Shutterstock | Rido Conocer lo que nos desasosiega es el primer paso para vivir mejor. |
Entenda por que a necessidade implacável de só ver o lado positivo expulsa sentimentos que deveriam ser nomeados e tratados.
Certa vez, matriculei-me em um curso chamado “Sinais e Maravilhas”. Uma vez por semana, os estudantes de teologia se reuniam em um auditório com teto rebaixado, onde nos sentávamos brevemente em cadeiras mofadas cobertas com tecido amarelo da década de 1970.
Logo nos diziam para nos levantarmos, formarmos pequenos grupos e profetizarmos aos nossos colegas de classe. Éramos encorajados a verbalizar coisas boas uns sobre os outros, manter a positividade e falar sobre saúde e riqueza.
Tentar entender essa experiência foi o que me levou a uma profunda crise de fé que durou vários anos.
Só precisamos de mais fé?
Esse exemplo é extremo, mas há vários casos em que a religião é envolta em um verniz de positividade constante. A ideia é realmente muito simples: as pessoas que têm uma fé forte serão abençoadas. Isso significa que, quando experimentamos fatos negativos em nossas vidas – sejam problemas de relacionamento, problemas financeiros ou doenças – a melhor resposta é dar um grande sorriso, ter mais fé e poder. Dar voz a qualquer uma das coisas negativas que estão acontecendo em nossas vidas é admitir uma espiritualidade falha.
Alguns dos movimentos espiritualistas mais bem-sucedidos são profundamente fascinados por uma cultura de auto-ajuda que enfatiza o bem e nega o mal.
Muitas pessoas presas a esse tipo de teologia acabam em desespero, pois se convencem de que têm uma fé defeituosa. Suas vidas pessoais não condizem com a imagem que está sendo projetada nas homilias que elas ouvem e nos livros que lêem, nos quais os santos nunca têm experiências negativas.
Minha crise de fé foi causada pelo fato de eu sentir que estava do lado de fora, olhando para dentro. Todos as outras pessoas – talvez todas estivessem fingindo – estavam alegremente focadas em saúde e riqueza. Elas estavam aproveitando suas vidas. Positiva ao extremo, sua fé não admitia espaço para sofrimento ou dúvida.
Eu ficava ali, naquela aula de profecia, cercado por colegas e, mesmo assim, totalmente sozinho. Era uma ovelha negra cheia de dúvidas e perguntas, tentando descobrir como chegar silenciosamente à porta.
Podemos ser muito positivos?
Minha experiência na faculdade me fez pensar há décadas sobre como e por que a positividade pode se tornar tóxica. A necessidade implacável de só ver o lado positivo expulsa sentimentos válidos que deveriam ser nomeados e tratados?
Ninguém, depois de compartilhar sobre o quão terrível foi seu dia, quer ouvir: “apenas saia dessa e seja feliz”. Ninguém quer que as complexidades de sua situação se reduzam a uma simples correção. A vida é mais difícil do que isso – e mais confusa.
Admito plenamente que há valor em manter uma perspectiva positiva. É sempre melhor se adaptar, ajustar e aceitar, em vez de cair em uma paralisia desesperada. É claro que é muito possível ser toxicamente negativo. O ponto, porém, é que há momentos em que precisamos de um ombro para chorar, e é prejudicial sentir que você está se impondo ao dizer a alguém como você realmente se sente. É por isso que muitas vezes nos sentimos compelidos a sorrir e afirmar que a vida é maravilhosa. O sorriso é uma comodidade para os outros, então não os sobrecarregamos. Mas é falso. Há hora e lugar para conversas sérias, e muitos sorrisos falsos fazem o verdadeiro “você” desaparecer.
Eu me pergunto se o medo de ser real, em vez de manter relacionamentos felizes e pacíficos, na verdade aumentaria a distância entre nós. Eu não posso dizer quantas vezes os paroquianos me pedem conselhos e, depois de me dizerem como estão zangados com Deus, imediatamente recuam e se desculpam vigorosamente. Eles pensam que pecaram ao expressar emoções negativas. Minha resposta é sempre a mesma: Deus é forte o suficiente para lidar com sua raiva. Na verdade, ele quer saber tudo. Ele quer que você conte a ele tudo sobre toda a bagunça negativa e sem verniz da sua vida.
Ser real é necessário para um verdadeiro relacionamento com Deus
Os Salmos, se você pensar bem, são basicamente sobre como estar super feliz e agradecido. Mas o salmista também fica meio zangado e triste. Um relacionamento com Deus não significa pisar em ovos. Sua disposição de ficar conosco enquanto nos desabafamos é precisamente o que garante que ele permaneça próximo. Apesar de, em seu mistério infinito, ele não o consertar, ele fornece algo muito melhor: seu amor.
Quando deixamos os outros envergonhados por expressarem emoções negativas, negamos a eles a oportunidade de serem amados. Estamos validando a ideia de que eles precisam resolver por conta própria, se recompor e depois voltar quando forem dignos de amizade. Essa atitude não é a verdadeira amizade, assim como uma espiritualidade toxicamente positiva não pode formar um verdadeiro relacionamento com Deus.
Não estou endossando reclamações constantes. Em vez disso, estou dizendo que precisamos expressar sentimentos negativos de maneira apropriada para que possamos nos curar e seguir em frente. Se cairmos na negação, não haverá oportunidade de cura.
Fonte: https://pt.aleteia.org/
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