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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Homilia de Nossa Senhora Aparecida

Nossa Senhora Aparecida | catequizar
Dom Paulo Cezar Costa
Cardeal Arcebispo de Brasília

Homilia de Nossa Senhora Aparecida

“Estamos celebrando Nossa Mãe, Nossa Senhora da Conceição Aparecida. O estarmos aqui, nesta grande celebração, aos pés da Virgem Maria toca o profundo do coração de todos nós, pois é a presença materna da Mãe: Mãe de Deus e Nossa Mãe. Sua presença, através esta simples imagem de Aparecida, simboliza a ternura e a proximidade de Deus para conosco. O nosso coração se enche de amor e dele, sai um canto natural de louvor pela proximidade e presença da Mãe. O mistério da sua presença materna toca o mais profundo do nosso ser. O amor nos leva a nos determos diante da proximidade do mistério de Mãe, contemplá – La, desfrutar de sua presença. Diante Dela nos sentimos acolhidos no peso da vida, diante das nossas dores, sofrimentos, sonhos. Nosso coração se comove e a súplica sincera que brota confiante é a expressão de um coração que renunciou à autossuficiencia, reconhecendo que sozinho nada pode.
Maria é mãe e sua presença materna intercede a Deus por nós. A imagem da rainha Ester que suplica ao Rei pelo seu povo preanuncia Maria, que como mãe intercede por seus filhos e filhas, mas não diante do rei, mas diante daquele que é Senhor da História, diante do seu Filho Jesus Cristo, rei do Universo.

Evangelho das Bodas de Caná apresenta uma festa de casamento. Esta festa representa a Aliança de Deus com a humanidade que se deu em Jesus Cristo. Uma festa de casamento que representa a vida de cada um de nós nesta aliança com Deus; a vida pode ser lida como uma festa e nesta festa está a Mulher, Maria. Ela é aquela que aponta para o Filho a falta do vinho: “Eles não têm mais vinho”. O vinho tinha acabado, Israel não tinha mais profetas que falavam em nome de Deus, não tinham mais vinho. Também, na nossa festa, quantas vezes o vinho parece ter acabado. Quando bate o sofrimento, a doença, a falta de dinheiro, os problemas, parece que o vinho acabou. É preciso, nestes momentos ter a sua presença materna. Ela sempre dirá ao Filho: “eles não têm mais vinho”.
O Filho, Jesus Cristo, lhe objeta: Minha hora ainda não chegou. Jesus está falando do seu sacrifício, da sua morte na cruz. A cena que contemplamos no Evangelho, está intimamente ligada à morte de cruz de Jesus. Esta é a hora de Jesus. E nesta hora Ela estará aos pés da cruz e receberá a cada um de nós como filhos e filhas. Ela é nossa mãe. Na hora que o seu Filho morria, Ele nos deu a sua mãe como nossa mãe. Ela é nossa mãe. Diante dela, é preciso nos sentirmos filhos e filhas.
Mas a festa de Caná, continua e a mulher aponta para os servos, para aqueles que estavam servindo: “fazei tudo o que ele vos disser”. Os servos, nesta cena, são descritos com a palavra grega diakonos. Diakonos significa o discípulo. Maria diz aos discípulos que façam tudo o que o seu Filho mandar. Aqui tem-se um texto rico de significado. A mãe, nesta sena, nos aponta a vontade do Filho, mas onde está contida a vontade do Filho? Onde encontrar a vontade do Filho? A vontade do Filho se encontra nas Escrituras, na Palavra de Deus, principalmente nos Evangelhos. A palavra de Deus deve estar presente na festa da nossa vida, alimentando a nossa vida de seguidores e seguidoras de Jesus Cristo. Por isso, a importância de se ler um pequeno trecho da Bíblia cada dia. Sugiro que você leia e medite evangelho do dia. É a Palavra de Deus que vai formando o nosso coração de amigos e amigas de Deus, muda a nossa vida e dá sentido ao ser e agir, corrigindo posturas e aderindo ao modo de ser, de pensar e de agir de Jesus Cristo”1.
Se na cena de Caná, a mulher (Maria) aponta para os discípulos a vontade do Filho, na cruz Ela se torna mãe do discípulo. Há um crescente no papel da Virgem Maria, que não é lembrada com o próprio nome (Maria), mas vem designada por mulher. O uso do termo mulher, traz toda uma rica densidade. Mulher relembra a Primeira mulher, Eva; relembra a Sião do Antigo Testamento. O sinal de Caná da Galiléia é de natureza messiânica, isto é, se relaciona com a obra do Messias, com a obra de Jesus Cristo.
Na economia da Nova Aliança, sancionada com o Mistério Pascal, a mãe de Jesus se torna personificação da Nova Jerusalém, ou seja, da Filha de Sião à qual os profetas dirigem seus vaticínios sobre os últimos tempos. E assim como na linguagem bíblico-judaica Jerusalém, como também o povo eleito, eram geralmente representados sob a imagem de uma “Mulher”, assim se compreende por que Jesus se dirige à Mãe com o apelativo de “Mulher”. Em Maria, Jesus aponta a personificação da Nova Jerusalém – Mãe, isto é, a Igreja Mãe. Temos uma transposição da imagem da Jerusalém para a Mãe de Jesus. A Mãe de Jesus é mãe universal dos filhos de Deus dispersos, unificados na pessoa de Cristo, que ela revestiu de nossa carne no seu seio materno. Sendo Mãe de Jesus, aos pés da cruz Maria é declarada Mãe dos que são uma só coisa com Jesus, em razão da fé2• Ela é mãe dos discípulos e discípulas de Jesus que somos todos nós.

Através da palavra do Filho: “Enchei de água as talhas” e eles encheram e ainda: “Tirai e levai ao mestre sala”. Há a transformação da água em vinho. Só Jesus podia mudar a água em vinho e transformou. O vinho significa os bens messiânicos: sua palavra, seus milagres, sua salvação, sua presença no meio dos homens. É ele o vinho novo que quer continuar a dar sentido à nossa vida. Sem o vinho que ele nos trouxe a nossa vida fica mais pobre, fica sem sentido, nós vamos perdendo o brilho nos olhos. A festa da nossa vida vai ficando sem sentido. Quando o vinho vem a faltar a tristeza toma conta, a desunião, as desavenças. Sem o vinho de Jesus Cristo vamos perdendo os grandes referenciais da vida humana, pois só “Nele o ser humano encontra o verdadeiro sentido da vida humana”. Em Cristo, o homem encontra o que é ser homem. Nele, o ser humano encontra o seu caminho, pois o mistério de Cristo revela ao homem o que é ser homem, pois Cristo é o homem segundo o projeto de Deus. A um homem que corre o risco de perder o sentido do que é ser homem, pois vai perdendo a sua origem e o seu destino, a Igreja lhe apresenta Cristo, ele é o sentido do homem. Somente Nele, encontramos a nossa verdadeira vocação. É preciso, na festa do nossa vida ter os olhos fixos em Jesus Cristo. É preciso viver da beleza de Cristo, testemunhá-lo, contemplá-lo. São João Paulo li diz que “o nosso testemunho será pobre se não formos antes, contempladores do rosto de Cristo”. Sermos contempladores do rosto de Cristo, aqui está o segredo para o caminho da nossa vida e para o nosso caminho de Igreja arquidiocesana.
Talvez, neste momento de escolha do novo presidente, de polarização, que em si não é um mal, mas que está dividindo as famílias, criando ódio, peçamos à mãe que interceda por nós: “Eles não têm mais vinho”. Que nos dê o vinho da unidade, da convivência fraterna, que nos ajude a nos respeitarmos nas nossas diferenças.
O Evangelho termina dizendo que naquela festa de casamento foi manifestada “a glória de Jesus e seus discípulos creram Nele”. Deus, no AT, revela a sua glória através das suas obras. Jesus, em Caná, através do milagre revela a sua messianidade, a sua divindade. Esta revelação conduz os discípulos à experiência da fé em Jesus. A fé nos dá a certeza de que não estamos sozinhos na vida do dia a dia, que o Senhor caminha conosco, que nos assiste, que é uma presença na nossa vida.
Nós temos uma mãe gloriosa no céu, mas que olha pelos seus filhos e filhas. Aparecida nos relembra isso, quando em 1717, o conde de Assumar, passava pela Vila de Guaratinguetá e deviam lhe oferecer um banquete. Vão pescar, mas não é tempo de pesca. Lançam as redes e apanham a imagem: primeiro o corpo, depois a cabeça. Mas não era uma simples imagem e Deus deu o sinal com a pesca dos peixes em seguida. A partir daquele fato, a presença materna de Maria na vida dos brasileiros se encheu de luz. Sentimos que a sua presença materna caminha conosco. Sentimos que na festa da nossa vida há uma mãe, que sempre nos aponta para o seu Filho, para a sua vontade, que nunca deixa que falte o vinho da alegria, da esperança que o s
eu Filho nos trouxe, Amém.”

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF