Cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil |
O
cuidado de si necessita do outro, a partir dos círculos mais próximos de
relacionamentos, como a família. A experiência de ser amado é fundamental na
superação de enfermidades, especialmente quando se trata de distúrbios de cunho
psicológico.
Cardeal Sergio da Rocha - Arcebispo de São
Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
O cuidado da pessoa tem incluído, sempre mais, a
atenção à saúde, apesar das dificuldades constatadas na prevenção de
enfermidades e no atendimento médico-hospitalar. É preciso considerar a pessoa
humana com suas várias dimensões, que não devem ser descuidadas, incluindo-se a
emocional e a espiritual, que nem sempre recebem a devida atenção.
Infelizmente, muitas vezes, a busca de ajuda ocorre quando já se instalou ou
agravou uma enfermidade. As dificuldades de acesso aos serviços de saúde e os
seus altos custos pesam bastante, agravando situações que poderiam ser
prevenidas ou tratadas no devido tempo.
Embora seja sempre necessário o papel de cada um no
cuidado da própria saúde, é muito importante a atenção das pessoas mais
próximas, como familiares, amigos e colegas de trabalho. A ajuda fraterna
respeitosa, sem alarmismos, pode contribuir bastante para que alguém possa
reconhecer quadros de enfermidade e a buscar o devido tratamento, sem medo ou
vergonha. A presença amiga e solidária é sempre muito importante junto de quem
passa por situações de maior fragilidade na saúde, mas a ajuda especializada
pode ser muito necessária.
Os casos de depressão, ansiedade e estresse
aumentaram no contexto da pandemia. As incertezas, o medo, a enfermidade ou
morte de familiares e amigos, as dificuldades econômicas, têm repercutido na
vida das pessoas, afetando também a saúde mental. Dentre os diversos fatores
importantes de proteção da saúde mental estão o sentido dado à própria
existência, a redescoberta do valor e da alegria de viver e as atividades
religiosas. No campo da espiritualidade têm sido revalorizados, hoje, a
meditação, o silêncio e a oração, assim como a participação numa comunidade
fraterna e acolhedora.
O
cuidado de si necessita do outro, a partir dos círculos mais próximos de
relacionamentos, como a família. A experiência de ser amado é fundamental na
superação de enfermidades, especialmente quando se trata de distúrbios de cunho
psicológico. O amor que se expressa no cuidado de quem sofre contribui para a
cura. Não podemos cansar de amar quem passa por momentos de angústia e
depressão e necessita de maior atenção fraterna e de cuidados. Amigos,
familiares e profissionais de saúde compartilham a tarefa bela e exigente de
cuidar. Contudo, os problemas não se restringem ao interior das casas ou
ambientes de trabalho. Merecem especial atenção, dentre outros, os que estão
abandonados nas ruas, os que estão nas prisões e quem está em situação de extrema
pobreza. As doenças mentais não implicam em menor dignidade humana ou menos
direito à assistência médica. É necessário olhar com mais atenção e cuidar da
vida fragilizada pelas enfermidades, com especial atenção aos problemas de
saúde de cunho psiquiátrico ou psicológico.
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