Papa Francisco em Assis | Vatican News |
Uma
festa de música, testemunhos, alegria e emoção: assim foi o encontro do Papa
com os jovens da "Economia de Francisco", que se reuniram esta semana
em Assis para repensar uma nova economia mundial. Antes de pronunciar seu
discurso, o Pontífice ouviu o testemunho de oito jovens de várias proveniências
que ilustraram projetos concretos inspirados pela iniciativa.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
É possível mudar, transformar uma economia que mata
numa economia da vida. Esta foi a principal mensagem que o Papa Francisco
ofereceu aos jovens reunidos em Assis para o evento “Economia de Francisco”.
Três anos se passaram desde a convocação do Papa
até a sua realização e hoje a juventude mundial se encontra a viver e crescer
num período desafiador entre crise ambiental, pandemia e guerras. Os jovens
herdaram grandes riquezas, mas ao mesmo tempo um planeta degradado e privado de
paz. Neste cenário, os jovens são chamados a se tornarem artesãos e
construtores da casa comum. As finanças são etéreas, é preciso redescobrir
as raízes humanas da economia, exortou Francisco.
“Uma
nova economia, inspirada em Francisco de Assis, hoje pode e deve ser uma
economia amiga da terra e uma economia de paz. Trata-se de transformar uma
economia que mata numa economia da vida, em todas as suas dimensões.”
Mudança rápida e firme
E os jovens têm este potencial transformador,
afirmou o Papa. Mas advertiu para que não sejam como os estudantes das
Faculdades de Economia, com a cara fechada, mas sim criativos e otimistas. Este
entusiasmo deve ser aplicado imediatamente para uma conversão ecológica. Uma
economia humana pede uma nova visão do meio ambiente. Nos últimos dois séculos,
acrescentou Francisco, a terra foi saqueada para aumentar o nosso bem estar,
mas não o bem estar de todos. “É este o tempo de uma nova coragem para
abandonar as fontes fósseis de energia, de acelerar o desenvolvimento de fontes
com impacto zero ou positivo.”
Mas para mudar é preciso estar disposto a fazer sacrifícios.
Passar de um estilo de vida insustentável para um estilo sustentável significa
transformar as dimensões social, relacional e espiritual. “É necessária uma
mudança rápida e firme. E o digo seriamente. Conto com vocês! Por favor, não
nos deixem tranquilos e deem-nos o exemplo”, exortou o Papa, pedindo coragem e
uma "pitada" de heroismo. E citou a experiência de um jovem que
recusou emprego quando descobriu que seria operário numa fábrica de armas.
A poluição da desigualdade
Quando tentamos salvar o planeta, não podemos
ignorar o homem e a mulher que sofrem. O grito da terra e o grito dos pobres é
o mesmo. A poluição que mata não é somente aquela provocada pelo dióxido de
carbono, mas também a desigualdade polui o nosso planeta. As calamidades ambientais
não podem cancelar as calamidades da injustiça social e da injustiça política.
Fazer economia inspirando-se em Francisco de Assis
significa comprometer-se em colocar os pobres em primeiro lugar. Sem o amor
pelos pobres e por toda pessoa vulnerável, não há “Economia de Francisco”.
Enquanto o sistema produzir descartados e atuarmos segundo este sistema,
seremos cúmplices de uma economia que mata. São Francisco não ensina somente a
amar os pobres, mas também a pobreza. O capitalismo quer ajudar os pobres, mas
não os estima. Não devemos amar a miséria, explicou o Papa. Pelo contrário,
devemos combatê-la. Mas o Evangelho diz que sem estimar os pobres não se
combate nenhuma miséria.
Este estilo de vida insustentável acomete também as
relações humanas, a começar pela família, incapaz de acolher e cuidar de novas
vidas. O resultado é o inverno demográfico, onde se prefere ter relações
afetivas com cães e gatos. E as mulheres são as primeiras a serem penalizadas
por terem que optar entre filhos e carreira. O consumismo atual procura
preencher o vazio das relações humanas com mercadorias sempre mais sofisticadas
– "as solidões são um negócio do nosso tempo!" -, mas assim gera uma
penúria de felicidade.
O capital espiritual
O capitalismo gera ainda uma insustentabilidade
espiritual. A técnica nos ensina o “que” fazer e “como” fazer, mas não ensina o
“porquê”. A falta de sentido torna os jovens frágeis e incapazes de elaborar
sofrimentos e frustrações, o que faz do capital espiritual um motor
imprescindível para a mudança.
O Pontífice fez estas reflexões para deixar aos
jovens três indicações de percurso: olhar o mundo com os olhos dos mais pobres,
investir em criar trabalho digno para todos e concretude para que todas as
ideias se transformem em ação.
O Papa concluiu com uma oração:
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