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FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA CIDADÃ
Dom
Genival Saraiva
Bispo Emérito de Palmares (PE)
Por
serem educáveis, o indivíduo, no contexto em que vive, e a coletividade,
conforme as circunstâncias de tempo e lugar, encontram-se sob um contínuo
processo de influência, por parte de pessoas e instituições, segundo suas
concepções ideológicas e padrões pragmáticos de conduta. Essa realidade é
identificada na vida das pessoas e na história das civilizações, num
passado mais ou menos remoto ou na atualidade, e atua, de forma determinante,
no campo da formação da consciência humana, diante de situações do dia a dia,
no universo social, econômico, político, religioso. Hoje, o fenômeno da
comunicação online tornou-se globalizado, desconhecendo fronteiras geográficas
e acontecendo num “aqui e agora” universalizado, graças à versatilidade dos
meios de comunicação. Obviamente, tudo isso tem consequências favoráveis ou
preocupantes, de conformidade com o “modus pensandi” e o “modus operandi” de
pessoas e instituições que utilizam meios transparentes ou formas sombrias, em
vista da obtenção de seus intuitos. À sua maneira, o profeta Zacarias, no
seu tempo, se referiu à conduta das pessoas, em face de seus semelhantes, que
Deus abençoa ou amaldiçoa: “’Falar a verdade uns aos outros e praticar a paz
nos vossos tribunais e não guardar a maldade em vossos corações, uns contra os
outros, nem recorrer ao juramento falso: são coisas que odeio’. (Zc
8,16-17)
Diante
do ensinamento profético e fazendo a leitura do processo eleitoral em curso, é
necessário compreender o momento vivido pela sociedade que está gerando uma
polarização muito acentuada entre os brasileiros, cujo perfil tem o caráter de
radicalidade que não se registrou em outras eleições. Diferentemente do
discurso persuasivo que “consegue convencer outras pessoas”, usa-se o discurso
enganoso, intencionalmente mentiroso, tanto na apresentação de causas que não
estão fundamentadas na verdade, quanto na divulgação de notícias falsas. Essa é
“a maldade” referida pelo profeta Zacarias que está colocando os brasileiros
“uns contra os outros”. Embora não desconhecendo expressões de intolerância, ao
longo dos tempos, ante a desejada harmonia social, o bom senso e a consciência
de cidadania interpelam a população brasileira, diante de extremismos
ideológicos, de fundamentalismos religiosos, de sectarismos partidários. Tristemente,
constata-se um patrulhamento de natureza ideológica que leva à acriticidade das
pessoas, tendo como consequência uma adesão teleguiada e um controle
intencional da consciência humana numa esfera sagrada como, por exemplo, a
liberdade religiosa, a liberdade da manifestação da prática religiosa. Nesse
conjunto de coisas, chamam a atenção a face empresarial de igrejas cristãs e o
crescente envolvimento político-partidário de seus representantes. A “teologia
da prosperidade”, que está na raiz desse projeto, tem como focos o acúmulo de
bens materiais e a conquista do poder que, claramente, se colocam na direção
contrária do serviço – “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para
servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mt 20,28) e do mandado missionário
– “Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos” (Mt 28,19). Na verdade, esses
são os traços distintivos que Jesus associou à ação de sua Igreja. A
sociedade, como tal, através de suas instituições, como a Escola, e a Igreja,
em particular, à luz da Palavra de Deus e da sua Doutrina Social,
têm, inquestionavelmente, um lugar reconhecido na formação da consciência
cidadã dos brasileiros, sempre contemplando a pluralidade e a diversidade
social, sempre preservando a liberdade das pessoas.
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