Editora Cidade Nova |
“Bem-aventurados os
misericordiosos, pois eles alcançarão misericórdia.”(Mt 5,7) | Palavra de Vida
Novembro 2022
por Letizia Magri publicado em 28/10/2022
NO EVANGELHO de
Mateus, o Sermão da Montanha é colocado logo após o início da vida pública de
Jesus. A montanha é vista como símbolo de um novo Monte Sinai no qual Cristo,
novo Moisés, oferece a sua “lei”. O capítulo anterior fala de grandes multidões
que começaram a seguir Jesus e às quais Ele dirigia seus ensinamentos. Ao passo
que neste discurso, Jesus fala aos discípulos, à comunidade nascente, àqueles
que mais tarde seriam chamados de cristãos. Ele introduz o “Reino dos Céus”,
que é o tema central da pregação de Jesus1. As Bem-Aventuranças representam o
manifesto programático da sua pregação, a mensagem da salvação, a síntese de toda a Boa Nova, que é a revelação do amor salvífico
de Deus2.
“Bem-aventurados os
misericordiosos, pois eles alcançarão misericórdia.”
O que é
misericórdia? Quem são os misericordiosos? A frase é introduzida pela palavra
"bem-aventurado(s)"3, que significa feliz, afortunado, e também
assume o significado de ser abençoado por Deus. No texto, entre as nove
bem-aventuranças, esta se encontra na posição central. Elas não querem
representar comportamentos que serão recompensados, mas são verdadeiras
oportunidades de alguém se tornar um pouco mais semelhante a Deus. De modo
especial, os misericordiosos são aqueles cujos corações estão cheios de amor
por Ele e pelos irmãos e irmãs, um amor concreto que se inclina para os
últimos, os esquecidos, os pobres, para aqueles que necessitam desse amor
altruísta: com efeito, a Misericórdia é um
dos atributos de Deus4; o próprio Jesus é misericórdia.
“Bem-aventurados os
misericordiosos, pois eles alcançarão misericórdia.”
As Bem-Aventuranças
transformam e revolucionam os princípios mais comuns de nosso modo de pensar.
Elas não são apenas palavras de consolação, mas têm o poder de mudar o coração,
têm o poder de criar uma nova humanidade, tornam eficaz o anúncio da Palavra. É
preciso viver a bem-aventurança da misericórdia também em relação a si mesmo,
reconhecer-se necessitado daquele amor extraordinário, superabundante e imenso
que Deus reserva para cada um de nós.
A palavra
misericórdia5 vem do hebraico rehem, “ventre”, e evoca uma misericórdia divina sem limites,
como a compaixão de uma mãe por seu filhinho. É um amor que não mede, mas é
abundante, universal, concreto. Um amor que procura suscitar a reciprocidade,
objetivo principal da misericórdia. [...] Então, se tivermos sofrido uma ofensa, seja ela qual for,
uma injustiça de qualquer tipo, perdoemos, e seremos perdoados. Sejamos os
primeiros a usar de piedade, a mostrar compaixão! Embora pareça difícil e
ousado, perguntemo-nos, diante de cada próximo: como o trataria a mãe dele?
Este é um pensamento que nos ajuda a entender e a viver em conformidade com o
coração de Deus6.
“Bem-aventurados os
misericordiosos, pois eles alcançarão misericórdia.”
Após
dois anos de casamento, nossa filha e seu marido decidiram se separar. Nós a
recebemos de volta em casa e, nos momentos de tensão, procuramos amá-la sendo
pacientes, com o perdão e a compreensão em nossos corações, mantendo uma
relação de abertura diante dela e de seu marido, sobretudo procurando não
julgar. Após três meses de escuta, de ajuda discreta e de muitas orações, eles
voltaram a conviver, com uma nova consciência, confiança e esperança7.
De fato, ser
misericordioso é mais do que perdoar. É ter um coração grande, é estar ansioso
por apagar tudo, queimar tudo o que possa dificultar o nosso relacionamento com
os outros. O convite de Jesus para sermos misericordiosos quer oferecer um modo
de nos reaproximarmos do projeto original, de modo que possamos nos tornar
aquilo que era o objetivo para o qual fomos criados: sermos imagem e semelhança
de Deus.
1) Cf. Mt 4,23 e 5,19-20.
2) LUBICH, Chiara.
Um amor materno. Palavra de Vida, novembro de 2000.
3) Em grego: makarios/makarioi, palavra usada tanto para descrever
uma situação de sorte, de felicidade dos seres humanos, como para indicar a
condição privilegiada dos deuses com relação à dos seres humanos.
4) Em
hebraico: hesed, isto é, amor desinteressado
e acolhedor, pronto a perdoar.
5) Em
hebraico: rahamim.
6) Cit., LUBICH,
Chiara. Um amor materno. Palavra de Vida, novembro de 2000.
7) Experiência que
se encontra no site
Por
Letizia Magri
Nenhum comentário:
Postar um comentário