Nossa Senhora Aparecida | catequizar |
Homilia de
Nossa Senhora Aparecida
“Estamos celebrando
Nossa Mãe, Nossa Senhora da Conceição Aparecida. O estarmos aqui, nesta grande
celebração, aos pés da Virgem Maria toca o profundo do coração de todos nós,
pois é a presença materna da Mãe: Mãe de Deus e Nossa Mãe. Sua presença,
através esta simples imagem de Aparecida, simboliza a ternura e a proximidade
de Deus para conosco. O nosso coração se enche de amor e dele, sai um canto
natural de louvor pela proximidade e presença da Mãe. O mistério da sua
presença materna toca o mais profundo do nosso ser. O amor nos leva a nos determos
diante da proximidade do mistério de Mãe, contemplá – La, desfrutar de sua
presença. Diante Dela nos sentimos acolhidos no peso da vida, diante das nossas
dores, sofrimentos, sonhos. Nosso coração se comove e a súplica sincera que
brota confiante é a expressão de um coração que renunciou à autossuficiencia,
reconhecendo que sozinho nada pode.
Maria é mãe e sua presença materna intercede a Deus por nós. A imagem da rainha
Ester que suplica ao Rei pelo seu povo preanuncia Maria, que como mãe intercede
por seus filhos e filhas, mas não diante do rei, mas diante daquele que é
Senhor da História, diante do seu Filho Jesus Cristo, rei do Universo.
Evangelho das Bodas
de Caná apresenta uma festa de casamento. Esta festa representa a Aliança de
Deus com a humanidade que se deu em Jesus Cristo. Uma festa de casamento que
representa a vida de cada um de nós nesta aliança com Deus; a vida pode ser
lida como uma festa e nesta festa está a Mulher, Maria. Ela é aquela que aponta
para o Filho a falta do vinho: “Eles não têm mais vinho”. O vinho tinha
acabado, Israel não tinha mais profetas que falavam em nome de Deus, não tinham
mais vinho. Também, na nossa festa, quantas vezes o vinho parece ter acabado.
Quando bate o sofrimento, a doença, a falta de dinheiro, os problemas, parece
que o vinho acabou. É preciso, nestes momentos ter a sua presença materna. Ela
sempre dirá ao Filho: “eles não têm mais vinho”.
O Filho, Jesus Cristo, lhe objeta: Minha hora ainda não chegou. Jesus está
falando do seu sacrifício, da sua morte na cruz. A cena que contemplamos no
Evangelho, está intimamente ligada à morte de cruz de Jesus. Esta é a hora de
Jesus. E nesta hora Ela estará aos pés da cruz e receberá a cada um de nós como
filhos e filhas. Ela é nossa mãe. Na hora que o seu Filho morria, Ele nos deu a
sua mãe como nossa mãe. Ela é nossa mãe. Diante dela, é preciso nos sentirmos
filhos e filhas.
Mas a festa de Caná, continua e a mulher aponta para os servos, para aqueles
que estavam servindo: “fazei tudo o que ele vos disser”. Os servos, nesta cena,
são descritos com a palavra grega diakonos. Diakonos significa o discípulo.
Maria diz aos discípulos que façam tudo o que o seu Filho mandar. Aqui tem-se
um texto rico de significado. A mãe, nesta sena, nos aponta a vontade do Filho,
mas onde está contida a vontade do Filho? Onde encontrar a vontade do Filho? A
vontade do Filho se encontra nas Escrituras, na Palavra de Deus, principalmente
nos Evangelhos. A palavra de Deus deve estar presente na festa da nossa vida,
alimentando a nossa vida de seguidores e seguidoras de Jesus Cristo. Por isso,
a importância de se ler um pequeno trecho da Bíblia cada dia. Sugiro que você
leia e medite evangelho do dia. É a Palavra de Deus que vai formando o nosso
coração de amigos e amigas de Deus, muda a nossa vida e dá sentido ao ser e
agir, corrigindo posturas e aderindo ao modo de ser, de pensar e de agir de
Jesus Cristo”1.
Se na cena de Caná, a mulher (Maria) aponta para os discípulos a vontade do
Filho, na cruz Ela se torna mãe do discípulo. Há um crescente no papel da
Virgem Maria, que não é lembrada com o próprio nome (Maria), mas vem designada
por mulher. O uso do termo mulher, traz toda uma rica densidade. Mulher
relembra a Primeira mulher, Eva; relembra a Sião do Antigo Testamento. O sinal
de Caná da Galiléia é de natureza messiânica, isto é, se relaciona com a obra
do Messias, com a obra de Jesus Cristo.
Na economia da Nova Aliança, sancionada com o Mistério Pascal, a mãe de Jesus
se torna personificação da Nova Jerusalém, ou seja, da Filha de Sião à qual os
profetas dirigem seus vaticínios sobre os últimos tempos. E assim como na
linguagem bíblico-judaica Jerusalém, como também o povo eleito, eram geralmente
representados sob a imagem de uma “Mulher”, assim se compreende por que Jesus
se dirige à Mãe com o apelativo de “Mulher”. Em Maria, Jesus aponta a
personificação da Nova Jerusalém – Mãe, isto é, a Igreja Mãe. Temos uma
transposição da imagem da Jerusalém para a Mãe de Jesus. A Mãe de Jesus é mãe
universal dos filhos de Deus dispersos, unificados na pessoa de Cristo, que ela
revestiu de nossa carne no seu seio materno. Sendo Mãe de Jesus, aos pés da
cruz Maria é declarada Mãe dos que são uma só coisa com Jesus, em razão da fé2•
Ela é mãe dos discípulos e discípulas de Jesus que somos todos nós.
Talvez, neste momento de escolha do novo presidente, de polarização, que em si não é um mal, mas que está dividindo as famílias, criando ódio, peçamos à mãe que interceda por nós: “Eles não têm mais vinho”. Que nos dê o vinho da unidade, da convivência fraterna, que nos ajude a nos respeitarmos nas nossas diferenças.
O Evangelho termina dizendo que naquela festa de casamento foi manifestada “a glória de Jesus e seus discípulos creram Nele”. Deus, no AT, revela a sua glória através das suas obras. Jesus, em Caná, através do milagre revela a sua messianidade, a sua divindade. Esta revelação conduz os discípulos à experiência da fé em Jesus. A fé nos dá a certeza de que não estamos sozinhos na vida do dia a dia, que o Senhor caminha conosco, que nos assiste, que é uma presença na nossa vida.
Nós temos uma mãe gloriosa no céu, mas que olha pelos seus filhos e filhas. Aparecida nos relembra isso, quando em 1717, o conde de Assumar, passava pela Vila de Guaratinguetá e deviam lhe oferecer um banquete. Vão pescar, mas não é tempo de pesca. Lançam as redes e apanham a imagem: primeiro o corpo, depois a cabeça. Mas não era uma simples imagem e Deus deu o sinal com a pesca dos peixes em seguida. A partir daquele fato, a presença materna de Maria na vida dos brasileiros se encheu de luz. Sentimos que a sua presença materna caminha conosco. Sentimos que na festa da nossa vida há uma mãe, que sempre nos aponta para o seu Filho, para a sua vontade, que nunca deixa que falte o vinho da alegria, da esperança que o seu Filho nos trouxe, Amém.”
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