Santuário de Aparecida | Vatican News |
Desde
2019 se desenvolvem no Santuário Nacional de Aparecida os trabalhos para o
revestimento das 4 fachadas principais da Basílica. O trabalho foi confiado ao
Centro Aletti, de Roma, sob a direção do padre Marco Rupnik, um artista sacro
mundialmente conhecido, autor de projetos para muitas igrejas, entre elas o
novo Santuário de Fátima, em Portugal e a fachada do Santuário de Lourdes, na
França.
Padre Pedro André, SDB e Laura Lo Monaco - Vatican
News
Dentre os membros da equipe do Centro Aletti que
está em Aparecida, para o revestimento da fachada sul do Santuário, se encontra
o artista sacro Erasmo de Abreu, 40 anos, de Castanhal no Estado do Pará. Ele
concedeu uma entrevista ao Vatican News, contando um pouco de sua experiência
no trabalho de revestimento da Basílica e sua visão a respeito da devoção dos
brasileiros que peregrinam até Aparecida, ao encontro da Padroeira do Brasil.
Conte-nos um pouco da sua história de fé e como ela
se entrelaçou com a arte.
Como muitos no Brasil, minha história de fé se
iniciou na comunidade, onde ganhamos esta experiência de Igreja desde pequeno,
acompanhado pelos meus pais e catequistas. Minha experiência na arte se iniciou
com a minha aproximação com a diocese de Castanhal e o bispo dom Carlos Verzeletti,
fundador de uma escola de arte, que me ajudou a compreender e me interessar
mais sobre a vida da arte da Igreja, ajudando a aprofundar meus conhecimentos e
habilidades. Ele me apresentou La Frank, Arcabas, padre Rupnik, Claudio Pastro,
onde fomos misturando um pouco os estilos e chegamos à arte que desenvolvemos
hoje nas paróquias.
Qual a importância da arte num templo católico?
Dentro da concepção daquilo que aprendi e daquilo
que já vivi: a palavra de Deus tem muita força, a evangelização tem muita força,
são de grande importância; é aquilo que norteia toda nossa caminhada como
cristãos, como católicos, como pessoas que tem acesso ao Cristo através da
Palavra, através do Anúncio, através da Tradição. A arte no templo católico
abre caminhos e portas para que pessoas que não tenham tido a oportunidade de
encontrarem-se com Deus, se aproximem muito mais e assim se despertem para um
encontro através de uma imagem. A arte tem essa importância de provocar um
encontro, um questionamento, de se perguntar o que aquela arte está dizendo e
porque nós a encontramos ali. A arte que eu tenho visto, proposto e aprendido
oferece muito isso: provoca um encontro, um questionamento, uma aproximação com
Deus.
Como você conheceu o padre Rupnik, e como se tornou
seu colaborador?
Conheci o padre Rupnik através do bispo dom Carlos
Verzeletti. Como já fazíamos alguns trabalhos nas paróquias da diocese de
Castanhal, um dia dom Verzeletti me propôs morar um tempo na Itália, no Centro
Aletti (onde Padre Rupnik era diretor), e ali fazer uma experiência mais
profunda acerca da arte, da teologia que norteia a arte, e da comunidade de
artistas que gera, produz e vive toda essa arte que oferece para todo o mundo.
Assim, ingressei nesta comunidade de artistas e me tornei colaborador do grupo.
Trabalhos de revestimeto externo do Santuário de Aparecida |
Como se desenvolve o trabalho no Ateliê de
Castanhal?
No retorno à Castanhal, há 3 anos atrás, nós
colocamos em pé o ateliê AMACOM: o ateliê de artes e mosaicos da Amazônia, no
qual estamos trabalhando desde sua fundação em setembro de 2019. Nos trabalhos
desenvolvidos no ateliê nós buscamos manter o que aprendemos na Itália, do
que vivemos no centro Aletti, do que absorvemos como teologia, iconografia,
leitura e interpretação do Evangelho através de imagens. Assim nós temos levado
adiante um grupo coeso e que tem muita facilidade de compreender aquilo que o centro
Aletti oferece.
Como é a experiência de trabalhar com mosaicos no
Santuário de Aparecida? Você já havia trabalhado na primeira fase?
Sim, na primeira fase eu já havia trabalhado e eu
jamais poderia sonhar que um dia estaria trabalhando em um Santuário
tão importante para nós brasileiros; eu como artista brasileiro poder oferecer
algo que já faço com as minhas mãos, mas muito mais de poder oferecer algo como
filho deste país tão devoto de Maria é uma alegria muito grande. A experiência
de poder fazer mosaicos aqui no Santuário é um presente dado por Deus para mim
e para minha equipe. Hoje sou muito mais feliz de poder trazer aqui um pequeno
grupo de artistas para poder colaborar junto com pessoas tão experientes, tão
doadas, tão entregues a esse trabalho que é tão bonito. É uma alegria muito
grande poder fazer parte dos trabalhos de Aparecida.
Quantos fazem parte da equipe de trabalho nesta
fase? De onde eles são?
Nós somos um número de aproximadamente 42 pessoas, vindas de muitos países do
mundo, como por exemplo Itália, México, Argentina, Polônia, República Tcheca,
Eslovênia, Monte Negro, Albânia, Líbano, Filipinas, Ucrânia, Venezuela, Croácia
e Brasil, claro. É um grupo misto, cheio de culturas diferentes e isto nos
enriquece muito.
Equipe de trabalho formada por artistas do mundo todo |
Como se desenvolve o trabalho de cada dia?
Nós começamos bem cedo, com o café da manhã.
Trabalhamos das 7h30 às 18h30, com pausa ao meio-dia para a celebração da Santa
Missa. Durante todo o dia trabalhamos nos mosaicos e fazemos as refeições
juntos.
Nestes últimos dias, devido às festividades da
padroeira, muitos peregrinos chegaram a pé, de longas distâncias. Há alguma
experiência que mais tenha chamado sua atenção?
Eu sempre me comovo com os grupos, com as expressões
das pessoas, de como as pessoas vem até o Santuário para rezar, para confiar
aquilo que Deus faz de forma tão pessoal em suas vidas. É interessante ver como
cada um está ali por aquilo que recebeu ou por aquilo que se sente bem em
agradecer ou por poder estar visitando a casa da Mãe. Cada pensamento, cada
vida pessoal, cada milagre que aconteceu na vida de alguém se coloca junto com
o de outras pessoas e de repente nós temos um mar de pessoas na mesma fé. Ver
pessoas de todas as cores, todas as raças, todas as classes no mesmo sentido de
encontrar com Maria, de agradecer a Deus por aquilo que recebe, isso me comove
muito.
Como os seus colegas estrangeiros veem as
demonstrações de fé do povo brasileiro?
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