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A TRANSMISSÃO DA FÉ ÀS NOVAS GERAÇÕES
Dom
Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo Metropolitano de Santa Maria
Vivemos hoje numa sociedade laica, plural, secularizada, que, de fato,
não é antirreligiosa, mas que situa todas as suas convicções no terreno da
livre adesão. Essa situação sociocultural nos força a despertar a dimensão
missionária da fé. Daí a problemática da proposta da fé e, mais concretamente
ainda, a do “primeiro anúncio”. Não é possível estabelecer um caminho de
catequese se a pessoa não está motivada a percorrê-lo. É preciso que crianças,
jovens e adultos tenham um mínimo de interesse em se aprofundar na fé cristã.
Outro desafio é a recuperação da centralidade da fé na vida humana.
Muitos escolheram caminhos que dispensam Deus e a vida eterna da agenda. Quando
aparece a doença, a morte, a perda e o vazio, se questionam sobre as razões da
existência. Essa realidade afeta até mesmo os cristãos, como bem recordou o
Papa Bento XVI na Porta Fidei n. 2: “Sucede não poucas vezes que os cristãos
sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da
fé do que com a própria fé, considerada essa como um pressuposto óbvio da sua
vida diária. Ora, um tal pressuposto não só deixou de existir, mas
frequentemente acaba até negado.”
Urge recuperar o lugar de Deus em nossa vida, e, entre as coisas que
passam, ser capaz de abraçar as que permanecem. Isso traz consequências para a
transmissão da fé. Somente quem a tem pode apresentá-la. Eis o desafio da
catequese atual. Há muita sede, mas é preciso maior profundidade e experiência
de encontro com a Palavra que se fez carne.
A experiência revela que, em todo o Brasil, se multiplicam formações e
projetos de Iniciação à Vida Cristã numa redescoberta fecunda da centralidade
da Palavra de Deus na catequese de crianças, jovens e adultos. As novas
gerações e os afastados se encantam quando a Palavra é anunciada sem
fundamentalismos ou ideologias, e quando a doutrina e a moral têm como
fundamento e permanente referência a revelação bíblica.
Contudo, se percebe que a resistência e os obstáculos crescem em quem
vive outro estilo de vivência, pouco afeito à escuta da Palavra. Então, há
rejeição às mudanças, especialmente quando a Palavra pede para estarmos atentos
aos sinais dos tempos, e mantendo a fidelidade à beleza tão antiga e sempre
nova do Evangelho.
Uma catequese centrada na Palavra exige catequistas mais dedicados à
leitura e ao testemunho cristão. Exige ministros e leigos que anunciem mais
pela vida do que pelas palavras. Igualmente é preciso rever os materiais usados
na catequese de crianças, jovens e adultos. Afinal, no “início do ser cristão,
não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um
acontecimento, com uma pessoa, que dê à vida um novo horizonte e, dessa forma,
o rumo decisivo.” Deus Caritas Est n.1.
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