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O perigo das seitas
Uma seita (vem de sectário) é uma
dissidência ou um grupo fechado que julga estar o mundo corrupto, e pretende
ter a verdade como patrimônio seu e solução para todos os problemas da
humanidade. Os membros das seitas são geralmente submetidos a um regime autoritário,
imposto por um líder “iluminado”, que lhes dificulta o senso crítico. A
multiplicação de seitas em nossos dias se explica, em grande parte, por duas
causas:
1. o
individualismo subjetivista e relativista da mentalidade moderna a partir de
Martinho Lutero (século XVI);
2. a
insegurança do homem contemporâneo, que sente angústia diante da crise da
sociedade e se dá por feliz, quando alguém, em nome de um poder superior, o
acolhe e lhe propõe certezas e garantias (ainda que fantasiosamente fundamentadas).
Além disto, parece haver interesses
políticos estrangeiros a fomentar o avanço das seitas (PR n. 417, 1997, p. 56).
O Documento de Santo Domingo (CELAM,12/10/1992) se expressou sobre o perigo
atual das seitas:
“O problema das seitas adquiriu
proporções dramáticas e chega a ser verdadeiramente preocupante sobretudo pelo
crescente proselitismo” (n.139).
“As seitas fundamentalistas são
grupos religiosos que insistem que somente a fé em Jesus Cristo salva e que a
única base da fé é a Sagrada Escritura, interpretada de modo pessoal e
fundamentalista, com exclusão da Igreja, portanto, e insistência na iminência
do fim do mundo e juízo próximo.
Caracterizam-se por seu afã
proselitista mediante insistentes visitas domiciliares, grande difusão de
bíblias, revistas e livros; a presença e a ajuda oportunista em momentos
críticos da vida das pessoas ou das famílias e uma grande capacidade técnica no
uso dos meios de comunicação social. Contam com uma poderosa ajuda financeira
proveniente do estrangeiro e do dízimo obrigatoriamente pago por todos os
adeptos. Distinguem-se por um moralismo rigoroso, por reuniões de oração com um
culto participativo e emotivo, baseado na Bíblia, e por sua agressividade
contra a Igreja, valendo-se frequentemente da calúnia e do suborno. Ainda que o
seu compromisso com o social seja débil, orientam-se para a participação
política em vista à tomada do poder.
A presença dessas seitas religiosas
fundamentalistas na América Latina aumentou de maneira extraordinária de Puebla
até os nossos dias” (n. 140).
Cabe distinguir várias correntes ou
tipos de fenômeno:
a) Formas
paracristãs ou semicristãs, como Testemunhas de Jeová e Mórmons. Cada um destes
movimentos tem suas características, mas em comum manifestam um proselitismo,
um milenarismo e traços organizativos empresariais;
b) Formas
esotéricas que buscam uma iluminação especial e compartilham conhecimentos
secretos e um ocultismo religioso. Tal é o caso de correntes espíritas,
rosa-cruz, gnósticos, teósofos, etc.
c) Filosofias
e cultos com facetas orientais, mas que rapidamente estão adequando-se ao nosso
continente, tais como Hare Krishna, a Luz Divina, Ananda Marga e outros, que
trazem um misticismo e uma experiência de comunhão;
d) Grupos
derivados das grandes religiões asiáticas, quer seja do budismo (seicho no iê,
etc.) do hinduísmo (yoga, etc.) ou do islã (baha’i) que não só atingem
migrantes da Ásia, mas também plantam raízes em setores de nossa sociedade;
e) Empresas
sociorreligiosas, como a seita Moon ou a Nova Acrópolis, que têm objetivos
ideológicos e políticos bem precisos, junto com suas expressões religiosas,
levadas a cabo mediante meios de comunicação e campanhas proselitistas, que
contam com apoio ou inspiração do Primeiro Mundo, e que religiosamente insistem
na conversão imediata e na cura, é onde estão as chamadas “igrejas
eletrônicas”;
f) Uma
multidão de centros de “cura divina” ou atendimento aos mal-estares espirituais
e físicos de gente com problemas e de pobres. Esses cultos terapêuticos atendem
individualmente a seus clientes.
Diante da multiplicidade de novos
movimentos religiosos, com expressões muito diversas entre si, queremos centrar
nossa atenção sobre as causas de seu crescimento e os desafios pastorais que
levantam.
São muitas e variadas as causas que
explicam o interesse que despertam em alguns. Entre elas se devem assinalar:
a) A
permanente e progressiva crise social que suscita certa angústia coletiva, a
perda de identidade e o desenraizamento das pessoas.
b) A
capacidade destes movimentos para adaptar-se às circunstâncias sociais e para
satisfazer, momentaneamente, algumas necessidades da população. Em tudo isto
não deixa de ter certa presença a curiosidade pelo inédito.
c) O
distanciamento da Igreja de setores – populares ou abastados – que buscam novos
canais de expressão religiosa, nos quais não se deve descartar uma evasão dos
compromissos da fé. Sua habilidade para oferecer aparente solução aos desejos
de “cura” por parte dos atribulados.
Nosso maior desafio está em avaliar a
ação evangelizadora da Igreja e em determinar desse modo a quais ambientes
humanos chega ou não essa ação.
a) Como
dar uma resposta adequada às perguntas que as pessoas se fazem sobre o sentido
de sua vida, sobre o sentido da relação com Deus, em meio à permanente e
progressiva crise social.
b) Adquirir
um maior conhecimento das identidades e culturas dos nossos povos. (n.141).
Falando a um grupo de bispos do
Brasil, em visita “ad limina apostolorum”, em 05/9/1995, em Roma, o Papa João Paulo
II destacou o desafio que as seitas significam hoje para a Igreja na América
Latina.
Referindo-se às seitas, o papa disse
que na América Latina deparamo-nos “com o grave problema das seitas, que se
expandem, como uma mancha de óleo, ameaçando fazer ruir a estrutura de fé de
tantas nações (…)”.
A América Latina é maciçamente
católica, graças a Deus, em vista da nossa colonização levada a efeito por
Portugal e Espanha, dirigidos na época por reis católicos. É o maior continente
católico do mundo. Cerca de 80% dos latino-americanos são católicos; na Europa
60%, na Oceania 25%, na África 15% e na Ásia apenas 5%.
Mas esta feliz hegemonia católica,
agora, segundo o Papa, está sendo ameaçada pelas seitas. Ele reafirmou o que já
tinha dito na Carta encíclica Redemptoris missio:
“Certamente a expansão das seitas
constitui uma ameaça para a Igreja Católica (…)” (RM,50).
O Papa disse que na Conferência de
Santo Domingo (outubro de 1992), ficou claro para os bispos o seu perigo:
“O Documento final descreveu com clareza
e precisão essas seitas e movimentos, mostrou suas características e modos de
atuar, deixou claro os interesses políticos e econômicos envolvidos na sua
expansão em todo o Continente (…)” (Conclusões do IV CELAM, nn.139-152).
Vemos, portanto, que há claros
interesses políticos e econômicos envolvidos, cujo objetivo é quebrar a
hegemonia católica da América Latina, e transformá-la, como dizem, no maior
Continente “ex-católico” do mundo.
O CELAM (Conferência do Episcopado
Latino-Americano) apresentou, em 1990, um documento elaborado pelos
protestantes, que mostra as estratégias para tornar o mundo inteiro
protestante. É o projeto Amanhecer, sagaz e inteligente, com 48 páginas,
publicado por Jim Montgomery, gerente-editor de Global Church Groth Bulletin e
diretor da Overseas Crusades, com sede na Califórnia. O Amanhecer traz o
subtítulo “Estratégias Evangélicas para a Tomada Missionária do Mundo e da
América Latina”. Na época, o CELAM alertou os bispos dizendo:
“É necessário que tomemos consciência
da existência de uma estratégia evangélica bem arquitetada para a tomada
missionária da América Latina, país por país (…). O que importa unicamente, é
crescer em número de fiéis e templos” (Revista Pergunte e Responderemos, n.
333, 1990, pp.78-87).
Portanto, o Papa não estava
exagerando quando falou em “ameaça para a Igreja Católica”.
Falando aos nossos bispos em Roma, ele
apontou os pontos principais do ataque à fé católica:
“É notória a intenção, por vezes
virulenta, destas seitas de minar as bases da fé do povo, de modo especial no
que diz respeito ao culto do Mistério Eucarístico e da Santíssima Virgem, à
estrutura hierárquica da Igreja e ao primado de Pedro, que perdura no pastoreio
universal do bispo de Roma, e às expressões da piedade popular”.
É notório que o Papa estava se
referindo também às seitas protestantes que se multiplicam a cada dia. E ele
questionou os bispos sobre as razões do crescimento delas:
“A difusão das seitas não nos
interroga se tem sido manifestado suficientemente o senso do sagrado?”.
O que o santo padre quis dizer com
esta pergunta? Será que os fiéis católicos, não têm ido para as seitas, porque
falta mais espiritualidade em nossas igrejas? Falta o senso do sagrado, que o
povo tanto preza. Por faltar este “sagrado” em nossas igrejas, o povo foi
buscá-lo nos templos protestantes.
Sabemos que durante muitos anos, a
Igreja no Brasil e na América, por causa da perigosa “teologia da libertação”,
de cunho marxista, dirigiu-se muito mais ao social, desprezando o espiritual e
deixando o povo à mingua da catequese. Agora paga um alto preço. O povo não
conhece a fé católica e é enganado facilmente pelos falsos profetas.
O Papa também falou sobre isso aos
nossos bispos:
“Ele [o povo católico] quer ver a
Igreja com as suas características religiosas, (…) que despertam a piedade e
levam à oração, ao recolhimento e à contemplação do mistério de Deus (…)”.
“Ele quer sentir nas músicas de
vossas Igrejas o apelo ao louvor de Deus, à ação de graças, à prece humilde e
confiante e se sente desconfortável quando esses cantos em sua letra envolvem
uma mensagem política ou puramente terrena, e em sua expressão musical não
apresentam a característica de música religiosa, mas são marcadamente profanos
no ritmo, na linha melódica e nos instrumentos musicais de acompanhamento”.
“O ministério da Palavra (…) contenha
sempre, do início ao fim, uma mensagem espiritual. É certo que muita gente não
possui o suficiente para acalmar a própria fome, mas, ordinariamente, o povo
tem mais fome de Deus do que do pão material, pois entende que “não só de pão
vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). Ver a
Igreja como Igreja, e não simples promotora da reforma social”.
Nesta mesma linha, ele falou aos
padres:
“Vosso povo, caríssimos irmãos no
episcopado, quer ver os padres como verdadeiros Ministros de Deus, inclusive na
sua veste e no seu modo externo de proceder. O que os homens querem, o que
esperam, é que o sacerdote com o seu testemunho de vida e com sua palavra, lhes
fale de Deus”.
Para enfrentar o “desafio” das seitas e
do secularismo, o Papa propôs, então, a Nova Evangelização:
“A evangelização a que a Igreja está
sendo chamada neste final de milênio deve ser, como tantas vezes tenho
repetido, nova em seu ardor, seus métodos e sua expressão”.
“Não estaria havendo uma certa
acomodação deixando de ir em busca das ovelhas que estão afastadas? Ao
contrário da parábola evangélica, não é uma e outra que está tresmalhada, mas é
uma parte do rebanho”.
E o Papa dá o remédio para a Igreja ir
buscar a “parte do rebanho” que foi embora para as seitas:
“Isso mostra, caríssimos irmãos, que
não basta chamar, convocar e esperar que as pessoas venham. Como diz outro lema
da ação pastoral de uma das vossas Dioceses, deveis ser ‘uma Igreja que vai ao
encontro do Povo!’. Deveis ser uma igreja que procure as pessoas, que as
convide não somente no chamado geral dos meios de comunicação, mas no convite
pessoal, de casa em casa, de rua em rua, num trabalho permanente, respeitoso,
mas sempre presente em todos os lugares e ambientes”.
Mas há também entre nós muitas seitas
de origem oriental ou influenciadas pela Nova Era. Elas crescem, visivelmente,
em cima da ignorância religiosa do nosso bom povo católico, facilmente
influenciável por novos ventos de doutrina.
Muitas razões facilitam o crescimento
das seitas, especialmente os que gostaria de expor:
1. O relativismo religioso – que se vive hoje, onde as pessoas, por
falta de formação catequética, pensam que podem viver a fé e a moral “a seu
modo”, sem precisar do ensinamento da Igreja;
2. A difícil situação do mundo
atual – leva as pessoas a buscarem
desesperadamente a solução dos seus problemas no campo sobrenatural; o povo é
levado a buscar a fé, mas, muitas vezes em caminhos errados.
3. Secularismo – em poucas palavras pode ser expresso no que
dizia Leão XIII: “Deus foi expulso da vida pública”. Com isto o paganismo
retorna à sociedade, e esta precisa ser recristianizada.
4. Materialismo reducionista – para muitos hoje o que interessa é apenas
ganhar o pão, e vive-se, como disse o Papa João Paulo II, “como se Deus não
existisse”.
5. Destruição das famílias – que sempre foi o natural e primeiro berço
da fé católica. Os pais já não ensinam os filhos a rezar e não lhes ensinam a
doutrina católica.
6. Exigências morais do
catolicismo – muitos preferem seguir as seitas
porque elas apresentam uma moral cômoda, não exigente quanto a da Igreja,
especialmente no que se refere ao casamento, separação, divórcio, limitação da
natalidade, etc.
7. Esvaziamento político da fé – a politização da fé, especialmente por parte da
teologia da libertação, deixou o povo à mingua da catequese e dos valores
espirituais: oração, adoração do Santíssimo, sacramentos, terço, etc. Sem o
saudável misticismo o povo foi buscar Deus nas seitas.
Além dessas causas, nota-se que há
alguns fatores que dão origem às seitas, por parte do seu fundador. Muitas
vezes são pessoas que se julgam “iluminadas”; movidas por um fundamentalismo
bíblico que despreza a correta exegese (entendimento da Bíblia) e hermenêutica
(interpretação da Bíblia); um certo messianismo (mania de salvador do mundo);
autoritarismo, exibicionismo; forte emotividade e, às vezes, até chantagismo.
Em seguida, vamos apresentar de modo
resumido as religiões e igrejas cristãs e não cristãs, seitas orientais e
muitas outras crenças, superstições, etc., que não se coadunam com a fé
católica. Nosso objetivo não é desrespeitar a fé e a liberdade religiosa das
pessoas, mas apenas informar aqueles que são católicos para que vivam
coerentemente a sua fé. Usamos como fonte de consulta o vasto material que Dom
Estêvão Bettencourt, osb, publicou na revista Pergunte e Responderemos, ao
longo de muitos anos, o qual sou muito agradecido por me autorizar a usar
livremente os seus escritos.
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