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A Religião Salva?
A Religião, entendida como
“instituição”, não salva. Só Jesus Cristo, segundo o protestantismo, salva…
Salva, porém, (dizem os católicos) mediante seu Corpo Místico, que é a
Igreja-instituição.
A Religião, que consiste em aderir à
Igreja, vem a ser o sacramento pelo qual passa a salvação vinda de Cristo. A
instituição que goza da assistência de Cristo, resguarda os fiéis contra o
subjetivismo, que tende a destruir a mensagem revelada. Está claro, portanto,
que a fé será sempre o princípio dinamizador da vida do cristão na Igreja.
No diálogo ecumênico os
interlocutores protestantes apresentam a pergunta: “Religião salva?”. Pergunta
à qual dão resposta negativa. Esta atitude merece consideração.
1. O problema
Eis a mensagem enviada a Pergunte e
Responderemos (via internet):
“As palavras de Tiago, irmão do
Senhor, líder espiritual da Igreja primitiva em Jerusalém, martirizado pelos
judeus no ano 62, nos ensinam o que é religião:
“A religião pura e sem mácula, para
com o nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações, e conservar-se puro da mundo desse mundo” (Tg 1,27).
Religião, portanto, é algo pessoal,
que se desenvolve em duas dimensões: a dimensão humana, terrena, na qual
movidos por amor ao próximo e compaixão pelos necessitados, nós os auxiliamos
em suas tribulações (na sociedade judaica da época, por exemplo, os órfãos e as
viúvas eram os necessitados). A outra dimensão é a espiritual – à qual nos
relacionamos diretamente com o Deus e Pai, guardando-nos daquilo que o mundo
nos oferece e, por consequência, pode causar nossa corrupção de caráter e
contaminação da alma. Seremos, portanto, maculados e afastados de Deus.
Vemos, então, que o coração da
verdadeira religião não se manifesta na institucionalização de dogmas, credos
ou ritos, mas na prática cotidiana do amor, porque “Deus é amor” e a sua lei é
o amor. Como ensinou Jesus Cristo, nosso Salvador, a lei de Deus se resume:
‘Amarás o Senhor teu Deus, de todo o
teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu
entendimento; e amarás o teu próximo como a ti mesmo’ (Lc 10,27).
Porque Deus é único, e cada um de nós
somos seres únicos, o que Ele espera de nós é que, por meio de Jesus Cristo, a
cada dia vivamos esta religião pura e sem mácula”.
Dizem outros: a Religião é um
conjunto de crenças, leis e práticas codificadas, aptas a atrofiar a fé,
suscitando a impressão de que a pessoa religiosa pode obter efeitos mágicos.
Em nossos dias é o protestantismo
neo-pentecostal que professa tais ideias, tendo em vista esvaziar os conceitos
de Igreja e o Magistério da Igreja em favor da tese do livre-exame da Bíblia: a
cada crente se confere o direito de configurar o Cristianismo a seu modo, já
que “Religião-lgreja” não salva ninguém.
Perguntamos:
2. Que dizer?
Proporemos seis observações a
respeito:
1) Sem
dúvida, a fé é o dínamo da vida espiritual; é a fonte de toda prática religiosa
(Cf. Rm 1,17: “o justo vive da fé”).
2) O
princípio “Somente a fé” acarreta o risco do subjetivismo religioso alimentado
pela prática do livre-exame da Bíblia; assim vai-se dilacerando cada vez mais o
patrimônio da fé ou da Revelação Divina, como acontece nas comunidades dos
Mórmons e das Testemunhas de Jeová, por exemplo.
3) Para
conter o subjetivismo esvaziador, faz-se necessária uma instância objetiva, que
paire acima dos subjetivismos ou dos “achismos (eu acho que…)” que é a Igreja
com seu Magistério assistido pelo Espírito Santo; (cf. Jo 14, 25s). A Igreja é
Mãe e Mestra, que tem a promessa da infalibilidade em matéria de fé e de Moral.
4) Mais:
o Cristianismo não é simplesmente uma escola, na qual o mestre dá as suas aulas
e vai embora. Cristo não é somente um Mestre martirizado. É um tronco de
videira, da qual nós somos os ramos (cf. Jo 15,1-5); é Cabeça de um Corpo, do
qual somos os membros (cf. 1Cor 12, 12-20). Ele continua vivo e atuante na
Terra mediante os sacramentos: o Sacramento da Igreja, que prolonga o
Sacramento da Encarnação e que se estende a cada cristão através dos sete
sacramentos da Liturgia. Em outros termos: Deus se dá aos homens não de maneira
meramente privada e individualista, mas mediante sinais, que são a humanidade
de Jesus, o Corpo de Cristo que é a Igreja, e os sete sinais sacramentais
(água, pão, vinho, gestos, palavras), que perfazem o que se chama uma
instituição. Esta é indispensável para que haja ordem numa sociedade.
5) Está
claro que somente Jesus Cristo salva, mas Ele quer salvar mediante a Igreja, da
qual Ele é Cabeça, Igreja que professa o seu Credo, tem seu Código de Moral e
seus ritos sagrados… Este conjunto institucional não sufoca a fé, mas a
preserva contra o subjetivismo deteriorante.
6) Para
preencher seu papel de instrumento da salvação, a Religião ou a religiosidade
do cristão há de ser esclarecida e consolidada mediante a leitura e o estudo,
preservando-a de cair na superstição e no sincretismo. Cada fiel católico
saberá avaliar as modalidades de aprofundamento da fé de que precisa.
Eis em que termos se pode dizer que,
se a Religião não salva, Ela é ao menos indispensável instrumento de salvação.
Revista Pergunte e Responderemos, n. 518. Agosto de 2005.
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