Urna | Agência Brasil |
O VOTO
Dom
Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)
Neste
domingo, 2 de outubro, iremos às urnas para eleger o Presidente da República e
o Governante do nosso Estado, Senadores, Deputados Federais e Estaduais. Todos
são conscientes de que é um momento político especial, cheio de
significado. A Igreja, instituída por Jesus Cristo para o anúncio do Evangelho,
reconhece que a sua palavra não pode ser a apresentação de um Evangelho
desencarnado. Na verdade, a história da Igreja é longa na orientação de uma
relação clara e harmoniosa entre fé e vida, doutrina dogmática e doutrina
social. Ela, por natureza, não deve se envolver em “política
partidária”.
A
Igreja assume a sua posição, tanto no Concílio Vaticano II quanto na sua
Doutrina Social, de considerar o exercício da política como realidade de
altíssimo valor e necessário para o bom desenvolvimento da sociedade: “A
Igreja que, em razão da sua missão e competência, de modo algum se confunde com
a sociedade nem está ligada a qualquer sistema político determinado, é ao mesmo
tempo o sinal e salvaguarda da transcendência da pessoa humana” (CONCÍLIO
VATICANO II. Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium
et spes, n. 76). “A pessoa humana é fundamento e fim da convivência política.
Dotada de racionalidade, é responsável pelas próprias escolhas e capaz de
perseguir projetos que dão sentido à sua vida, tanto no plano individual como
no plano social” (PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ.
Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 384). A Igreja também afirma: “Considerar
a pessoa humana como fundamento e fim da comunidade política significa
esforçar-se, antes de mais, pelo reconhecimento e pelo respeito da sua
dignidade mediante a tutela e a promoção dos direitos fundamentais e
inalienáveis do homem” (PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Idem, n.
388). Sabemos que o clima fica sempre tenso quando temos que
exercitar a nossa cidadania com o voto. Ninguém desconsidera ou minimiza que a
política partidária gera paixões, sentimentos acalorados e, às vezes, até
extremos. Outras realidades em que escolhas, gostos, preferências por
determinados pontos de nossa convivência, geram esses sentimentos. Mas, nunca
podemos esquecer: somos cristãos. E para nós, ainda valem aquelas
formidáveis palavras do autor da Carta a Diogneto, escrita no século II: “Os
cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua,
nem pelos costumes. Nem, em parte alguma, habitam cidades peculiares, nem usam
alguma língua distinta, nem vivem uma vida de natureza singular…Casam
como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os recém-nascidos.
Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito. Encontram-se na carne, mas não
vivem segundo a carne. Moram na terra e são regidos pelo céu. Obedecem às leis
estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas. Amam todos e por todos
são perseguidos”.
Nunca
é demais ressaltar o magistério de Papa Francisco que nos orienta neste
caminho: “[política]poderia ser traduzido também como serviço inestimável de
dedicação para a consecução do bem comum da sociedade. A política é antes de
mais serviço; não é serva de ambições individuais, de prepotência de facções e
de centros de interesses. Como serviço, nem sequer é dona, pretendendo regular
todas as dimensões da vida das pessoas, recorrendo até a formas de autocracia e
totalitarismo” (FRANCISCO. Mensagem vídeo aos participantes no Encontro de
Políticos Católicos, organizado pelo Conselho Episcopal Latino-americano –
CELAM e pela Pontifícia Comissão para a América Latina – CAL. Bogotá/Colômbia,
1 a 3 de dezembro de 2017).
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