligente e contínua que tenha pensado sobre o pensamento por
dois mil anos. Sua experiência cobre naturalmente quase todas as experiências;
e especialmente quase todos os erros. O resultado é um mapa no qual todas as
ruas sem saída e as estradas ruins estão claramente marcadas, todos os caminhos
que se mostraram sem valor pela melhor de todas as evidências: a evidência
daqueles que os percorreram.
Nesse mapa da mente, os erros são
marcados como exceções. A maior parte dele consiste de playgrounds e alegres
campos de caça, onde a mente pode ter tanta liberdade quanto queira; sem se
esquecer de inúmeros campos de batalha intelectual em que a batalha está
eternamente aberta e indefinida. Mas o mapa definitivamente se responsabiliza
por fazer certas estradas se dirigirem ao nada ou à destruição, a um muro ou ao
precipício. Assim, ele evita que os homens percam repetidamente seu tempo ou
suas vidas em caminhos sabidamente fúteis ou desastrosos, e que podem atrair viajantes
novamente no futuro. A Igreja se faz responsável por alertar seu povo contra
eles; e disso a questão real depende. Ela dogmaticamente defende a humanidade
de seus piores inimigos, daqueles grisalhos, horríveis e devoradores monstros
dos velhos erros. Agora, todas essas falsas questões têm uma maneira de parecer
novas em folha, especialmente para uma geração nova em folha. Suas primeiras
afirmações soam inofensivas e plausíveis. Darei apenas dois exemplos. Soa
inofensivo dizer, como muitos dos modernos dizem: As ações só são erradas se são más para a sociedade. Siga essa sugestão e,
cedo ou tarde, você terá a desumanidade de uma colméia ou de uma cidade pagã, o estabelecimento da escravidão como o meio mais barato ou mais
direto de produção, a
tortura dos escravos pois, afinal, o indivíduo não é nada para o Estado, a
declaração de que um homem inocente deve morrer pelo povo, como fizeram os
assassinos de Cristo. Então, talvez, voltaremos às definições da Igreja
Católica e descobriremos que a Igreja, ao mesmo tempo que diz que é nossa
tarefa trabalhar para a sociedade, também diz outras coisas que proíbem a
injustiça individual. Ou novamente, soa muito piedoso dizer, Nosso conflito moral deve terminar
com a vitória
do espiritual sobre o material. Siga essa sugestão e você terminará com a loucura dos maniqueus,
dizendo que um suicídio é bom porque é um sacrifício, que a perversão sexual é
boa porque não produz vida, que o demônio fez o sol e a lua porque eles são
materiais. Então, você pode começar a adivinhar a razão de o cristianismo
insistir que há espíritos maus e bons; e que a matéria também pode ser sagrada,
como na Encarnação ou na Missa, no sacramento do casamento e na ressurreição da
carne.
Não há nenhuma outra mente
institucional no mundo que está pronta a evitar que as mentes errem. O policial
chega tarde, quando ele tentar evitar que os homens cometam erros. O médico
chega tarde, pois ele apenas chega para examinar o louco, não para aconselhar o
homem são a como não enlouquecer. E todas as outras seitas e escolas são
inadequadas a esse propósito. E isso não é porque elas possam não conter uma
verdade, mas precisamente porque cada uma delas contém uma verdade; e estão
contentes por conter uma verdade. Nenhuma delas pretende conter a verdade. A
Igreja não está simplesmente armada contra as heresias do passado ou mesmo do
presente, mas igualmente contra aquelas do futuro, que podem estar em exata
oposição com as do presente. O catolicismo não é ritualismo; ele poderá estar
lutando, no futuro, contra algum tipo de exagero ritualístico supersticioso e
idólatra. O catolicismo não é ascetismo; ele, repetidamente no passado,
reprimiu os exageros fanáticos e cruéis do ascetismo. O catolicismo não é mero
misticismo; ele está agora mesmo defendendo a razão humana contra o mero
misticismo dos pragmatistas. Assim, quando o mundo era puritano, no século
XVII, a Igreja era acusada de exagerar a caridade a ponto da sofisticação, por
fazer tudo fácil pela negligência confessional. Agora que o mundo não é puritano
mas pagão, é a Igreja que está protestando contra a negligência da vestimenta e
das maneiras pagãs. Ela está fazendo o que os puritanos desejariam fazer,
quando isso fosse realmente desejável. Com toda a probabilidade, o melhor do
protestantismo somente sobreviverá no catolicismo; e, nesse sentido, todos os
católicos serão ainda puritanos quando todos os puritanos forem pagãos.
Assim, por exemplo, o catolicismo,
num sentido pouco compreendido, fica fora de uma briga como aquela do
darwinismo em Dayton. Ele fica fora porque permanece, em tudo, em torno dela,
como uma casa que abarca duas peças de mobília que não combinam. Não é nada
sectário dizer que ele está antes, depois e além de todas as coisas, em todas
as direções. Ele é imparcial na briga entre fundamentalistas e a teoria da
Origem das Espécies, porque ele se funda numa origem anterior àquela Origem;
porque ele é mais fundamental que o Fundamentalismo. Ele sabe de onde veio a
Bíblia. Ele também sabe aonde vão as teorias da Evolução. Ele sabe que houve
muitos outros evangelhos além dos Quatro Evangelhos e que eles foram eliminados
somente pela autoridade da Igreja Católica. Ele sabe que há muitas outras
teorias da evolução além da de Darwin; e que a última será muito provavelmente
eliminada pela ciência mais recente. Ele não aceita, convencionalmente, as
conclusões da ciência, pela simples razão de que a ciência ainda não chegou a
uma conclusão. Concluir é se calar; e o homem de ciência dificilmente se
calará. Ele não acredita, convencionalmente, no que a Bíblia diz, pela simples
razão de que a Bíblia não diz nada. Você não pode colocar um livro no banco das
testemunhas e perguntar o que ele quer dizer. A própria controvérsia
fundamentalista se destrói a si mesma. A Bíblia por si mesma não pode ser a base
do acordo quando ela é a causa do desacordo; não pode ser a base comum dos
cristãos quando alguns a tomam alegoricamente e outros literalmente. O católico
se refere a algo que pode dizer alguma coisa, para a mente viva, consistente e
contínua da qual tenho falado; a mais alta consciência do homem guiado por
Deus.
Cresce a cada momento, para nós, a
necessidade moral por tal mente imortal. Devemos ter alguma coisa que suportará
os quatro cantos do mundo, enquanto fazemos nossos experimentos sociais ou construímos
nossas Utopias. Por exemplo, devemos ter um acordo final, pelo menos em nome do
truísmo da irmandade dos homens, que resista a alguma reação da brutalidade
humana. Nada é mais provável, no momento presente, que a corrupção do governo
representativo solte os ricos de todas as amarras e que eles pisoteiem todas as
tradições com o mero orgulho pagão. Devemos ter todos os truísmos, em todos os
lugares, reconhecidos como verdadeiros. Devemos evitar a mera reação e a
temerosa repetição de velhos erros. Devemos fazer o mundo intelectual seguro
para a democracia. Mas na condição da moderna anarquia mental, nem um nem outro
ideal está seguro. Tal como os protestantes recorreram à Bíblia contra os
padres e não perceberam que a Bíblia também podia ser questionada, assim também
os republicanos recorreram ao povo contra os reis e não perceberam que o povo
também podia ser desafiado. Não há fim para a dissolução das idéias, para a
destruição de todos os testes da verdade, situação tornada possível desde que
os homens abandonaram a tentativa de manter uma Verdade central e civilizada,
de conter todas as verdades e identificar e refutar todos os erros. Desde
então, cada grupo tem tomado uma verdade por vez e gastado tempo em torná-la
uma mentira. Não temos tido nada, exceto movimentos; ou em outras palavras,
monomanias. Mas a Igreja não é um movimento e sim um lugar de encontro, um
lugar de encontro para todas as verdades do mundo.
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