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Redação (04/09/2022 09:50, Gaudium Press) Quantas vezes não passamos por ocasiões em que arquitetamos todo um plano e as coisas correm de uma maneira totalmente diversa à planejada. De fato, por mais que o homem almeje ser independente, traçando suas próprias vias e caminhos, a vida lhe ensina que ele é incapaz de rumar dessa forma. Não é novidade que todos temos debilidades e fraquezas. Afinal, não somos donos de nossos narizes…
Como então lidar com tais percalços sem se deixar abater pelo peso das próprias insuficiências e limitações? Eis o que nos ensina a liturgia de hoje.
“Dai ao nosso coração sabedoria”
Com o trecho do Livro da Sabedoria, recolhido para a primeira leitura desse domingo, o Autor sagrado evidencia o quanto o homem é débil, fraco e contingente: “Na verdade os pensamentos dos mortais são tímidos e nossas reflexões incertas”. (Sb 9,14)
Sublinha ainda o quanto nossa compreensão é falha e nossos conhecimentos, caducos. De fato, que valor tem o homem, pó formado dessa terra? Paradoxalmente, a esse mesmo homem o Filho de Deus convida para uma grandiosa e esplêndida missão: a de ser discípulo Seu (Cf. Lc 14,27).
Como é possível, pois, que dessa criatura tão frágil Deus exija vias heroicas como a de segui-Lo? Se não bastasse, Ele propõe, qual conditio sine qua non, um desapego ao mundo e um amor à cruz sem medidas. Pareceria proeza inalcançável.
O humilde é o verdadeiro sábio
Não obstante, conhecendo as fraquezas do gênero humano, Jesus nos mostra como realizar esse ato de heroísmo por meio de duas parábolas (Cf. Lc 14, 28-33). Nelas, tanto o construtor quanto o rei são postos em situações nas quais, apesar de débeis, devem alcançar uma determinada meta, como construir uma torre ou vencer uma batalha.
Como sair com êxito? Primeiramente, sentar e calcular os gastos; ou seja, olhar para si mesmo com sinceridade e reconhecer a própria insuficiência. Depois, enviar mensageiros a fim de negociar as condições de paz, isto é, juntar as mãos e pedir a Deus forças, pois sem elas jamais seremos dignos discípulos Seus.
É de primordial importância esse reconhecimento das próprias limitações, pois Deus só se agrada com o coração humilde.
Neste sentido, conta-se o fato de um monge chamado Moisés, o qual detinha grande força física aliada a uma força de vontade invulgar. Entretanto, pouco tempo após ingressar na vida religiosa, foi alvo de terríveis tentações contra a virtude angélica da pureza.
A fim de vencer tais provas, decidiu impor-se pesadas penitências, jejuns e orações. Desse modo agiu por muito tempo, sem, contudo, lograr vencer o demônio que lhe perseguia. Certo dia, veio ter com ele o santo abade Isidoro, que lhe disse: “Desde agora, em nome de Jesus Cristo, acabem as tuas tentações”.
E assim foi, porque nunca mais lhe vieram tais dificuldades. Isidoro acrescentou, porém: “Moisés, para que não te gloriasses nem caísses na soberba, pensando que pelos teus exercícios e esforços tinhas vencido [o demônio], permitiu Deus tão extensa tentação para o teu proveito”.[1]
Dessa maneira, sob a luz do ocorrido com o monge Moisés, cabe a nós ecoar a prece do salmista: “Dai ao nosso coração sabedoria” (89,3). Sabedoria que consiste na humildade: reconhecermos que, por nós mesmos, não podemos nada. E, por outro lado, sem jamais perder o entusiasmo; pois assim brada o verdadeiro humilde: “Tudo posso!” – e logo acrescenta – “naquele que me conforta” (Cf. Fl 4,13).
Imploremos a Nossa Senhora, sede de sabedoria e abismo de humildade, que nos obtenha tal graça, por sua maternal intercessão.
Por Jerome Sequeira Vaz
[1] Cf. RODRIGUES, Afonso. Exercícios de Perfeição e Virtudes Cristãs. São Paulo: Cultor de Livros, 2017, v. 2, p. 314.
Fonte: https://gaudiumpress.org/
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