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ELEIÇÕES, DISCERNIMENTO E MANIPULAÇÃO RELIGIOSA
Dom
Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
A
recente nota da Presidência da CNBB, de 11 de outubro, adverte, de forma clara,
contra a exploração da fé e da religião para angariar votos no segundo turno.
Torna-se uma apropriação indevida de símbolos e espaços sagrados para veicular
conteúdos de campanhas políticas eleitorais. Desvirtua-se a finalidade,
precípua e sublime do culto, para exaltar pessoas e conquistar, de modo
inadequado, e antiético, votos de fiéis que são, dessa forma, cooptados e
distraídos da sua devoção autêntica de glorificar ao próprio Deus.
Por
outra parte, percebe-se, em certos ministros religiosos (pastores e padres), um
comportamento próximo do abuso espiritual e da intimidação, ameaçando com a
maldição do inferno ou até excomunhão aos eleitores que votarem no candidato
contrário ao que eles defendem, como única alternativa. Esquece-se que a missão
de um líder espiritual é formar consciências, não substituí-las (Amadeo
Cencini), iluminar e chamar à reflexão, não determinar, coagir e direcionar o
voto, cerceando-se gravemente a liberdade de expressão e o direito ao
voto.
Para
esses religiosos que assumem a função de cabos eleitorais e que violentam a
sacralidade das consciências dos fiéis, as pessoas tornam-se massa de manobra,
ou rebanho gregário, que deve ser totalmente conduzido, sem o mínimo respeito,
a suas preferências ou opções. Estes representantes do fundamentalismo
religioso ainda interferem, de modo insidioso e violento, no clima eleitoral,
praticando o terrorismo espiritual que divide, acirra os ânimos e gera atitudes
de ódio, medo e desgosto pela atividade política.
O
Cristo do Evangelho é o grande esquecido e desconhecido por estas práticas que
tornam as eleições uma guerra suja, na qual, o único que importa é ganhar,
passando por cima do respeito, do amor incondicional, da justiça, legalidade,
verdade, e todos os valores do Reino que o Salvador veio testemunhar para guiar
a humanidade a dignidade da filiação divina e da reconciliação.
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